Nampula (IKWELI) – Benedit Wakalenga, jovem de 25 anos de idade, refugiado oriundo da República Democrática do Congo, que se encontra em Moçambique há dez anos, concretamente centro de refugiados de Maratane, localizado na província de Nampula, queixa-se da exclusão de pessoas com deficiência na realização de várias actividades naquele ponto.
Benedit conta que chegou à Moçambique em 2013, quando tinha apenas 15 anos de idade, tendo revelado que decidiu refugiar-se em Moçambique depois de ter escapado a morte nas mãos dos rebeldes que criavam desordem no seu país.
Wakalenga ficou amarrado durante duas semanas e sofreu violência física que culminou com a deficiência nos seus braços. “Os rebeldes da minha terra recrutaram-me. Eles estavam a fazer o recrutamento forçado dos jovens para o grupo dos rebeldes para fazer guerra contra o Governo. Na época, eu tinha 14 anos de idade. Fui amarrado e maltratado por duas semanas, por causa disso fiquei com essa deficiência, não estico o meu braço”, contou, afirmando que não gostava do movimento porque criava insegurança no seu país.
A fonte disse ainda que na altura ele e sua irmã mais velha foram submetidos a essa situação. No entanto, foram salvos por um grupo de militares estrangeiros. Depois disso, decidiram que deviam se refugiar na República da Tanzânia, onde lhes foi negado o abrigo.
“Também tivemos que sair da Tanzânia porque é perto de Congo, e as pessoas lá não queriam que nós ficássemos, porque temiam pela segurança deles. Quando entramos em Moçambique fomos bem-recebidos e encaminharam-nos logo para Maratane”, conta.
Entretanto, apesar da recepção ter sido boa, Benedit disse que teve enormes dificuldades para adquirir a documentação, pois não deseja regressar ao seu país de origem. “Antigamente, a vida dos refugiados era muito difícil, mas hoje o Instituto Nacional de Apoio aos Refugiados (INAR) está a se esforçar com os refugiados para se integrar, agora podemos sair de Maratane para outros pontos para procurar avida”, revelou.
Hoje trabalha como activista da humanity & inclusion, no centro de Maratane, uma actividade que lhe abre espaço para lutar pela inclusão de 212 refugiados com deficiência que, ainda, são estigmatizados pela sociedade, pois, por também ser refugiado e pessoa com deficiência era excluído.
“Sobre a inclusão lá as pessoas não estão a entender, porque estão a dizer que uma pessoa com deficiência como é que vai trabalhar? Como é que uma pessoa com deficiência vai jogar bola com uma pessoa normal? Então, estamos a tentar mostrar que aquelas pessoas, também, tem os mesmos direitos, todos nós somos normais, não deve haver diferença”, explicou.
A margem da conferencia de Imprensa, convocada pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), no âmbito do Dia Mundial dos Refugiados, que se assinalou na passada terça-feira (20), o Director-Geral do Instituto Nacional de Poio aos refugiados (INAR), Cremildo Abreu, revelou a Lusa que o número de refugiados que procura asilo reduziu em 51%, justificando que já não é país de preferência, como acontecia há seis anos.
“Um grande número refugiados do centro de Maratane pediu, voluntariamente, para regressar ao seu país de origem e nós estamos a atender esses pedidos em coordenação com o ACNUR”, anotou.
Actualmente, segundo estatísticas das Nações Unidas de 2022, o país tem mais de 29,8 mil refugiados, sendo 25 mil requerentes de asilo. Do total de refugiados 25% são crianças. Sendo que, pelo menos, sete mil encontram-se em Maratane, o único campo para refugiados no país.
Os dados indicam ainda que, de setembro de 2021 a junho de 2022, um total de 148 indivíduos regressaram aos seus países, nomeadamente, República democrática de Congo, Burundi e Ruanda respectivamente. (Ângela da Fonseca)