Nampula (IKWELI) – O Conselho Autárquico da cidade de Nampula, chefiado pelo autarca da RENAMO, Paulo Vahanle, é indiciado de vender um espaço público ao longo da rua Mártires de Mueda, a um grupo de agentes económicos nacionais e estrangeiros que operam naquela região.
Recorde-se que a rua foi pavimentada em 2022, na altura a edilidade celebrou com pompa e circunstâncias a materialização do plano ao que, exibiu robustez na governação em relação ao seu principal opositor neste círculo eleitoral, a FRELIMO. Foi naquele momento que no encosto da Escola Secundária de Nampula, Biblioteca Provincial Marcelino dos Santos e Instituto Industrial 3 de Fevereiro de Nampula, a edilidade reservou espaço supostamente para servir de passeio aos transeuntes.
Porém, até a manhã do primeiro dia do ano 2023, o espaço já se encontrava vedado, sinal inequívoco de início de uma construção de infra-estruturas para fins comerciais, o que não agradou aos munícipes que exigem explicações e interrupção dos trabalhos.
O Ikweli apurou que no local está prevista a construção de lojas, e para o efeito foi aberta uma licença número 1792/DUGT/2022 a qual consta no processo 1325/DUGT/2022, uma obra pertencente a R.M.I. O que deixa indignado os moradores que foram retirados do espaço sob a alegação de reservar o local exclusivamente para o passeio.
Segundo constatamos, para além dos munícipes e moradores em particular, as três instituições públicas de ensino passarão a enfrentar dificuldades e com riscos de ver os seus muros de vedação desabarem, uma vez que a construção fecha as vias por onde escoavam as águas provenientes da chuva.
“É super preocupante para nós, o passeio estará praticamente ocupado e, como consequência, são os acidentes de viação, sobretudo do tipo atropelamento, uma vez que tanto os alunos e outros munícipes, quanto às viaturas estarão a concorrer o mesmo espaço”, lamentou Mariamo Atumane, residente na rua Mártires de Mueda.
A cidadã que, também, responde pelos pais e encarregados de educação da Escola Secundária de Nampula, mostrou-se indignada pelo facto de não ter sido comunicada a instituição que representa. Ademais, a situação “abrange parte do nosso muro da escola, um lugar muito sensível porque é deste lado de onde escoam as águas das chuvas que vem de dentro do quintal, por isso com a construção de lojas no mesmo local entendemos que estão a nos vedar o escoamento das águas”, concluiu.
Vahanle em companhia faz ouvidos de mercador
Igualmente, o que preocupa os residentes ao longo da rua é o facto de o executivo de Vahanle fazer ouvidos de mercador quando lhe é solicitado para reagir. Aliás, o mesmo ocorre quando abordado pelo Ikweli, através do seu director de Comunicação e Imagem, Nelson Carvalho, para avançar a sua versão, ao que diz não ter conhecimento da venda de espaço em alusão, pelo menos até ao fecho desta matéria.
“Estranhamente, no dia 30 e 31 de Dezembro último vimos tudo aquilo a ser edificado. Já ouvíamos rumores de que o espaço estava vendido, mas a quem? não sabemos”, disse uma das nossas fontes, para quem “quando pedimos chamar as autoridades municipais, vereadores da área, não nos aparecem e nunca nos deram à cara. O que vem são os estrangeiros para discutir connosco, mas nós dissemos que não é com eles que temos de conversar, mas com a entidade que concedeu a área”.
Os entrevistados agastados e que no acto da pavimentação da rua foram retirados dos locais, dizem ter enviado cartas ao Conselho Autárquico, mas que nada está a ser resolvido.
Outrossim, alguns dos agentes abordados pela nossa equipa de reportagem, também não dão cara, e relegam o pronunciamento à edilidade.
Enquanto o silêncio da edilidade prevalece, os agentes económicos que adquiriram o espaço prosseguem com os trabalhos de colocação de alicerces, enquanto os munícipes aguardam pelas possíveis consequências quando começarem a disputar a rua com os automobilistas, motociclistas, entre outros. (Texto: Esmeraldo Boquisse *Foto: Hermínio Raja)