Doha (IKWELI) – Daniel Macovela e Tino Daniel são dois jovens moçambicanos, residentes no território nacional, e em dois pontos diferentes. Estão separados por cerca de 2330 quilómetros, respectivamente nas cidades de Maputo e Lichinga, mas ambos se encontram em Doha, capital do Qatar, onde participam da 5ª Conferência dos Países Menos Desenvolvidos (LDC) organizada pelas Nações Unidas.
Encontramo-los nos corredores do Centro Nacional das Convenções do Qatar, onde estavam a “distribuir” entrevistas para vários órgãos de informação acreditados no evento. Solícitos e sem rodeios falaram ao Ikweli, mostrando o que vão falar na sessão da juventude.
Natural de Inhambane, Daniel Macovela, residente, actualmente, na cidade de Maputo, capital do país, tem trabalhado em acções de voluntariado, onde dedica o seu tempo a questões viradas para os impactos das mudanças climáticas, participação da activa da juventude nos processos de governação local, entre outras temáticas.
“Trago para esta conferência dos Países Menos Desenvolvido (PMD’s), liderada pelas Nações Unidas, uma experiência de um jovem nascido da zona rural que se preocupa com o desenvolvimento desde criança até ao jovem, da zona rural até à zona urbana”, disse Macovela, prosseguindo que “trago um conhecimento baseado na pesquisa e baseado na acção de modo a procurarmos melhores caminhos para acelerarmos o desenvolvimento até a agenda de 2030 que já estamos há menos de uma década para alcançarmos e trago aqui um uma visão de um jovem que sente aquilo que é a falta do desenvolvimento sustentável, aquilo que são os impactos das mudanças climáticas, que sente que uma educação que não é de qualidade pode afectar o desenvolvimento de jovens”.
Este jovem lamenta, ainda, o facto de Moçambique ser, ciclicamente, afectado por eventos climáticos extremos, como cheias e ciclones, por isso “uma das mensagens fortes que precisamos fazer chegar aos líderes mundiais, as principais organizações financeiras e de engajamento é que as mudanças climáticas estão a impactar, principalmente nas crianças. Esse impacto nas crianças significa que Moçambique, África, o mundo não tem futuro. Então, é importante que mobilizemos recursos para que possamos ajudar essas crianças, essas mulheres impactadas, essas mulheres grávidas impactadas que possamos caminhar juntos para um desenvolvimento sustentável”.
“Nós, na verdade, precisamos de um financiamento directo. Precisamos de pesquisa, de ver quais as melhores estratégias para Moçambique tornar-se resiliente. Não apenas injectarmos dinheiro. É preciso que se faça um estudo, vermos como é que Moçambique pode tornar-se resiliente e procuramos pessoas capazes de fazer chegar essas ações para aqueles que melhor precisam”.
Masculinidade positiva
Baseado na cidade de Lichinga, na província do Niassa, Tino Daniel é natural da cidade de Nacala, na província de Nampula, e está em Doha há 4 dias, expectante em partilhar a sua experiência sobre a promoção da masculinidade positiva.
É seu interesse mostrar como activista e jovem tem advogado para que a igualdade de género, a convivência entre rapazes e raparigas seja igual e com estrito respeito dos direitos humanos de ambos.
Focado, também, na situação dos deslocados internos em consequência dos ataques terroristas e dos eventos climáticos extremos, Daniel entende que é preciso fazer mais nos centros de acolhimento destas vítimas para que direitos humanos sejam respeitados e valorizados.
“O mais importante, neste processo, é de trabalharmos como jovens que somos, de modo a influenciar nas políticas que sejam sustentáveis para poder empoderar, sobretudo os grupos vulneráveis. Falo de pessoas com deficiência, mulher e raparigas deslocadas porque nos centros de reassentamento não há segurança como tal e é importante que haja”, disse, avançando que ser necessário que os jovens, para além de monitorar as acções do Governo, sejam actores importantes no processo da construção do país.
“É importante que, também, possamos criar espaços seguros para as mulheres. Espaços de recreação para as crianças, onde elas vão aprender a conhecer os seus direitos. As mulheres vão aprender sobre poupança e crédito rotativo, de modo que isso possa distrair-lhes, possam fazer poupança e possam, também, usar o dinheiro para o seu próprio desenvolvimento económico”, precisou o nosso interlocutor.
Tino Daniel diz ser necessário continuar a potenciar as mulheres para que não sejam mais vulneráveis e que não possam, continuamente, a sofrer assédios. “As mulheres têm sido sensíveis, porque elas querem sustentar os seus filhos. Perdem os seus maridos por conta da guerra, mas elas sentem-se assediadas e têm que aceitar isso para poder sustentar os seus filhos”. (Aunício da Silva, em Doha)