Nampula: Mão-de-obra infantil é cada vez mais preocupante no carregamento ambulante de produtos diversos

Nampula (IKWELI) – A exploração de mão-de-obra infantil no sector de carregamento ambulante de produtos diversos, na cidade de Nampula, é cada vez mais preocupante, representando uma situação arrepiante e condenável, pela violação dos direitos das crianças.

Na sua maioria da idade compreendida entre os 10 aos 15 anos, as crianças estão espalhadas pelos vários mercados do maior centro urbano do norte de Moçambique, e sempre que chegam um cliente correm atrás para pedir um biscato.

A nossa equipa de reportagem conversou com alguns menores de idade que praticam esta actividade, e disseram que olham como única alternativa de ganhar o sustento para si e em outros casos para a família.

O menino Aires Pedro, de 15 anos de idade, residente no bairro de Mutauanha frequenta o mercado grossista do Waresta a mais de 5 anos, mas muitas das vezes tem abandonado as aulas para se dedicar ao carregamento de produtos diversos. Aires frequenta a 5ᵃ classe na EPC de Mutauanha, mas prefere abandonar para ganhar 150,00Mt (cento e cinquenta meticais) por dia, em resultado da prática desta actividade. O petiz revela que o que lhe faz abandonar a escola são as dificuldades da vida.

“Pratico esta actividade desde 2018 até agora, porque procuro ganhar dinheiro para ajudar os meus irmãos e a minha mãe, não tenho outra coisa para fazer para que conseguir dinheiro para termos comida em casa”, afirma o menor Aires, que ao mesmo tempo dedica-se a venda de sacos plásticos.

Órfão de pai, Pedro Fernando, de 15 anos de idade, também, dedica-se ao carregamento de produtos diversos, e comenta que “estou neste mercado a revender sacos plásticos e a carregar sacos de 25 quilos de produtos diversos, e ganho, por cada saco, 15,00Mt (quinze meticais) a 20,00Mt (vinte meticais) e as vezes dependo dos clientes de boa fé que me ajudam”.

O menor Fernando explica que, com o ganha, consegue suprir parte das despesas da família. “Perdemos o nosso pai há mais de 5 anos e passamos momentos difíceis para conseguir alimentação, dai que senti-me obrigado a recorrer a esta prática nos mercados. Preferi este mercado por ser o mais movimento”.

Edson Francisco, de 14 anos de idade, fala de uma realidade difícil. Os seus próprios responsáveis obrigam-no a praticar esta actividade, e segundo explica “fui submetido a actividade pelos meus pais, no sentido de criar sustento para a família e faҫo a mais de 1 ano”.

Uma preocupação para o governo

De acordo com a diretora provincial do Género, Criança e Acção Social, em Nampula, Albertina Ussene, o trabalho infantil é um facto, não só nos mercados da cidade de Nampula, trata-se de uma preocupação que não só dever ser para o governo, mas de todos.

Albertina Ussene fez saber que “ao nível da cidade de Nampula, a aceitação do trabalho infantil é visível e fácil nas comunidades, portanto aqueles que têm um pouco de coragem alegam que são carentes e essas crianças que precisam de estarem naquele local para poder ajudar de alguma forma no sustento”, mas “deixamos de dizer que estes actos não são recomendáveis”.

A nossa interlocutora apela a todos os pais e encarregados de educação, e a sociedade civil, para a deixarem as crianças irem à escola no lugar de estarem nas ruas a praticarem vendas informais.

Albertina Ussene fortificou que o sector que dirige tem feito atividades de sensibilização nas comunidades, envolvendo os líderes comunitários e pessoas influentes no sentido de dissuadir estas práticas.

“Temos estados a trabalhar com pais e encarregados de educação, porque anteriormente nós fazíamos as palestras dirigidas as próprias crianças e nos sentimos que, provavelmente, essas crianças não têm assim poder de decisão, porque quando você está a passar uma mensagem a uma criança quando ela volta a casa recebe a instrução dos próprios pais para fazer aquela atividade e fica um pouco complicado”. (Nelsa Momade)

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