Maputo (IKWELI) – O Professor Adriano Nuvunga, director do Centro para Democracia e Desenvolvimento (CDD) e um dos académicos mais renomados da actualidade em Moçambique, recorda, em carta aberta, que o bispo Carlos Matsinhe, presidente da Comissão Nacional de Eleições (CNE), que ter-se abstido em votar na sessão que aprovou a acta de aprovação do apuramento geral das eleições autárquicos de 11 de outubro corrente não passa de um acto de cobardia.
“Bispo Carlos Matsinhe está fazendo à democracia moçambicana o que Pilatos fez ao inocente Jesus – autorizou a sua morte. Após uma interrogação pública e minuciosa, Pilatos achou a verdade quanto as acusações que pesavam sobre Jesus. No entanto, e para o espanto dos seguidores de Jesus, o governador Pilatos, usando do seu poder e movido pela defesa do seu cargo, negou a verdade e entregou Jesus à crucificação – uma morte deveras bárbara e vergonhosa (Joao 23:1-23)”, começa por escrever Nuvunga, prosseguindo que “a não assinatura, pelo Dom Carlos Matsinhe, da acta de aprovação das eleições autárquicas de 2023 não foi apenas uma omissão, mas uma flagrante traição à confiança do povo moçambicano. Como Líder da Comissão Nacional de Eleições, era sua responsabilidade garantir um processo transparente, justo e imparcial. Ao evitar esta responsabilidade, conferiu legitimidade a uma vitória fraudulenta e criminosa ao Partido Frelimo, alimentando as suspeitas e cepticismo que corroem a fé do povo na democracia”.
Segundo a carta do Prof. Nuvunga, “o impacto dessa omissão não é meramente político ou ideológico; já tem um custo humano tangível e doloroso. Devido à confusão e tensões geradas por esta acção, mais de 4 pessoas já morreram, enquanto outras cerca de 30 ficaram feridas, algumas gravemente. Estes são cidadãos moçambicanos que buscavam apenas exercer os seus direitos democráticos e agora pagam o preço pela indiferença do presidente do CNE . A legitimidade duvidosa que envolve estas eleições, reforçada pela inacção do Bispo Dom Carlos Matsinhe, não apenas mancha a integridade do processo eleitoral, mas também coloca em risco a segurança e o bem-estar do povo moçambicano. Este é um lembrete sombrio de que as acções, ou a falta delas, de figuras influentes têm consequências reais e, às vezes, devastadoras”, tanto que “é um acto que o Livro de Provérbios 17:15 condenaria, afirmando que “quem justifica o ímpio e quem condena o justo são ambos abomináveis ao SENHOR”. Este versículo é uma lembrança de que não há neutralidade quando a justiça está em jogo. Abster-se é tomar partido. E o partido que o Senhor escolheu, “Bispo” Dom Carlos Matsinhe, é o da conveniência sobre a consciência”.
“Quando olhamos para a vida de Jesus Cristo, vemos um líder que estava constantemente desafiando as normas estabelecidas em prol da verdade e justiça. Ele não se calou diante da hipocrisia e corrupção, mesmo quando isso significou enfrentar as autoridades mais poderosas do seu tempo. Em Marcos 11:15-17, Jesus, zeloso da coisa sacrossanta, expulsou os cambistas do templo, expondo a corrupção no lugar mais sagrado. O seu silêncio e inacção, Dom Carlos Matsinhe, contrapostamente, soam como uma aceitação tácita da corrupção na esfera política. Quando alguém que deveria ser um bastião da verdade e justiça falha em sua missão, não apenas a estrutura da integridade é abalada, mas o próprio tecido da nossa democracia multipartidária é rasgado”, aponta o académico, concluindo que “Bispo Carlos Matsinhe, enquanto presidente do CNE, negou a verdade e a democracia. Pelo que, o povo exige sua demissão, Senhor Bispo”. (Redação)