Nampula (IKWELI) – Frederico Sebastião, médico e especialista em neurologia, da maior unidade sanitária da região norte, Nampula, alerta a sociedade sobre a necessidade de adotar uma postura equilibrada por forma a não desenvolver um quadro clínico crónico futuramente.
Em entrevista concedida ao Ikweli, o especialista explicou que a má dieta, erros de postura, relacionada a forma como a pessoa senta e deita na cama, associado ao peso exagerado durante as actividades de casa ou até mesmo no ginásio, tornam-se em um excesso de carga para o pescoço e a coluna, uma situação que contribui para o enfraquecimento dos ossos, provocando assim uma doença não muito conhecida, chamada espondiloartropatia.
De acordo com o médico, a espondiloartropatia está relacionada com a coluna vertebral, que sofre um desgaste ao longo do tempo, principalmente em situações de sobrecarga. A má postura, obesidade e sobrepeso, tabagismo, muito tempo sentado, esforços contínuos são parte das causas que contribuem para o aparecimento da doença.
“A nossa dieta é pobre em cálcio e em fósforo, dois nutrientes importantes para o rejuvenescimento dos ossos, porque nós não temos poder de compra de leite e ovo diariamente e esse défice de nutrientes faz com que os ossos enfraqueçam. Nós agora somos mais sedentários, comemos e ficamos só no game e não queimamos calorias”, disse.
Segundo o médico, a coluna cervical e dorsal são as que mais fazem movimentos no corpo, por isso sofrem mais, explicando ainda que, mulheres grávidas, motoristas, camponeses, estivadores, bem como os próprios profissionais de saúde estão suscetíveis a sofrer tal situação.
“O doente já vem ao hospital com dores no pescoço, formigueiro no braço que piora quando vai se deitar ou tem dor na coluna e formigueiro nas bundas que vai até ao pé. Os homens queixam-se mais de impotência sexual, com formigamentos na parte genital ou então perde o controle da urina. E a mulher grávida acaba caindo nesse factor de risco por causa do peso, porque tem um sobrepeso, ora vejamos tem o peso dela que engorda e o peso da gravidez, as pessoas que tem mais de seis filhos tem problema da coluna”, explica a nossa fonte, a qual não recomenda ao consumo de medicamentos sem a prescrição medica, quando se trata de uma dor na coluna, pois não estará a tratar a doença, mas sim, a criar um ciclo vicioso.
“Quanto mais toma, mais dor tem e compra mais comprimidos para dor e não melhora, é um ciclo vicioso que não está a tratar o problema só está a tratar a dor, é importante ir ao médico para ver a postura, o peso e dieta. Para casos mais graves o doente vai a neurocirurgia para operar, então o ideal é prevenir”.
Por forma a prevenir a doença, o médico recomenda a exposição diária ao sol, consumo de vegetais, carnes e cereais que ajudam na produção da vitamina D, cálcio e fosforo.
“Devíamos ter isso rotineiramente na nossa dieta. Maior parte da população come caracata, nicussi, feijão cute, esses alimentos são pobres nas vitaminas, mesmo aquele que está no campo e apanha sol não tem nutrientes suficientes e o que está na cidade tem todos os nutrientes, mas é sedentário”.
Carpinteiros chamados a melhorar a qualidade das camas
Frederico Sebastião chama atenção aos carpinteiros por forma a melhorar a qualidade da estrutura das camas que são vendidas, pois contribuem para aumento de pacientes com dores na coluna.
“Recomendo sempre que o paciente coloque um contraplacado por baixo do colchão, para evitar aquelas ondulações, ou colocar barras completas, então é algo que envolve não só a pessoa que vai comprar cama, como também os carpinteiros eles devem saber que devem melhorar na quantidade das barreiras porque quando poupam estão a provocar doenças. É importante ter atenção no tipo do colchão que compramos, ele não pode ser muito mole e macio, tem que ser rijo, o colchão mole pode ser caro e luxuoso, mas quando dormes dá-te uma postura errada, aconselhamos sempre a comprar um duro, chamamos de cama ortopédica”.
A equipa do Ikweli conversou com alguns munícipes da cidade de Nampula, que revelaram ter dores no corpo, mas que achavam que fosse algo normal, por conta do cansaço do trabalho.
Amélia Miguel é funcionaria do Hospital Central de Nampula e revelou que há dois anos sente dores nas costas e formigueiro no lado esquerdo da mão, mas nunca se deu tempo para ir ao médico por preguiça.
“Doí-me o dedo mais pequeno da mão esquerda e subiu até ao cotovelo e depois até ao ombro e do ombro até ao peito e coluna, estou nessa situação há muito tempo”, conta esta fonte.
Silvestre António é motorista de chapa há cinco anos. O mesmo tem consciência que o trabalho que faz poderá lhe prejudicar no futuro.
“Estou sentado desde as 4:00 horas no volante, só me levanto as 13:00 horas para almoçar depois volto a me sentar e só saiu daqui as 19:00 horas, então não é fácil para mim, saio daqui quebrado para dia seguinte voltar a ter a mesma rotina e assim vou seguindo. E com a nossa estrada que não oferece condições porque são saltos que quebram a minha coluna, agora não sinto nada, mas acredito que daqui alguns anos não serei o mesmo”. (Ângela da Fonseca)