Nampula (IKWELI) – O comandante distrital da Polícia da República de Moçambique (PRM), em Mogovolas, é apontado como que disparou contra quatro menores durante as celebrações de mais um aniversário de elevação de Nametil a categoria de vila, efeméride que teve lugar no último fim-de-semana.
Segundo apuramos, para celebrar o dia, foram programadas várias actividades sendo uma delas a corrida de motorizada. Entretanto, após ter-se anunciado, na última hora, que tal evento não iria acontecer, os residentes locais avançaram com a onda de revindicação perante as autoridades locais.
Chamada a intervenção dos homens da lei e ordem, foram neutralizados alguns manifestantes considerados como sendo cabecilhas, medida que incluiu a apreensão das motorizadas dos mesmos.
Inconformados com a medida policial, os populares de Mogovolas foram se amotinar no recinto do comando distrital, que dista escassos metros do palco das cerimónias. Foi a partir daí que, se sentindo ameaçado com a moldura humana e na tentativa de dispersar, a polícia começou com disparos de balas reais, tendo alvejado três crianças que estiveram junto dos manifestantes.
Segundo fontes locais, os disparos foram protagonizados pelo comandante distrital de Mogovolas, mas o pior não aconteceu porque as crianças foram prontamente socorridas para a unidade sanitária.
Em resultado no baleamento os 4 adolescentes foram evacuados para o Hospital Central de Nampula (HCN), sendo três nas pernas, na cocha e na nádega.
Isaac Abacar Abudo é uma das vítimas, ele foi baleado na nádega e contou que “o que aconteceu comigo, no dia 2 de Julho, era festa de Mogovolas, e na estação ia haver corrida de motorizadas e eu fui para assistir. Estava sentado no banco para ver a corrida. O comandante [da PRM] começou a pegar as motorizadas e levou arma começou a disparar para as pessoas e de repente me acertou uma bala”.
O adolescente disse que depois de ser baleado conseguiu andar até ao encontro do pai que, de seguida, levou-lhe ao hospital local onde foi transferido para a maior unidade sanitária da região norte do país.
O Dr. Hermenegildo Mulega, cirurgião geral afecto ao HCN, explica que os pacientes que entraram vítimas de ferimento, por arma de fogo, estão fora de perigo, mas mostra preocupação com o adolescente baleado na nádega, pois apresenta edemas, facto que será necessário que continue em observação médica, enquanto os outros poderão receber alta.
Esta fonte explica que “quando se trata de ferimentos por arma de fogo, que não tenha lesão ao nível do órgão e ou abdômen e tórax, o paciente é submetido em observação a não ser que tenha fracturas. Se não tiver fracturas e se não haver compromisso vascular a medida é mesmo observação a procura de sinais de infecção que são complicações subsequentes”.
Este adolescente, de 16 anos, continua com a bala alojada na cocha, mas que a posterior será removida.
O que diz a polícia?
Zacarias Nacute, porta-voz da polícia da República de Moçambique, em Nampula, confirmou o uso de arma de fogo para dispersar a população e justifica que a manifestação estava a acontecer em um local onde não devia, no comando distrital, devido aos instrumentos que a polícia tem em sua posse, nomeadamente armas de fogo e outros instrumentos de persuasão.
“A polícia foi obrigada a agir de forma mais persuasiva e como consequência disparou-se alguma balas ao ar para tentar amainar os ânimos dos populares, e neste processo acabou atingindo o menor que ficou ferido na perna”, disse Nacute, afirmando que a bala foi erro de execução porque não era para abranger qualquer cidadão.
Daí que segundo ele, a polícia ao nível do distrito está a fazer acompanhamento a única vítima que para eles foi ferida, isso numa altura em que foram confirmadas quatro vítimas de baseamento policial.
“Acreditamos que os outros menores podem ter contraído ferimento em outras circunstâncias. Daquela que foi a perícia feita sobre indivíduos feridos por bala, só houve um, os restantes podem ter se ferido em consequência da amotinação, como são menores que se envolveram numa confusão em que estavam pessoas adultas, provavelmente no momento de fuga acabaram contraindo ferimentos”, disse
A polícia não fala de responsabilização dos agentes, até porque o porta-voz adiantou á jornalistas que será difícil saber de que arma saio o projétil que causou o incidente, uma vez que para ele naquele momento era importante proteger a instituição, um trabalho digno para garantir a ordem pública, para evitar que indivíduos de má-fé se aproveitassem da situação para se apoderar e vandalizar bens policiais. (Adina Sualehe e Constantino Henriques)