Nampula: ADE não está a “pingar” nas contas das escolas e gestores andam desesperados

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Nampula (IKWELI) – Os gestores escolares da província de Nampula, região norte de Moçambique, foram unânimes ao revelar que o governo não disponibiliza o fundo de Apoio Direto às Escolas (ADE) desde o primeiro trimestre de 2022, uma situação que coloca em causa a sustentabilidade lectiva naquelas instituições de ensino público.

Trata-se de um programa que tem em vista dinamizar a gestão das instituições de ensino e garantir a qualidade da educação referenciada pela UNESCO.

A informação foi revelada na passada terça-feira (08), pelos gestores escolares de diversas instituições de ensino espalhadas na província, durante um encontro de auscultação sobre “o processo de ensino e aprendizagem”, que teve lugar no Instituto de Formação de professores de Nampula, o qual foi dirigido pela Ministra da Educação e Desenvolvimento Humano (MINEDH), Carmelita Namashulua.

O director da Escola Secundária de Nampula, Albertino Luís, foi quem deu o pontapé de partida, ao partilhar que desde o ano de 2021 a instituição que dirige não dispõe de recursos fornecidos pelo governo para fazer face ao processo de ensino e aprendizagem.

“Temos um ADE que muitas vezes é de forma oscilatória, porque neste ano podemos ter o ADE em junho, próximo ano as vezes em novembro e outro ano em janeiro e isso de alguma maneira desorienta o processo de ensino”, disse.

Azevedo António, director de uma escola do distrito de Rapale, disse que a falta de desembolso do fundo de ADE está a comprometer a sua boa imagem, visto que neste momento encontra-se mergulhado em dívidas com os fornecedores locais que fornecem material didáctico a escola na expectativa de ter o seu pagamento a posterior.

“Aliado a falta de desembolso do ADE há quase dois anos, nós os directores daquele distrito encontramo-nos endividados com aqueles que são os nossos fornecedores, pois desde o ano passado vínhamos prometendo a eles que pagaríamos pelo material didático o que, até agora, não aconteceu. Se assim prevalecer, provavelmente sua excelência senhora ministra poderá assistir no próximo ano, um director de Rapale na barra do tribunal e nessa altura não será designado por director, mas sim burlador”, afirmou.

Para além da falta de desembolso do fundo de ADE, os gestores clamam pela construção de mais escolas, como explica Cassimo Natunga, director da escola secundária de Namicopo, que referiu que todas escolas secundárias, sobretudo do distrito de Nampula, contam com um número muito elevado de alunos, pelo que roga pela construção de mais escolas para fazer face a superlotação de turmas, o que compromete a qualidade de ensino e aprendizagem.

“O que o ministério recomenda é que nós trabalhemos com dois turnos diurnos, por causa do elevado número de alunos. Agora estamos a fazer segundo ano consecutivo a trabalhar com três turnos e quais são as implicações que isto traz? Tivemos que reduzir o número de tempo de permanência do aluno, de seis tempos para cinco e algumas disciplinas tivemos que reduzir, pelo menos aquelas que tem muitas aulas por semana, falo de português, matemática nalgumas classes de cinco para quatro que é para ver se conseguimos acomodar todos os alunos. E temos casos mais graves na escola secundária de Nampaco, onde reduziram o número de frequência dos alunos de cinco para menos que isso”, explicou.

Na ocasião, foi partilhado que a província de Nampula conta com 2.421 escolas das quais 2.300 do ensino primário, uma situação que também preocupa o governo, por isso Carmelita Namashulua disse aos gestores escolares que o ministério está ciente das dificuldades do sector, no entanto, os recursos são escassos e os responsáveis pelas escolas, para além do ministério, devem procurar soluções locais.

“Eu tenho a consciência de que os colegas acompanham o processo de desenvolvimento do nosso país, sabem muito bem que o sector de educação e saúde tem se beneficiado de fundos externos e nem sempre esses fundos estão disponíveis, não temos que ficar à espera do ministério para vir dirigir, ao nível local e distrital podemos encontrar soluções para todas essas preocupações”, avançou.

A falta de professores especializados, livros, insuficiência de carteiras, assim como vandalismo nas escolas primárias e secundárias foram outras preocupações levantadas pelos gestores no encontro com a ministra. (Ângela da Fonseca)

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