Nampula (IKWELI) – Os Serviços de Educação, Juventude e Tecnologia (SDEJT) no distrito de Nampula, no norte de Moçambique, estão preocupados com o aumento de casos de consumo de droga e bebidas alcoólicas nos estabelecimentos de ensino, sobretudo secundário.
Silvério Canate, director de SDEJT de Nampula, encara isso como um desafio para o sector que dirige, mas atribui a culpa aos estabelecimentos de venda desses produtos, precisamente barracas e “bottle stores”, que operam nas imediações das escolas.
Esta fonte apela aos pais e encarregados de educação para que sejam mais vigilantes, de forma a ajudarem as escolas a lidar com o fenómeno.
Canate diz que os maiores consumidores de drogas e bebidas alcoólicas são adolescentes e jovens, com idades compreendidas entre os 13 e 18 anos de idade.
“Este é uma realidade que está a acontecer no distrito e, o sector de educação trabalha em coordenação com o Gabinete Provincial de Prevenção e Combate a Droga, em volta deste assunto. Tivemos uma reunião, onde convidamos todos os directores das 15 escolas secundárias que temos no distrito, mas muito antes disso, já tínhamos criado núcleos de combate a droga nas escolas, até distribuímos panfletos para difundir a informação nesses locais”, avançou a nossa fonte, anotando que “muita das vezes os que estão a ser ludibriados neste processo [de consumo de drogas e bebidas alcoólicas] têm sido alunos menores de idade, refiro-me aos das 7ª e 8ª classes e, por serem muito jovens acabam por entrar naquele mundo por pensar que a coisa é boa e mergulham nesse mundo”.
No entanto, disse que “para além das escolas vulneráveis conhecidas, outras aqui na cidade, principalmente primárias, desprovidas de vedação, são palco de entrada de marginais”, tanto que “ teremos que virar as atenções para as escolas primárias, uma vez que os alunos que transitam para o ensino secundário, têm se mostrado reincidentes na prática de consumo de drogas, o que revela que começaram o consumo ainda muito cedo”.
Ao todo, mais de 6 mil alunos aprendem a ler e a escrever em escolas sem vedação que os separa do ambiente da comunidade, por isso o director dos SDEJT de Nampula afirma que “pretendemos sensibilizar os alunos no sentido de entenderem que não é boa vida meter-se nessa situação de consumo de bebidas e drogas que destroem o cidadão e sociedade”.
Igualmente, a nossa fonte chama atenção da comunidade para colmatar este mal, pois maior parte do dia as crianças estão nos seus locais habituais de residência.
“Uma das coisas que devemos fazer é realizar uma reunião com pais e encarregados de educação para desenhar mecanismos para eliminar este mal. Já pedimos as autoridades policias para fazer rondas nos arredores das nossas escolas”, referiu.
O que dizem os gestores das escolas?
Gina Estevão, directora da escola secundária de Nampaco, nos arredores da cidade de Nampula, conta que “ao nível da nossa instituição, nós não temos números para anunciar, trabalhamos com envolvimento de alguns funcionários, pais e encarregados de educação, e nas concentrações, abrangemos grande parte dos alunos, também através um período extra em cada turno no sentido de motiva-los a abandonar estas práticas nefastas”.
De forma a melhor controlar os alunos, esta fonte diz que a instituição que dirige tem pedido as autoridades policiais para fornecerem dados sobre aqueles que se envolvem nessas práticas. “Nós solicitamos a polícia com vista a controlar o comportamento dos alunos que se fazem ao recinto escolar e outros que não são sequer estudantes, mas que vêm trajados com o uniforme da escola. “Internamente sempre tentamos gerir a situação que acontece neste recinto e havendo necessidade solicitamos os encarregados de educação para inteirar-se daquilo que acontece”.
Gina Estevão, também, mostra preocupação com a proliferação de estabelecimentos de venda de bebidas alcoólicas nas imediações da escola secundária de Nampaco.
“Nós não temos como intervir nas “bottle store”, lamentou a directora, reconhecendo que “a nossa actuação é limitada e é somente no recinto escolar, então um estabelecimento de consumo de álcool não temos autonomia de ir lá e pegar o aluno, dizendo vamos a sala. Também o facto de alguém estar uniformizado, não significa que seja desta escola e embora seja complicado por estarmos próximos de locais de venda de bebidas alcoólicas. Aliás o aluno que sai de casa, com intenção de estudar vai directamente para a sala de aulas. A infracção grave que o aluno comete é beber ou fumar no recinto escolar”.
Por seu lado, a directora, acredita que o maior desafio que o estabelecimento que dirige enfrenta é a fraca intervenção permanente, constante e atenta dos pais e encarregados de educação, factor que afecta negativamente no aproveitamento pedagógico dos alunos.
“No princípio do ano temos o sufoco dos pais e encarregados de educação, onde cada um, a sua maior preocupação é matricular o seu filho e, quando conseguem, ficam muito tempo sem aproximar-se para acompanhar o desempenho deste. Muitos não se preocupam com a educação e formação de qualidade dos alunos, então é preciso um acompanhamento permanente e constante de todos, sejam os próprios alunos, pais, encarregados, professores e a direção da escola na supervisão dos alunos. Se os responsáveis e encarregados de educação não vigiarem e prestarem atenção aos os seus educandos podem ver comprometida a qualidade de aprendizagem e até podem transitar de ano sem o nível exigido de conhecimento”, concluiu a fonte.
Encerramento de estabelecimentos
A directora do Gabinete Provincial de Prevenção e Combate a Droga em Nampula, Isabel Sanfins, explica que “trabalhamos com 14 sectores a nível da província de Nampula”, os quais “compõem o coletivo alargado do gabinete, temos lá a INAE [Inspeção Nacional de Actividades Económicas] que tem estado a fazer um trabalho com a Procuradoria que é para ver se retiram essas barracas dos arredores das escolas, porque as pessoas sabem que por lei são 500 metros de distância”.
“Tive conhecimento que algumas barracas de venda de bebidas alcoólicas foram encerradas pela INAE, inclusive que alguns “bottle store’s” foram encerrados depois da reclamação e preocupação do nosso gabinete”, disse a nossa interlocutora, prosseguindo que “estamos num ciclo de palestras nas escolas secundárias que é para passar a mensagem apelativa e educativa contra o consumo de drogas ilícitas e lícitas no recinto escolar, como uma forma de eliminar práticas nocivas entre os alunos. Para além da INAE, nós trabalhos com SERNIC, PRM e outras entidades governamentais e associações que estão na senda de sensibilização contra os males de consumo de drogas”. (Nelsa Momade)