Nampula (IKWELI) – Indivíduos desconhecidos estão a vandalizar campas nos cemitérios, tanto familiares assim como municipais em Nampula, no norte de Moçambique, com o propósito de extrair ferro e mármore, usados na construção das cruzes e outras partes.
Este material colectado nos locais de repouso eterno é, a posterior, comercializado no mercado informal, sob forma de sucata.
Nos últimos tempos, o negócio de ferro velho na cidade de Nampula é visto como uma das alternativas de sobrevivência por parte de alguns munícipes. Cada quilograma de ferro velho, segundo apuramos, chega a ser comercializado ao valor mínimo dez meticais (10.00MT), no mercado informal.
Dada a sua maior procura, o ferro velho está escasseando em Nampula e, como alternativa, os indivíduos, maioritariamente jovens, avançam com a vandalização das campas, onde retiram o referido metal.
Exemplo disso é o cemitério municipal de Cotocuane, localizado no bairro de Namutequeliua, posto administrativo municipal de Muhala, onde os familiares com entrequeridos sepultados no local mostram-se preocupados com o fenómeno.
Aliás, para alguns familiares ouvidos pelo Ikweli, uma das razões que facilita a acção desumana é a falta de guardas no cemitério de Cotocuane, especificamente, e pedem a intervenção das autoridades municipais para a mitigação do problema.
“O que está a acontecer aqui é a vandalização das campas. Por exemplo, ali é a campa do meu pai, tinha mármore que tinha ferro, vandalizaram aquilo tudo e ficou naquele estado. Outras campas foram vandalizadas as cruzes e ali tinha ferro, onde tem arrame eles apanham e deixam a cruz inclinada”, disse João Manuel Lipeque.
“Então, todas as campas onde tem ferro são vandalizadas e isso indigna a nós que somos familiares que tentamos construir uma campa de modo que os netos amanha venham conhecer que aqui foi enterrado o nosso avô, o nosso tio, o nosso ente – querido, mas isso não há-de ser possível por causa dessas vandalizações que estão a ocorrer aqui, por isso estamos mesmo indignados”, continuou Lipeque.
“Ontem quando viemos fazer limpeza é que vimos isso. Antes eram apenas as cruzes com ferro. Desde que morreu o guarda Marcelo que se dedicava a este cemitério começou essa vandalização das cruzes e outras coisas, mas agora é o cúmulo, eles já tiram toda campa, destroem toda campa deixando naquele estado”, acrescentou, lamentando o nosso interlocutor.
Para Rosa Manuel Lipeque “a falta de guarda aqui é uma preocupação mesmo, porque o que fizeram com a campa do meu pai é sentimental. De momento estão a tirar ferro, mas depois vão começar a tirar os ossos dos mortos. Assim como vamos ficar? É uma situação triste que estamos a ver aqui”.
“Essas pessoas começaram há muito tempo a tirar as cruzes, agora estão a começar com as próprias campas, assim como é que nós vamos ficar, principalmente aquela minha filha que é mais pequena, como é que vai conhecer a campa e o nome da avó dela enquanto já tiraram as coisas ali?”, questionou Rosa Manuel Lipeque.
Para além das campas, o que o Ikweli constatou no cemitério de Cotocuane é que o próprio ferro usado para os pilares do muro de vedação, também está sendo retirado.
“Em primeiro lugar quero sensibilizar essa gente de que isso não é bom. Nós somos seres humanos e esperamos passar neste mundo, então não dá invadir as campas para vender o ferro porque sabemos que isso vai nos prejudicar. Temos que deixar”, disse Amade Júnior, um dos compradores de Ferro velho nas periferias do cemitério de Cotocuane.
Tentamos ouvir o pronunciamento das autoridades Municipais a volta do assunto, mas que se mostrou indisponível falar a imprensa para o efeito até o fecho desta matéria.