Nampula (IKWELI) – O assalto e roubo de motorizadas na cidade de Nampula tomou uma abordagem menos conhecida e descartada por alguns operadores de táxi moto, por sinal vítimas, onde mulheres jovens estão na dianteira, ou seja, lideram os grupos de malfeitores, naquele ponto do país.
O que acontece, segundo apuramos, o modus operands das quadrilhas consiste no envolvimento de mulheres, na sua maioria jovens, que se fazem passar por clientes dos serviços de moto táxi. Na incursão, as protagonistas pedem aos operadores para lhes levar a um certo ponto nas periferias, onde ao chegar assaltam-nos e apropriam-se dos bens. Aliás, há casos em que os taxistas são mortos quando tentam resistir.
Mas para o sucesso das operações, estas mulheres são auxiliadas pelos homens que integram o grupo e que ficam a aguardar pelos taxistas que levam as suas parceiras para o ponto combinado. Tomamos conhecimento ainda que parte dos grupos de assaltantes são liderados por mulheres.
A exemplo disso, é a neutralização e apresentação, na manhã desta terça-feira (27), pela Polícia da República de Moçambique (P.R.M), de duas mulheres residentes no bairro de Namicopo, das quais uma cantora, indiciadas na prática de crime de assalto e roubo de motorizadas na cidade capital provincial de Nampula.
Segundo a Polícia, as indiciadas já nos calabouços da corporação, aproximavam-se dos moto-taxistas e pediam que lhes levasse a um certo ponto. Entretanto, chegados no local, outros integrantes do gangue ameaçavam e agrediam fisicamente os operadores, para depois retirarem as motorizadas.
As indiciadas que assumem o crime descrevem, em poucos detalhes, como tudo acontece. Além disso, embora mostrarem arrependimento, segundo as suas palavras, foram movidas pela falta de dinheiro e a única alternativa foi juntar-se aos seus comparsas rumo ao assalto.
“Para eu chegar aqui na polícia é porque agredia moto-taxistas”, disse uma das detidas, para depois esclarecer que “fui mandado para ir buscar taxista de mota e levá-lo para um sítio, ao encontro do outro jovem para depois lhe agredir. Eu estava com a minha amiga e nós fazemos parte de um grupo do bairro de Namicopo, aqui em Nampula”.
Ao nosso repórter, a indiciada de 23 anos de idade que disse ser cantora e residente numa das unidades comunais de Namicopo, conta que desde que se juntou ao grupo de meliantes já assaltou dois taxistas de moto e apropriou-se de igual número de motorizadas e que ganhou nestas incursões 5.500,00Mt (cinco mil e quinhentos meticais) como recompensa.
“Nós não usamos catanas nem nada. Eu comecei a fazer isso quando me separei do meu marido e foi a convite forçada por uns jovens do bairro, porque antes ameaçaram-nos de violar sexualmente e depois matar”, acrescentou outra indiciada por sinal líder dos assaltantes de motorizadas ora detidos em número de cinco nas celas da 1ª esquadra da P.R.M em Nampula.
A insegurança dos moto-taxistas
Sobre o assunto, o Ikweli passeou nas artérias onde estão os operadores, a fim de colher a sua sensibilidade, onde tomou conhecimento que estes perderam o sossego. Há medo no seio dos operadores, tanto é que duvidam de qualquer pessoa que solicita os seus serviços. Contudo, não têm alternativas de como escapar disso, pois é pela actividade de táxi moto que alimentam os seus filhos e suprimem as suas necessidades.
No entroncamento entre a estrada de Marrere e a N1, em Mutauanha, o taxista Osvaldo António ressente-se do perigo que corre, ao considerar os possíveis destinos dos clientes que se fazem naquele local, no caso do bairro de Marrere, posto administrativo de Muatala sede, bairro do Lourenço, entre outras zonas que ficam nas periferias da urbe.
“Aqui nós não estamos seguros. Em cada mês temos colegas nossos que são ameaçados, arrancados suas motorizadas e outros ainda são mortos quando tentam resistir. Aparecem pessoas aqui que não se imagina a sua real intenção e convidam-nos para lhes levar a sítios diferentes e de poucos movimentos. É normal ao fim do dia vir uma mulher te pedir para lhe levar a Marrere, mas antes de chegar já pede para mudar o destino para a zona da Pedreira, porém, se você tiver má sorte arrancam-te a mota pelo caminho”, referiu Anastácio Mário, outro taxista que opera no cruzamento de Marrere.
Na praça da sipal, no entroncamento entre a Avenida do Trabalho e a rua da Unidade, encontramos o taxista Rafique Mussa que disse ter escapado em Agosto último, uma tentativa de roubo na zona residencial da Barragem, onde a protagonista da acção foi uma mulher que se fez passar de cliente, mas que antes havia montado uma rede no seu destino para o assaltarem.
“Por pouco eu perdia minha mota lá na Barragem. Apareceu uma senhora que me pediu para lhe levar à casa da sua prima que fica na zona da Barragem, mas não conhecia o local por ser a primeira vez a se deslocar para aquele bairro. Entretanto, em plena caminhada efectuava ligações dando as nossas coordenadas, por isso comecei a desconfiar, uma vez que antes disse que não conhecia a zona”, começou a contar a sua história.
A fonte prossegue que “quando passamos da Escola Secundária da Barragem ela pediu para eu reduzir a marcha porque queria comunicar, de repente vejo dois homens a saírem numa machamba indo em nossa direcção e a mulher a descer e pegar o volante antes de eu parar, foi daí que entendi o esquema e graças a Deus, consegui acelerar, deixei cair a senhora e coloquei-me em fuga”, contou sem gravar a entrevista, Rafique Mussa que exerce a actividade de táxi mota na conhecida passagem de nível da sipal. (Esmeraldo Boquisse)