Nampula (IKWELI) – Só em 2020, o cancro do colo de útero causou um total de quatro mil mortes em todo o país, com uma incidência de cerca de três mil casos. De forma a combater esse mal, nove de um total de 16 mulheres serão submetidas a cirurgias no Hospital Central de Nampula (HCN), maior unidade sanitária da região norte de Moçambique.
Trata-se de uma campanha de cirurgia que acontece pela primeira vez na província, com intervenção de médicos moçambicanos, a mesma terá a duração de cinco horas e consiste na remoção do útero, parte da vagina, trompas, assim como ovário dependendo da idade da mulher.
Maria de Aibo, de 42 anos de idade e natural da província do Niassa, distrito de Cuamba, é uma das 16 beneficiárias da campanha para a remoção do cancro no colo do útero. A mesma disse que descobriu a doença em 2020.
Na altura não sabia do que se tratava, mas sempre que mantivesse relações sexuais com o seu parceiro surgiam corrimentos de sangue.
“Eu tenho um sangramento no útero, sempre que faço sexo nos primeiros momentos sangra. Mesmo que fique uma semana ou um mês sem fazer, no dia que faço sai sangue como se fosse a primeira vez”, explicou.
Segundo a fonte, mesmo com os problemas no útero, ficou grávida e, em 2021 nascia a sua quarta filha.
“Mas mesmo assim, o problema persistia. Fui a uma unidade sanitária lá em Cuamba, mas eles disseram que a doença já havia atingido 70 por cento e eles não tinham equipamento para que eu pudesse fazer o tratamento. Fui transferida para o Hospital provincial de Lichinga e a situação era a mesma. Foi assim que decidiram passar-me uma guia para fazer tratamento aqui no HCN”.
Uma semana após Maria chegar a unidade sanitária, eis que é recebida pela boa nova, uma equipa de médicos deslocou-se a província para operar mulheres que se encontram na mesma situação que ela.
“Se eu tivesse demorado não teria essa chance. Estou muito feliz, não vejo a hora desse pesadelo acabar. Não desejo isso para nenhuma mulher, por isso aconselho-as a sempre prestar atenção aos sinais que o corpo apresenta”, disse.
A médica cirurgiã oncológica, Dércia Changule, disse tratar-se de uma campanha que prevê operar 16 mulheres, mas que no momento, apenas nove foram preparadas para serem submetidas ao processo. Segundo a médica, o cancro do colo de útero tem cura, entretanto, é importante que as mulheres façam um rastreio a partir dos 25 anos de idade.
“O cancro é altamente prevenível, mas para a prevenção, temos que fazer o rastreio, e, em todas as unidades sanitárias do país é possível fazer o rastreio. A mulher, a partir dos 25 anos, deve deslocar-se a unidade sanitária próxima e pedir para fazer o rastreio do colo do útero para que seja detectado ainda numa fase inicial e poder garantir-se a cura, ou então se, ela já tiver o cancro do colo do útero invasor, pode ser curado através de uma cirurgia, apesar de complexa é possível realizar”, explicou a médica.
Changule disse que apesar de já terem sido feitas cirurgias ao nível da província de Maputo, esta é a primeira campanha do género, encabeçadas por uma equipa de médicos moçambicanos.
“Maputo já vem fazendo em parceria com médicos estrangeiros, pretendemos organizar o serviço além do hospital central, que é para podermos também, oferecer tratamento aos pacientes das outras províncias”, disse.
Por sua vez, a também médica cirurgiã oncológica, Regina Rangeiro, acrescentou que, após a operação, as pacientes serão submetidas a dois processos de recuperação.
“A paciente faz a cirurgia, mas dependendo do resultado ela precisa de fazer quimioterapia e radioterapia. A quimioterapia temos aqui disponíveis no hospital de Nampula, mas a radioterapia só está disponível em Maputo no hospital central, por isso que é um tratamento complexo. Uma equipa multidisciplinar vai garantir este tratamento de sucesso para as mulheres”.
Para a campanha de cirurgia, foram formados três médicos moçambicanos, com destaque para duas mulheres, Dércia Changule e Ricardina Rangeiro.
“Neste momento somos três. Fizemos o treinamento no Hospital Central de Maputo desde 2017, fomos formados em 2020 e desde então nós temos feito as cirurgias sem a presença dos médicos especialistas estrangeiros. No entanto, existe essa necessidade de se aumentar o número de cirurgiões ginecologistas oncológicos, porque a necessidade que o país apresenta em termos de tratamento para este tipo de cancro é muito alto”, afirmou.
Ricardina Rangeiro afirmou estar feliz por ela ser uma mulher que irá resolver o problema de uma outra mulher, “poder garantir que essa mulher continue a dar assistência a sua saúde, família e ao seu trabalho para nós, sendo mulheres, é algo extremamente importante. Por isso, estamos preparadas sim e, agradecemos ao ministério da Saúde, ao programa nacional do cancro e a província de Nampula por ter preparado estas doentes e, vamos trabalhar”, salientou.
A campanha que terá a duração de uma semana, irá abranger mulheres das províncias do Niassa, Cabo Delgado bem como de alguns distritos de Nampula. (Ângela da Fonseca)