Uniões prematuras forçam raparigas a abandonar aulas em Nivitha

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Nampula (IKWELI) – Em Nivitha, no posto administrativo de Anchilo, no distrito de Nampula, metades das raparigas menores de 18 anos de idade, ainda são forçados a casar prematuramente, situação que acontece com maior incidência na província de Nampula.

Em cada duas meninas, uma contrai matrimónio antes de completar 18 anos e fica grávida precocemente, segundo relatos colhidos pelo Ikweli naquela comunidade.

Em consequência da idade, algumas raparigas enfrentam graves complicações na sua saúde, incluindo a saúde sexual e reprodutiva, incluindo a perda de oportunidade de educação e formação.

Esta situação tem deixado graves traumas e compromete a vida futura de algumas raparigas que são obrigadas a casar prematuramente, por vontade de alguns familiares. Aliás, a principal causa do problema, segundo os moradores entrevistados pelo nosso jornal, é a pobreza, pois muitas famílias com poucos recursos sentem-se pressionadas a deixar que as filhas se casem prematuramente como forma de prover sustento.

Tal como constatou a reportagem do Ikweli, grande parte das raparigas de Nivitha que são submetidas aos casamentos muitas vezes são abusadas e abandonadas.

Naquela comunidade, a reportagem do Ikweli entrevistou algumas raparigas vítimas destas práticas. Actualmente com 17 anos de idade e mãe de 2 filhos, C. Sebastião, conta que uniu-se, forçosamente, com um mais velho, o qual a proibiu de continuar a frequentar a escola. Mas, mesmo assim, este violador não ficou com ela. Abandonou-o a menor, com outros dois menores (filhos), e foi casar uma outra menor, por sinal vizinha da primeira vítima.

A menor I. Amade, de 16 anos de idade, também, viu-se forçada a aceitar um casamento, com um indivíduo que devia ser o exemplo da moral em uma sociedade, pois é professor no Sistema Nacional de Educação na vila de Namapa, distrito de Eráti.

Esta adolescente relata que “obrigaram-me a casar com um professor em casa, em Namapa, na altura ele tinha 39 anos de idade, eu frequentava a 6ª classe, ele tinha prometido para os meus pais que iria voltar a escola assim que chegássemos a cidade, obrigaram-me a abandonar os estudos e agora eu vivo em péssimas condições, todos dias tenho que ir a machamba ou vender bolinhos para poder ter um valor para me sustentar”.

A história da Isabel é uma entre várias, em que as raparigas vêm interrompidas muito cedo os seus sonhos devido ao casamento prematuro. Em Nivitha os hábitos socioculturais obrigam que as raparigas e rapazes ao completarem 12 anos de idade, sejam submetidos aos ritos de iniciação. Ao sair, os rapazes são liberados para continuarem os seus estudos, mas as raparigas são direccionadas para casamento, para formar lar e cuidar dos filhos.

Muanacha Abdul, de 17 anos de idade, teve que abandonar a escola para frequentar a madraça, a fim de aprender práticas da religião islâmica e, com o casamento prematuro, também, passou a cuidar da família.

A fonte conta que teve de enfrentar vários desafios, entre os quais, levantar-se todos os dias às quatros horas de madrugada para a machamba, frequentar a madraça, executar as actividades domésticas e cuidar do marido e dos seus filhos.

“Quando terminei a 7ᵃ classe, com 13 anos, fui aos ritos de iniciação onde fiquei quase quatro semanas, e perde o ano lectivo. No ano seguinte, regressei à escola contra a vontade da minha tia que dizia que já era altura de ir ao lar. Com o a poio do meu primo, que é professor, consegui terminar a 8ᵃ classe, um homem veio a minha casa pedir aos meus pais para casar comigo. Ela aceitou o pedido. Cumpriram-se com os rituais e daí fui ao lar, deixando para trás a escola e muitos sonhos”, disse a fonte.

Esta dura rotina, impediu a Muanacha de gozar a sua adolescência e hoje está impossibilitada de desfrutar da juventude e dos seus direitos.

Com dois filhos, de três e um ano respectivamente, a Muanacha confessou a nossa reportagem que, quando criança, sonhava ser professora, por ser uma profissão cuja essência é educar, ensinar.

O secretário do bairro de Nivitha, Constantino Abudo, lembra que o problema de desistência das raparigas na escola sempre existiu, mas ultimamente esse assunto é um fenómeno que já está a ter alguma solução, embora alguns continuam a casar as suas filhas cedo, alegando que é para ajudar a família.

Elisabeth Francisco, diretora-adjunta pedagógica da Escola Primaria do 1̊ e 2̊ graus de Nivitha, diz que o problema é mais grave em relação a desistências e casamentos prematuros.

“Estamos a tentar fazer a estatística do segundo trimestre, só assim havemos de ter um número exacto das raparigas que desistiram. Mas mesmo assim os números das raparigas desistentes que temos, nos preocupa, porque no ano passado (2021) até início deste ano (2022) tivemos 19 raparigas que desistiram, e algumas turmas quando passo por lá as alunas sempre dizem, que a colega fulana já está casada ou esta grávida”, concluiu a fonte. (Atija Chá)

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