Nampula (IKWELI) – A corrida eleitoral para 11 de outubro próximo mexe com tudo e com todos na autarquia de Nampula, e ate há interesse em imortalizar quem um dia prestou serviço público autárquico de qualidade naquela circunscrição.
Em homenagem a Mahamudo Amurane, melhor autarca que um dia dirigiu a cidade de Nampula, foi “constituída” uma associação por um grupo de jovens. Trata-se da Associação Amigos de Amurane para Moçambique Melhor, ou simplesmente Koxurukhuro, a qual já manifestou interesse em governar a cidade de Nampula.
Nesta entrevista, a face mais visível da agremiação, Gamito dos Santos, explica as intenções do grupo e diz que o que querem mesmo é tirar a cidade da situação que se encontra na actualidade.
Jornal Ikweli (IKWELI): Quem é Gamito dos Santos?
Gamito dos Santos (Gamito): Gamito dos Santos é um jovem da cidade de Nampula, um jovem normal como qualquer, activista social, defensor dos direitos humanos, actualmente residente na cidade de Nampula, nascido cá. Simplesmente isso, nada mais e nada menos.
Ikweli: Qual é o seu compromisso com a cidade de Nampula?
Gamito: Meu compromisso na cidade de Nampula é de mudar o xadrez político primeiro, segundo mudar o sistema de gestão autárquica na cidade de Nampula, porque aquilo que nós provamos com o falecido doutor Mahamudo Amurane percebemos que é bem possível a gente fazer um pouco mais do que já é feito, então estamos a sentir que depois da perda do Amurane voltamos a estaca zero daquilo que foram as obras construídas pelo Mahamudo Amurane e isso na verdade nós, como jovens, nos incomoda e porque nós já sonhávamos um pouco mais com o aparecimento do Mahamudo Amurane, que nos mostrou, com A mais B, que era possível na verdade sonharmos um pouco mais com um Nampula que, na verdade, está além daquilo que nós temos hoje. Então, nós como jovens sonhamos mesmos mudar o xadrez político, mudar o sistema de gestão financeira, assim como as realizações ao nível da autarquia e fazermos de Nampula uma cidade de referência.
Ikweli: Já foi director municipal na cidade de Nampula, o que acha que devia ter contribuído na altura e o que acha que deve contribuir agora?
Gamito: Para além de director, nós sabemos que eu já fui director de transportes, já fui director de mercados, já fui director de salubridade, higiene e gestão funerária, então eu acho com a experiência que eu colho, ao lado do doutor presidente Mahamudo Amurane, eu contribui bastante nos mercados e feiras. Hoje tenho orgulho de dizer que temos o mercado de Mpavara, em Namicopo, embora não está sendo usado, é razão do nosso pensar, temos o mercado Shopping do Povo, ali na antiga feira, embora hoje o espaço já foi vendido, é razão do nosso pensar, temos o mercado de 25 de junho no Muhala Expansão é razão do nosso pensar e mais outras realizações, temos o mercado em Napipine, São Pedro no Gulamo, também, é razão do nosso pensar. Então, contribuímos bastante e acredito eu com a experiência que nós colhemos ao lado do presidente Mahamudo Amurane é possível sim, fazermos o nosso melhor.
Ikweli: E agora, Gamito é das caras visíveis dos amigos do Amurane, portanto Koxukhuru. O que que vocês querem para o município de Nampula, para quê vocês concorrem?
Gamito: Nós concorremos no município de Nampula, primeiramente, como sociedade civil queremos fazer parte do processo de tomada de decisão, nós como jovens queremos sentir-nos parte desse processo de tomada de decisão, nós sabemos que os jovens têm sido marginalizados, usados em tempos políticos porque alguém quer aparecer ou conquistar o eleitorado, mas depois de conseguir almejar este poder os jovens são descartados, então neste presente momento queremos fazer o diferente, ao invés de reclamarmos nos Facebook, criticarmos, lamentarmos. Já chega, queremos agora entrar no cenário político e entrarmos em cena para fazermos diferença, és a razão que nós queremos a cidade de Nampula como a referência desse objetivo.
Ikweli: Concorrem para assembleia, apenas?
Gamito: Na verdade, a lei eleitoral já não permite você concorrer para assembleia e concorrer para o presidente do município, concorremos uma lista única e que o cabeça-de-lista se for o mais eleito, automaticamente passa a ser o edil da cidade de Nampula, nós não vamos negar esse anseio, nós desejamos que o povo confie em nós e confiar o nosso cabeça-de-lista.
Ikweli: Quem é o vosso cabeça-de-lista?
Gamito: Neste presente momento o cabeça-de-lista passa a ser Gamito Dos Santos Carlos.
Ikweli: Porquê amigos de Amurane? Algum aproveitamento político do nome do malogrado?
Gamito: Penso que não é aproveitamento político. Olha que nós tínhamos em Nampula, por exemplo, três associações que estavam a concorrer para a corrida a assembleia municipal. Tínhamos lá a AEP, tínhamos lá AJAMO que é Associação dos Jovens Académicos de Moçambique e tínhamos Associação dos Amigos do Amurane para Moçambique Melhor (Koxukhuru), mas simplesmente as duas associações desistiram desta corrida e decidiram abraçar e apoiar a candidatura da Associação dos Amigos do Amurane para Moçambique Melhor e lá também, por consenso, foi indicado o Gamito para encabeçar essa lista, então não há nenhum aproveitamento político, podia ter usado AJAMO, podia ter usado AEP, mas sentimos em termos de burocracia, em termos de gestões administrativa a Koxukhuru estava mais preparada em relação as outras associações.
Ikweli: Tem anuência da família para o uso do Amurane?
Gamito: Essa associação já funciona desde 2019 e até essa altura a esposa do malogrado presidente Amurane, também, deu anuência na criação dessa associação e nesses objetivos. É verdade que esse objetivo das eleições não estava constando nos estatutos, mas para fazermos essa frente fomos pedir a ela que nós vamos nessa etapa e ela não teve nada de objeção e concordou que podem ir, mas ela também tem opinião dela política, isso não faz com que ela mude o pensamento político dela, ela vai continuar com visões políticas dela e a associação vai trilhar dos seu pensamentos políticos que, na verdade, essa associação não vai se transformar num partido politico. Como associação estamos abertos em receber projectos, em executar projectos daquilo que faz a sociedades civil e vamos avançar. Depois dessas eleições a associação continua, mesmo agora associação continua a trabalhar com certos projectos de investimento social.
Ikweli: Vamos voltar a questão de mudança do município de Nampula, o que que acha que estaria a falhar no momento?
Gamito: Neste presente momento o que está a falhar, eu acho, é o sentido de cidadania. Temos líderes que por algum momento estão a comportar-se como se eles não tivessem vivido na cidade por algum dia, a nossa cidade hoje em dia está banhada de lixo que na verdade, aqui mesmo, podemos ver ao lado, temos ali um pouco de lixo, que isto não pode nenhum jovem ser apologista desse tipo de práticas, então o que está a falhar na gestão é o nepotismo, sobretudo. Se formos a ver, no município de Nampula a maior parte que ostentam cargos de chefias são aqueles que tem algumas raízes dentro da RENAMO, porque o pai é um chefe de alguma coisa lá dentro do partido, por que o pai é beltrano ou é um antigo combatente dentro da RENAMO. Então, nós que por algum momento nossos pais não tem essa proveniência como é que vamos fazer?
Ikweli: Está a falar do filho do Ossufo Momade, em específico?
Gamito: Não é esse apenas, temos outros também, eu nem queria mexer ele.
Ikweli: E o comentário que fez agora deixa transparecer que considera o presidente Vahanle não urbano, é isso?
Gamito: Pelo menos aquilo que eu vejo. Nós estamos agora sentados num jardim como esse, olha que o jardim parque desde que se tomou posse nesta edilidade não se mexeu nada, a rede já está ela acabada, os baloiços já não existem, as bancadas não existem. Este jardim, Mahamudo Amurane sonhou com todo prazer para os seus cidadãos, mas hoje estamos aqui num jardim que por algum momento nem sombra tem, hoje em dia graças a Deus que temos essas árvores que estão aqui a florir pela graça de Deus mesmo, porque na verdade, se não fosse por isso, , também, teriam desaparecido. Olha que a relva que nós tínhamos aqui já não existe, olha que os baloiços já não existem, mesmo também tínhamos o sonho de colocar o jardim da montanha, aqui no Muhala Expansão, morreu, ficou em banho-maria. Então, nós precisamos resgatar essa cidadania, precisamos colocar a cidade, tínhamos aqui cestos de depósito de lixo em cada 100 metros, tínhamos um deposito de lixo onde você comia a sua banana e pegava e colocava lá para evitar com que na cidade prolifere a lixeira, então hoje em dia já não temos, tínhamos aqui vários jardins que foram construídos, em frente do conselho municipal, temos o jardim paços do município, também, nunca foi investido nem uma vez, então nós precisamos, na verdade, buscar aquele sonho que levou a morte de Amurane.
Ikweli: Quem apoia a Koxukhuru?
Gamito: Quem apoia Koxukhuru são os militantes. Koxukhuru é a população em geral.
Ikweli: Quantos são?
Gamito: Neste presente momento nós somos milhares de membros e temos aqui membros efetivos que estão na lista da assembleia, claro, são aqueles que a lei preconiza já estão lá depositadas a candidatura e os apoiantes são milhares.
Ikweli: Para além desses todos projectos, sabendo do cenário político actual moçambicano, o fechamento do espaço de participação da juventude, que nível de preparação psicológico vocês mantêm para enfrentar esse desafio?
Gamito: Nós nesse presente momento a nossa psicologia esta sã, nós sabemos que vamos sofrer várias represálias e não é pela primeira vez. Como sabem, a pessoa que estão a falar com ela agora é a voz da experiência disso, já viveu por várias ameaças, já foi torturado, já foi sequestrado, mas hoje não desiste. Então se é pela cidade de Nampula, nós vamos dar a nossa mão a palmatoria e vamos conseguir para resgatar aquilo que é nosso, nós não pedimos para ser moçambicanos, e porque não pedimos ser moçambicanos o país é nosso, eis a razão que essa juventude está aqui para lutar, para trazer e resgatar aquilo que é nosso.
Ikweli: Ainda há esperança para os jovens?
Gamito: Com certeza, um dos motivos está aqui, visto que temos aqui jovens que deixaram os seus afazeres e vieram na verdade para um encontro como este, conversar de maneira citadina e almejando a cidadania que todos nós almejamos e acreditamos que o sonho da juventude ainda não está perdido, pese embora há quem pensa que pode matar este sonho, mas não é possível porque se mata um, outro vai ressurgir isso sem dúvida. (Entrevistado conduzida por Aunício da Silva *Fotos: Hermínio Raja)