Nampula (IKWELI) – O primeiro e mais antigo centro de acolhimento de crianças órfãs e vulneráveis da cidade de Nampula, Madre day, existente há mais de 40 anos, lamentou na passada sexta-feira (16), o facto de nunca ter recebido apoio por parte do governo, assim como das organizações não-governamentais que actuam do país. A informação foi partilhada a imprensa aquando da primeira visita governamental, por ocasião do dia da criança africana.
De acordo com a representante do centro, irmã Celeste, o orfanato consegue alimentar mais de 100 crianças acolhidas naquele local através de apoios que recebem de pessoas de boa vontade. “Nunca recebemos ajuda oficial e nem de organizações não-governamentais, apenas pessoas de coração que as vezes fornecem alguns alimentos, roupas ou material escolar. Assim estamos a celebrar 44 anos de acolhimento, não só de crianças órfãos, mas também de crianças que sofrem nas ruas em vários aspectos”, afirmou.
Apesar de nunca ter recebido apoio, irmã Celeste garantiu que o centro é feliz, pois o que lhes alegra é o facto de puder fazer o bem para as crianças que necessitam de amparo. “O milagre acontece diariamente. Mais de 120 pessoas se alimentam a cada dia, sem termos um só vencimento. É a primeira vez que recebemos essa visita, pedimos que não seja a última”.
Tal informação foi confirmada por André Riquito, de 22 anos de idade, que chegou ao centro com apenas um dia de vida, pois este, perdeu a sua mãe durante o trabalho de parto.
Riquito revelou ter ficado assustado com a chegada da comitiva governamental no local, porque “estou neste centro desde 2001, após a morte da minha mãe, minha família decidiu vir me deixar neste centro porque eles não tinham condições para me sustentar, principalmente em leite. Aqui fui muito bem recebido. Desde que estou aqui nunca vi e tivemos apoio do governo, quando me apercebi da chegada deles não acreditei”.
André Riquito contou que concluiu a 12ª classe e, neste momento encontra-se a fazer o curso de corte e costura, graças ao apoio das irmãs do centro. O jovem casou em Dezembro de 2021, é pai de dois filhos. “Mesmo casado ainda sou daqui, cresci aqui, ainda dependo do centro, as imãs me ajudam na minha formação de corte e costura e tenho mais habilidades em pintura”.
O nosso entrevistado aconselha a todas crianças que, também, são órfãs a se dedicar aos estudos, pois é a única forma de traçar um futuro brilhante. “O facto de sermos órfãos não significa que devemos nos lamentar, pelo contrário, devemos olhar para a escola como uma saída para ser alguém na vida, devemos também agradecer às pessoas que dedicam o seu tempo para cuidar de nós”, afirmou.
Jéssica Victor é uma menina de 15 anos de idade, proveniente da província de Cabo Delgado. A mesma é órfã de mãe desde os dois meses, idade em que foi acolhida pelas irmãs do centro. No entanto, Jéssica disse que não vê o seu pai desde 2012, sem saber as razões, a jovem não se deixa abalar, pois encontra-se a frequentar a 10° classe e sonha em ser contabilista.
A directora Provincial do Género, Criança e Acção Social (DPGCAS), Albertina Ussene, disse que a província conta com 10 centros de acolhimento de crianças órfãos e vulneráveis, tendo na ocasião revelado que nos primeiros seis meses, cerca de 564 crianças receberam apoio do governo.
“Nós sabemos que aqui tem 66 crianças de várias nacionalidades, estamos a falar de crianças da província, mas também de outras províncias e países. Fomos retirar algumas crianças do centro de refugiados de Maratane e foram acolhidas num dos nossos centros”, disse a governante. (Ângela da Fonseca)