Maputo (IKWELI) – Os jovens da cidade de Maputo dizem-se preocupados com a falta de campanhas de consciencialização sobre o cancro da mama, facto que faz com que muitas mulheres não saibam sobre o seu estado de saúde.
Segundo dados do Ministério da Saúde, em 2019, Moçambique registou um total de 25 mil casos de cancro da mama, sendo que dezassete mil pessoas morreram vítimas da doença que poderá aumentar para cerca de 51.8 mil em 2040.
Joana Nhamtumbo, estudante de Medicina, disse a equipa do Ikweli que mensagens apelativas para o combate ao cancro da mama só têm sido frequentes quando chega o mês de Outubro.
“Infelizmente, no nosso país as campanhas ou mensagens de sensibilização sobre como identificar o cancro é muito difícil ou quase impossível, nós só conseguimos ter uma ideia sobre a doença quando chega outubro, por conta das mensagens que são disseminadas”.
Roberto Matusse acredita que campanhas frequentes para alertar a sociedade sobre as formas de prevenção e detecção precoce desta doença, com destaque na mulher, “podem ajudar a ter um diagnóstico muito cedo e assim prevenir muitas mortes, mas para tal, o mesmo devia acontecer em toda época do ano, não somente em Outubro”.
Maida Benete é sobrevivente do cancro da mama, foi diagnosticada em Dezembro de 2016, quando tinha 24 anos de idade, tudo começou com um aquecimento nas axilas, quando em 2015 sentiu dores na mama direita e decidiu ir a uma unidade sanitária, onde lhe foi receitada uma pomada.
“Porque não tinha lá um carroço apenas receitaram-me uma pomada. Então fiquei todo 2015 e, em 2016 comecei a sentir algo anormal na minha mama, comecei a sentir um aquecimento na parte da axila e a mama começou a mudar de tamanho, achei aquilo anormal, na altura eu não tinha nenhuma informação do que era cancro”, disse a fonte.
Maida disse que foi ao hospital provincial da Matola, onde, após ser apalpada nas mamas, foi confirmado a presença de um carroço. Entretanto, só os resultados feitos no Hospital Central de Maputo (HCM), confirmaram que ela tinha cancro.
“Mandara-me para o hospital central de Maputo, onde fui fazer a biopsia, recordo-me que no dia que fui levar os resultados, os médicos não acreditaram, perguntaram se na minha família tinha um caso de cancro e eu disse que não porque não sabia, então eles disseram que tinha um problema no exame e que tinha que se repetir o exame, acredito que eles não estavam a acreditar no diagnostico por causa da minha idade, fizeram um exame rápido e infelizmente deu mesmo resultado”.
Um resultado que para a jovem foi difícil de assimilar, pois, ela não sabia o que era o cancro da mama e achava que fosse morrer. “Eu via nas novelas que cancro de mama era uma sentença de morte. Eu só chorava, porque achava que eu ia morrer, mas o oncologista disse que a cura dependia muito da minha força”.
Benete afirmou que logo foi submetida ao processo de quimioterapia, um tratamento que para ela não foi fácil devido aos seus efeitos como é o caso da queda do cabelo. “Isso deixou-me para baixo porque eu como mulher, primeiro foi pensar como é que a sociedade vai olhar para mim, tendo em conta que a sociedade não está preparada para isso, como vão olhar para mim careca, o que é que eles vão pensar, mas porque eu já estava ali ganhei uma força que até hoje só digo que foi Deus”.
Após várias sessões de quimioterapia, em Março de 2017, Maida, foi submetida a uma cirurgia onde lhe foi retirada toda a mama, e o fator chave para que continuasse a seguir com o tratamento, foi o apoio que recebeu da família.
“Receber a notícia da retirada da mama não foi fácil, porque faz também parte da estética de uma mulher, mas porque era o que podia me salvar eu aceitei. Depois da recuperação da cirurgia continuei com a quimioterapia que terminei em Setembro de 2017, comecei com o tratamento hormonal em 2017 e graças a Deus terminei em Setembro deste ano”.
Em 2018, Maida Benete, através do Facebook conheceu a associação “Casa Rosa” e, desde lá até então, tem ajudado outras mulheres através de palestras contando como é que ela conseguiu vencer a doença com mensagens de que é possível vencer, “porque muitas mulheres que estão na oncologia pensam que vão morrer porque não tem informação, quando alguém é diagnosticada cancro acha que vai morrer, então quando a mulher está nessa situação e ouve a história de uma outra mulher ganha mais forças para poder lutar”.
Diferente da Maida, Isabel Jonas não teve a mesma sorte, pois ela perdeu sua mãe vítima do cancro da mama em Abril do corrente ano. Visivelmente abalada e sem dar muitos detalhes, contou que foi tudo rápido.
“Minha mãe começou a ficar doente, levamos ela ao hospital e lá foi diagnosticada com o cancro da mama, na altura nós não sabíamos o que era, eu penso que se nós soubéssemos do seu estado ainda cedo ela estaria aqui, mas enfim…”, comentou.
Jonas acredita que se houvesse mais campanhas de alerta e consciencialização, a mãe ainda estaria viva. Tendo dito igualmente que não sentiu apoio de nenhuma associação.
“Nós não temos um sítio onde recorrer quando estamos nessas situações, as nossas associações só aparecem quando chega o mês de outubro para nos encher de informações que deviam fazer de forma constante”.
A associação Casa Rosa tem apoiado doentes com o cancro. Neste mês em específico são realizadas várias actividades de conscientização sobre o cancro da mama. Nercia Cassamo, membro da associação, disse que atualmente contam com 96 mulheres em tratamento de hormonioterapia, quimioterapia e radioterapia no HCM e 46 apresentam um quadro clínico melhorado.
“O nosso foco é o cancro da mama! Mas todo paciente oncológico independentemente do tipo de cancro que nos procura e precisa de ajuda a associação ajuda mediante as nossas condições. Desde crianças, jovens e adultos. Ajuda desde apoio psicológico, viagens para tratamento, nutrição”.
Cassamo garantiu que a associação Casa Rosa tem trabalhado em apoio ao doente oncológico todo ano (de janeiro a janeiro), diretamente no serviço de Oncologia do HCM e ao domicílio quando necessário.
“Temos um projeto intitulado “Resgate”, onde junto ao assistente social da oncologia vamos atrás dos pacientes que desistem do tratamento ou deixam de ir as consultas para percebermos o motivo e ajudarmos a ultrapassar as dificuldades desses pacientes”, explica esta fonte.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, o cancro da mama é um tumor maligno que se desenvolve nas células do tecido mamário. É frequente nas mulheres, mas pode atingir também os homens. A doença mata mais de 500 mil mulheres em todo mundo. (Ângela da Fonseca)