Nampula (IKWELI) – O arcebispo de Nampula, dom Inácio Saure, considera que a experiência da democracia em Moçambique está tremida, uma vez que a transição de poderes constitui motivo de insatisfação para as pessoas que, movidos pelos interesses pessoais ou de grupos, não aceitam passar aos outros.
Esta situação faz com que o clérigo tenha reservas relativamente aos próximos pleitos eleitorais, precisamente as autárquicas de 2023 e as gerais de 2024.
“Quantos dirigentes religiosos, políticos ou de associações, todo aquele que é dirigente, passam o poder tão livremente aos seus sucessores?”, questionou o chefe máximo da igreja Católica em Nampula, durante a missa que marcou o fim da peregrinação de jovens ao santuário de Rapale.
Saure prosseguiu na ocasião afirmando que “quando se aproximam as eleições vós sabeis melhor do que eu. Há visitas noturnas aos curandeiros, nascem ódios, criam-se pequenos partidos de oposição para inviabilizar o mandato do outro nas nossas comunidades cristãs”, para depois questionar: “será que não sabemos que na igreja autoridade é serviço e quem reina é aquele que serve, aquele que lava os pés dos irmãos como nos ensinou Jesus?”, recordando que “isto é que é poder e autoridade”.
Na sua pregação, dom Inácio Saure questiona as razões que levam os governantes que não querem passar o poder aos outros, aliando-se no seu discurso de que autoridade é serviço e quem reina é aquele que serve ao povo e não se serve do povo. Neste sentido, exorta o auto-reconhecimento de todos os que governam o povo de Deus no seio da igreja, e não só, para estarem ao serviço do povo.
Citando as palavras do Papa Francisco, dom Inácio Saure afirma que é preciso aprender a despedir-se. “Aprenda a despedir-se, dizer prontos, já acabou o meu mandato. Que seja assim para os políticos, também”, isto porque o mais importante é o bem do povo e não as honras, vantagens pessoais, salários acima do salário mínimo do cidadão comum que, também, é filho de Deus e foi criado “à imagem e semelhança de Deus, também, com direito a viver a sua dignidade”.
“Em África os dirigentes são como macaco velho. O macaco velho, também, sabe subir. Ele sobe até no cimo das árvores, só que quando sobe ele olha para baixo e tem medo de descer, já não consegue e cola-se lá mesmo, não quer descer. E sabem o que fazem os homens? Fazem-no cair esse macaco velho”, deu por exemplo o Arcebispo alertando a comunidade a se libertar da escravidão, numa altura em que o país celebra no presente ano 2022, os 47 anos da Independência Nacional.
No contexto da independência do país e a possível libertação dos governantes que não desejam passar o poder, o Arcebispo da arquidiocese de Nampula disse ser primordial envolver a juventude nos processos de governação em todos os sectores da sociedade. Entretanto, há que antes libertar os jovens do consumo e tráfico de drogas que, no seu entender, ofuscam o seu discernimento diante dos desafios do povo religioso e não só.
“Nestes dias circulam informações alarmantes, dando conta que Nampula tornou-se trampolim de tráfico de drogas. Isso não nos honra, muito pelo contrário, é uma grande vergonha na nossa casa que é Nampula e, grande vergonha sobretudo, para queles que têm o dever de preservar o povo deste tipo de males. Aonde queremos levar essa juventude? Aqueles que vos ensinam meus jovens, a consumirem e traficar drogas não vos querem bem, eles estão a matar-vos para não serem capazes de dirigir os destinos desta igreja, o destino deste país”, disse.
Para dom Saure, a edificação de uma nação e o mundo consiste nos três pilares, nomeadamente, a educação, formação e acompanhamento correcto aos jovens. Embora todo o investimento sério seja exigente e muitas vezes passíveis de falhas, segundo disse, investir na juventude garante o futuro da igreja e da sociedade no meio de vários desafios.
Outrossim, aponta a instrumentalização dos jovens na prática de actos que inviabilizam o progresso do país. Por isso, a necessidade de entrega total desta camada social a fim de libertar o povo de Deus dos males que os apoquentam. (Esmeraldo Boquisse)