Nampula (IKWELI) – Perdeu-se o contacto regular com o jovem activista social Gamito dos Santos Carlos no princípio da tarde do dia 18 de Março corrente, sábado, dia em que o país experimentava uma nova revolução de manifestação pacífica.
Gamito dos Santos Carlos é uma das caras mais visíveis da manifestação pacífica que se pretendia realizar na cidade de Nampula em homenagem ao malogrado rapper Azagaia. Desse a manifestação do interesse, tanto legal assim como informalmente, ele passou a estar na mira mais desejada por sector castrense do Estado.
Depois de ver o seu grupo perseguido com armas de fogo e gás lacrimogénio, Dos Santos agendou uma conferencia de imprensa que devia ocorrer num restaurante localizado na rua da Moeda, no centro da cidade de Nampula.
Difundida a informação, agentes da Polícia da República de Moçambique (PRM) trataram de arrumar uma emboscada ao indefeso activista social.
“Levaram-me para o Comando Provincial por onde tiraram me todos os meus pertences, inclusive documentos, e outros com destaque um plástico que continha camisetas do Azagaia”, escreve Gamito na sua conta na rede social Facebook.
Naquele local, a vítima foi entregue aos especialistas em maltratar cidadãos indefesos. “Descalço, veio a equipe denominada Força especial, ou seja, GOE, a qual colocou me fenda nos olhos, amarraram-me a boca, as mãos e os braços usando cordas e lenço preto”, refere, afirmando que “atiraram-me num carro tendo sido levado a um local que até então desconheço”.
A vítima conta que foi torturado, sem dó e nem piedade, ajuntando-se um inquérito, cujas respostas, apenas, exigiam resposta positivas.
“Chegado aquele localm despiram-me a roupa toda, tendo me deixado nú, daí que avançaram com as torturas, começando por ser atirado água quente a pressão, depois passaram a bater-me sem piedade, pisodearam-me com as botas em todo corpo, a cabeça não escapou, os órgãos genitais e tudo”, reporta Gamito dos Santos, que se recorda, dolorosamente, que aquele processo desumano foi por mais de 2h.
Satisfeitos com a brutalidade exibida em corpo humano, os castrenses vestiram na sua vítima e devolveram-na no Comando Provincial da corporação. Ainda naquele local, Gamito dos Santos viu todos os seus direitos humanos destituídos, pois nem se quer uma água tinha direito.
Com o crepúsculo, já no princípio da noite Gamito foi parar numa subunidade policial, 1ª Esquadra da PRM na cidade de Nampula, que dista há 2 quarteirões inversos ao comando provincial.
“Fomos tirado das celas com promessas de sermos todos soltos, mas no meu caso ainda continuei descalço, tendo se alegado que os meus pertences estariam com o chefe do sector. Os outros colegas, Anapaula e o Estevão já tinham os seus, dali fomos levados, eu fiquei na 1ª Esquadra, enquanto que os dois foram levados a 2ª Esquadra”, explica.
Na 1ª Esquadra, Gamito dos Santos viria a ser restituída a liberdade as 11h deste momento. Debilitado e fraco teve de procurar por cuidados médicos, “onde fiquei horas em tratamento, levei injeções, pois nem calça não conseguia usar”.
A Polícia ainda tratou de ficar com os aparelhos celulares da vítima. Detido sem razão conhecida e fora de flagrante delito, Gamito dos Santos é uma das vítimas da intolerância das autoridades moçambicanas no que se refere ao exercício pleno das liberdades e garantias fundamentais com acento na Constituição da República. (Redação)