Nampula (IKWELI) – A imundície e a destruição tomam conta de um dos mais antigos e mercado de referência da cidade de Nampula, 25 de Junho, vulgo Matadouro, situado no bairro de Muatala, posto administrativo que leva o mesmo nome. O cenário torna o mercado em uma ruína e deixa os utentes sem alternativas para o seu melhoramento.
É característica actual a existência de barracas abandonadas, lixo no interior e vê-se, também, excrementos humanos, o que representa atentado à saúde pública. Associado ao fraco saneamento, o mercado está desprovido de sanitários, pois as casas de banho existentes não oferecem condições para o uso humano.
Reza a história que o mercado leva o nome de Matadouro por se situar junto a um matadouro de gado, actualmente transferido para o bairro de Marrere, posto administrativo de Natikiri, arredores da urbe. Já a 25 de Junho de 2000, de acordo com o chefe do mercado, Tomás Alberto, foi elevado e legitimado pelo governo municipal como mercado 25 de Junho até os dias de hoje.
Como um dos mais antigos da cidade, o mercado dispõe de espaço suficiente para a prática de comércio. No entanto, grande parte não é explorada, ao que serve, desta de feita, de local fértil para assaltos e violação de mulheres, menores de idade, para uns e lixeira, para os outros, na sua maioria residentes nas proximidades. Ademais, o mercado serve de local de descanso para os sem-abrigo de todas as idades, que de dia circulam pela cidade.
Em Matadouro vende-se um pouco de tudo, a destacar vestuários, bebidas alcoólicas, frutas, hortícolas e outros produtos de primeira necessidade. Igualmente, se pode adquirir material de construção e utensílios domésticos, daí a sua importância para os utentes provenientes de diferentes bairros da cidade.
O chefe do mercado disse que a degradação e o abandono resultam da movimentação de comerciantes que exerciam as suas actividades no mercado dos Bombeiros para o Matadouro. Mas porque não houve pressão da sua retirada nos Bombeiros, estes abandonaram os edifícios construídos no interior do Matadouro, tornando-os assim em ruínas.
“É complicado trabalhar neste mercado. De princípio o mercado não estava assim degradado, mas a partir do ano de 2013 houve intenção de mover os vendedores do mercado dos Bombeiros na sua maioria estrangeiros para este mercado, daí construíram barracas que já não estão em uso”, disse em entrevista Tomás Alberto.
Falta segurança e espaço para os vendedores
Igualmente, os vendedores queixam-se da escassez de espaço para o exercício das suas actividades, enquanto grande parte está em desuso, tal como revelou a vendedeira Carolina Aníbal e o Ikweli observou. Por conta disso, alguns vendedores ocupam os corredores para expor os seus produtos ao cliente e obstruem os passeios do mercado.
Os vendedores descrevem o quão é difícil encontrar espaço, sobretudo nos pontos de maior circulação de clientes, motivo pelo qual alguns exercem as suas actividades à moda ambulante, na sua maioria os que possuem pouca mercadoria e de fácil movimentação.
O centro comercial de Matadouro está vedado e tem seis pontos de entrada e saída, mas sem portões para interditar o acesso nocturno. No entanto, os vendedores relatam situações de agressões e violação sexual nas noites, actos protagonizados por desconhecidos.
Aliás, o marcado tem um posto policial instalado no interior há mais de cinco anos. Todavia, segundo contam os utentes, não é inteira responsabilidade da Polícia da República de Moçambique (P.R.M) no local garantir a segurança exclusiva do mercado, uma vez que o posto vela pela ordem e tranquilidade públicas no bairro de Muatala, em geral.
Por esta razão, “a polícia não vela pela segurança aqui do mercado e não cabe a esta controlar se os armazéns estão ou não fechados. Tanto é que quando ocorrem furtos nos armazéns não se responsabilizam”, disse Eugénio Pereira, armazenista que aponta a falta de iluminação no interior como um dos factores que propicia a desordem no período nocturno.
No contexto de segurança, o Ikweli soube pelas autoridades comunitárias do mercado que no ano passado, pelo menos, três corpos foram achados, dos quais um em processo de decomposição numa das lixeiras do mercado, por sinal no interior de um edifício abandonado. Daí que exigem da edilidade de Nampula, o melhoramento do mercado que aos poucos vai se transformando em ruína e esconderijo para os mal-intencionados.
E o plano de requalificar…?
Preocupados com o rumo que o 25 de Junho está a tomar há pelo menos uma década, os vendedores organizaram-se e submeteram uma carta de pedido de requalificação do mercado à edilidade, bem como a obrigação de os proprietários fazerem uso das suas barracas abandonas, pedido que foi anuído pelo executivo municipal chefiado pelo edil Paulo Vahanle. Contudo, passam anos e nada é feito.
Recorde-se que durante a COVID-19, isto é, em 2020, período pico da pandemia, o responsável do pelouro de Promoção Económica e Gestão de Mercados e Feiras na autarquia de Nampula, Osvaldo Momade prometeu a requalificação de três centros comerciais de maior fluxo na cidade, a saber, mercado do Peixe, nos Belenenses, Waresta e mercado dos Bombeiros ao que, foi excluído o do Matadouro.
“O município prometeu melhorar este mercado. Passam anos e o mandato vai ao fim, mas nada está feito. Convivemos com lixo, casas de banho imundas de sujidade, barracas abandonadas que apenas acolhem malfeitores e os vizinhos do mercado tornam-nas em lugares de depósito de lixo de todas as variedades. Isto virou uma ruína e sempre vai continuar se não haver autoridade para gerir a situação”, lamentou Laura Jacinto, vendedeira de comida confeccionada.
No mesmo diapasão de promessas, em Outubro de 2021, no decurso da sessão ordinária da Assembleia Municipal, o edil Paulo Vahanle concentrou os membros dos partidos com assento no órgão, onde anunciou o plano de requalificação do mercado em referência, dada a sua importância e as condições precárias que actualmente oferece.
Para efeito, uma equipa indicada pela edilidade sensibilizou aos vendedores ambulantes e os que ocupam os passeios das ruas e avenidas da urbe, a fim de se fazerem ao 25 de Junho para exercer as suas actividades, sob pena de verem confiscados os seus produtos, alegadamente porque havia espaço que não estava a ser aproveitado. Contudo, de todas as pretensões do Conselho Autárquico nenhuma deu efeito, pelo menos até o fecho desta edição e os utentes do centro comercial 25 de Junho continua desprovidos de condições para o exercício das suas actividades. (Esmeraldo Boquisse)