Nampula (IKWELI) – Filomena Mutoropa, ou simplesmente “mamã Mutoropa”, como é carinhosamente tratada na esfera política nacional, em particular na cidade de Nampula, volta a concorrer para o cargo de Presidente do Conselho Municipal da Cidade de Nampula, pelo Partido Humanitário de Moçambique (PAHUMO), tendo como um dos focos resgatar as mentes das mulheres.
Nascida a 9 de Outubro de 1959 (64 anos), no posto Administrativo de Mutuali, no distrito de Malema, na província de Nampula, Filomena Mutoropa revela-se uma das mulheres super “quentes” na política moçambicana.
Actualmente é membro do Partido Humanitário de Moçambique (PAHUMO) com o qual nas últimas eleições municipais concorreu a presidência do Conselho Municipal de Nampula, precisamente em 2013 e 2018, nas quais não teve resultados encorajadores.
Aliás, nas autárquicas de 2013, Filomena Mutoropa conseguiu um assento na Assembleia Municipal da Cidade de Nampula, naquele ano em que sua figura ficou conhecida a nível nacional e internacional quando explodiu em choros depois de aperceber-se que o seu nome não constava no boletim de voto, o que conduziu no cancelamento e remarcação da data de votação do escrutínio ganho pelo malogrado Mahamudo Amurane.
Já nas eleições de 2018, recorde-se, Filomena Mutoropa e PAHUMO não tiveram assento na Assembleia Municipal da Cidade de Nampula, fazendo com que seu contributo não se fizesse sentir no mandato prestes a findar.
Apesar de uma aparente falta de confiança do eleitorado de Nampula, com base nos resultados dos últimos pleitos, para as eleições de 11 de Outubro do ano em curso, Filomena Mutoropa confirma ser cabeça-de-lista do PAHUMO, na esperança de que os munícipes de Nampula, em particular a mulher, tenha ganho juízo sobre a necessidade de entregar o poder a uma mulher para a defesa dos interesses de todos moradores daquela considerada terceira maior cidade de Moçambique.
“Nós realmente concorremos, tivemos essa oportunidade de correr nesta maratona que vem aí, apesar de ser algo muito difícil, mas nós estamos aí”, confirmou Mutoropa exclusivamente ao Ikweli.
Filomena Mutoropa frisou que uma das razões de voltar a concorrer, mesmo aos 64 anos de idade, é o desejo que tem de ver a mulher moçambicana, particularmente de Nampula, respeitada e valorizada como alguém capaz de fazer bem as coisas, mas lamenta o facto de as mulheres, sobretudo, não apostarem nela no dia de votação.
“De certeza, essa é uma grande preocupação, e tem sido uma pergunta frequente nos workshops que temos participado, sobre porquê, mesmo sabendo que Nampula tem muita mulher, não têm apostado noutra mulher no dia de voto, sabendo que temos tentado abrir os olhos das mulheres. Nós também temos dificuldades em como responder porque Nampula é uma província que toda a gente conhece e nós somos pessoas de Nampula. Talvez a mulher pensa que se seguir a Mutoropa pode haver uma repreensão, quer pelo seu marido, quer na vizinhança, no partido, elas se sentem intimidades, não se sentem livres”, lamentou Filomena Mutoropa, cabeça-de-lista do PAHUMO.
“Realmente, maior número de mulheres, mesmo aquelas funcionárias querem fazer mudança, não conseguem porque tem um olho comprido, onde ela faz seu serviço e é controlada. Então, há fragilidade nas mulheres como eu que ainda grito para elas de que vamos abrir os olhos. Não só mãe porque é mãe, é mulher porque é dona de casa, não. Há previsão, levante-se, olhe em frente para o futuro dos seus filhos, dos seus netos porque nós temos nosso futuro e é esse que estamos a terminar”, precisou Mutoropa.
“As outras são aquelas que dizem; vou votar para ganhar o quê, porque ainda suas mentes não estão a perceber o porquê de estarmos a votar. Umas percebem que votar é mudança, elas querem mas são impedidas, não conseguem chegar, o seu grito termina no meio. Outras são aquelas que dizem votar ou não votar tudo para mim é igual. Então, aí quando estamos a minar a nossa mudança, e quando uma mulher como eu digo que levante-se mulher e vamos para a frente, a mulher não está lá e eu consigo ter duas mulheres e eu choro mesmo. Nos workshops quando me perguntam, antes de eu responder, primeiro caem-me lágrimas”, acrescentou a fonte.
Os partidos políticos não consideram as mulheres
Numa outra abordagem, Filomena Mutoropa entende que os partidos não estão a considerar as capacidades da mulher. Para ela, não faz sentido que seja a única mulher, novamente a concorrer sozinha nas eleições do próximo dia 11 de Outubro.
Aliás, a cabeça-de-lista do PAHUMO, precisou que uma das razões que a leva a concorrer, aos 64 anos de idade, é por não ver surgir uma outra mulher que se mostre forte e concorra para presidente do município da cidade de Nampula, independentemente que seja de outro partido político.
“Há partidos que desprezam as mulheres. Nós gostaríamos que na Assembleia fosse maior o número de mulheres, e candidaturas, mas o homem sempre continua a espezinhar e os partidos políticos, mesmo aqueles que estão na Assembleia da República, ainda não tem uma visão, não estão a considerar a mulher. Então, eu estou a pedir aos partidos políticos para que não sejam assim, devem também valorizar a mulher porque é a mulher que está em frente do homem”, disse Mutoropa.
“Certamente, é procurar dignificar a mulher, é dizer a comunidade toda de que a mulher também vale e sentimos que na cidade de Nampula nunca a mulher mandou como Presidente do Município, o que se passa nesta cidade? Noutras cidades nós vimos, mas em Nampula não, mesmo eu correndo atrás dos homens sempre os homens me pisam e me deixam atrás. Então, certamente é isso que digo que temos que fazer levantar a mulher para que saibam esta tem a obrigação de fazer suas mudanças e, para isso, precisa de ir se juntar com uma outra mulher, nesse caso a Mutoropa”, prosseguiu a fonte.
“Eu não vou deixar de concorrer enquanto tiver saúde, porque o que irá me impedir é a saúde, mas enquanto tiver saúde eu vou correndo da mesma maneira. Em 2013 concorremos, tivemos aquele acento e ajudamos muito aqui na cidade. Em 2018 tivemos traição que não sabemos como e, esta vez, continuo para dizer a mulher, se você não quer ver a Mutoropa a concorrer ela ainda continua, se você está arrependida em 2018 por não ter votado esta mulher, este ano você tem que apostar nela, porque, juntas vamos vencer, fazer mudanças na nossa cidade e o país em geral porque se Nampula ganha uma mulher é porque o país também ganhou”, entende a nossa entrevistada.
Por outro lado, Mutoropa disse reconhecer que a sua idade pode não lhe permitir estar no activo por muito tempo, pelo que o sangue novo feminino é necessário, para dar continuidade aos trabalhos. “Porque a nossa idade de 64 não é fácil ter boa saúde, então alguma coisa muda, mas mesmo com a mudança, eu não estou satisfeita porque eu queria deixar uma mulher nova a dar continuidade disto. Mas como eu não percebi o que está se passando dentro da cidade, qual é a mulher que vai defrontar com a Mutoropa desta vez. Enquanto não houver nenhuma mulher, saiba que você mulher ainda está a dormir, ainda não levantou. Eu queria que desta vez houvesse uma mulher para defrontar com a Mutoropa e eu estaria muito satisfeita, porque saberia que o futuro se continuar a concorrer tem uma mulher que vai em frente para levantar as outras mulheres”, almeja Filomena Mutoropa. (Constantino Henriques)