Nampula (IKWELI) – Namicopo, o famoso e mais populoso bairro de Moçambique, localizado na cidade de Nampula, continua a inovar. Depois de consolidar a prática do desporto motorizado, com recurso as “cinquentinhas”, agora é a vez da corrida envolvendo as pessoas com deficiência daquela circunscrição geográfica.
A corrida de pessoas com deficiência, com recurso às carrinhas de roda, acontece na mesma pista em que é realizado o desporto motorizado. Numa primeira fase fazem parte da competição os deficientes residentes naquele bairro, em número reduzido.
Pretende-se com aquela iniciativa, em conformidade com os organizadores, garantir inclusão social dos visados.
O pontapé de saída da referida corrida deu-se no pretérito fim-de-semana. Os atletas ostentam os números dos famosos clubes do desporto motorizado de Namicopo, destacadamente 777, 94 e 050, fazendo com que o público desperte, ainda mais, o interesse por aquela prática desportiva. Nos primeiros confrontos, realizados no sábado e domingo, foram ganhos por Arlindo Muachora, da 777.
“Não é bem desporto, mas estamos a fazer aquilo de modo que aqueles deficientes se sintam úteis a sociedade, porque, afinal de contas, o facto de eles serem deficientes não significa que já morreram para a sociedade. É uma forma de valorizar o homem, desta maneira, assim como agora o bairro de Namicopo está valorizado com a introdução do desporto motorizado, assim como espectáculos musicais”, disse Abdul Hanane, presidente da comissão organizadora.
Segundo acrescentou Hanane, “numa primeira fase, nós começamos com um número reduzido, mas com o tempo o número vai aumentar de acordo com as circunstâncias e com a realidade. Não podemos logo correr e chamar muita gente, enquanto não estivermos tecnicamente, ou em termos de recursos humanos com capacidade para organizar. Então, o número vai subindo e o mais engraçado é que conseguimos atribuir cada concorrente que faz parte do leque dos deficientes, o número de cada clube e isto criou mais expectativa, sentimos a presença em massa do público, é uma grande animosidade, entusiasmo dos amantes desta modalidade, abraçando, acarinhando aquele que é deficiente”.
Algumas pessoas com deficiência participantes na corrida disseram ao Ikweli de que a iniciativa é boa, e pedem que mais pessoas sejam envolvidas de modo que venha para ficar.
Arlindo Muachora, de 54 anos de idade, pai de quatro filhos, é natural de Mecubúri, actualmente residente no bairro de Namicopo. Para ele, os dois dias que competiu no campo de “WaHanane” entraram para a história da sua vida. Para além do carinho e solidariedade mostrado pelo público presente naquele recinto desportivo, Arlindo Muachora é também grato pelo facto de nesse período não se fazer ao centro da cidade para pedir esmola com vista a sustentar sua família.
“Nós fomos convidados e estamos aqui a competirmos. É pena que ainda não temos ajuda, como pode ver as nossas carinhas não estão em boas condições mecânicas, mas as pessoas que pensaram nesta actividade estão mesmo de parabéns. Eu não esperava que estaria aqui a competir, já que algumas pessoas nos consideram como que somos incapazes, mas isso não constitui verdade”, referiu Muachora.
“O pouco que conseguimos aqui no Hanane dá para ajudar a família, naquele dia. Nesses dois dias estamos descansados de irmos à cidade pedirmos esmola, por isso estou a pedir para que essa ideia não pare, vamos continuar e, quem lá sabe, se um dia podemos subir avião para fora da província e do país para irmos competir”, desejou a fonte.
Quem também se sente surpreendido, pela positiva, com o convite é Sirage Essiaca, natural e residente de Namicopo, 47 anos de idade e pai três filhos. Eu estou feliz com este tipo de iniciativa. Isto nos ajuda muito em termos físicos, já que ao corrermos estamos a treinar. O meu pedido é que essas competições não podem terminar por aqui, que muitas pessoas se juntem a essa iniciativa e apoiem-nos naquilo que puderem. Mesmo oferta em caderno para os nossos filhos serão bem-vindos. Essa pessoa que pensou assim veio nos salvar, porque nos sentíamos isolados”, disse.
“Na verdade, achei coisa importante porque assim Moçambique está a criar um espaço para nós. Agora me sinto bem, por isso sou grato pela organização”, disse o jovem Rodolfo Miranda, 24 anos de idade, pai uma filha, natural e residente em Namicopo.
Para Júnior Augusto Nacuo, 27 anos de idade, “esta iniciativa é muito boa, quando vim aqui me senti feliz. Antes não tinha competido, aqui é pela primeira vez que estou a competir”, precisou o nosso entrevistado. (Constantino Henriques)