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Serviços de saúde cada vez mais desumanos no centro de saúde de Namiepe

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Nampula (IKWELI) – Os utentes do centro de saúde de Namiepe, localizado no populoso bairro de Namicopo, arredores da cidade de Nampula, continuam a denunciar mau atendimento caracterizado por cobranças ilícitas, com destaque para o sector de maternidade, onde as parturientes para terem assistência humanizada tem de pagar valores monetários.

Esta não é a primeira vez que denúncias do género chegam a partir daquela unidade sanitária da periferia do maior centro urbano do norte de Moçambique, tanto que sensibilizado com esta triste realidade, o governador Manuel Rodrigues já foi ao local exigir o fim destas práticas ilegais.

Segundo apuramos, para um atendimento digno, as parturientes são exigidas o pagamento ilegal de somas que variam de 400,00Mt (quatrocentos meticais) a 500,00Mt (quinhentos meticais).

Contudo, no mesmo modus operands, o Ikweli recebeu denúncia de mulheres que se dizem agastadas pelo fenómeno que ocorre, sobretudo, no período da noite na maternidade do centro de saúde de Namiepe. Além das cobranças, as denunciantes apontam o comportamento das técnicas de saúde materno infantil, tendo em conta a morosidade no atendimento.

Todas as denunciantes estão devidamente identificadas pela nossa equipa de reportagem, mas por temer represálias, e a seu pedido, mantemo-las em anonimato.

Em interação com uma das denunciantes, ficamos a saber que a prática é recorrente, embora com as denúncias anteriormente feitas, o que faz entender que as entidades fazem um olhar desatento no meio do sufoco dos utentes daquele centro de saúde.

“É lamentável o que acontece naquele hospital. Para ter acesso a senha de atendimento paguei 50,00Mt (cinquenta meticais), as enfermeiras passam muito tempo a conversar e abandonam as pessoas nas fileiras. Os serventes (agentes de serviço) por exemplo, quando pedimos senhas eles respondem mal e quando questionados dizem que não podem ser incomodados”, uma das denunciantes, que não exita em afirmar que “aqui em Namiepe nós estamos mal. Quando eu dei à luz paguei 400,00Mt (quatrocentos meticais)”.

A fonte explicou ainda que vezes há em que crianças ou mesmo pessoas adultas desmaiam, devido a morosidade no atendimento para as consultas médica. “Sentimos muito, por exemplo, uma vez levei minha filha ao hospital porque não estava a respirar bem, chegando lá encontro uma enfermeira, ela disse-me que devia voltar para casa porque a criança estava normal, porém, quando a criança desmaiou a enfermeira é que se deu conta que precisava de atendimento rápido, daí que encaminhou-me ao centro de saúde 25 de Setembro”, acrescentou.

Outra entrevistada que, também, mostrou-se agastada afirma, sem reservas, que para ter atendimento humanizado na maternidade de Namiepe é preciso ter dinheiro. E mais, “na maternidade até hoje sem dinheiro não és atendido, só mereces atendimento rápido e humano quando tiveres 400,00Mt ou 500,0Mt. A pessoa basta saber que está grávida, logo no primeiro mês, também, deve começar a depositar no cofre”, concluiu.

O mais caricato ainda é que no período da noite, de acordo com as nossas fontes, limita-se o atendimento, alegadamente porque o pessoal que faz o turno de noite já se encontra fora do centro. Assim, os doentes vêm-se na obrigação de ou voltar para casa ou então dirigir-se a outras unidades sanitárias, aumentando assim a distância. Entretanto, nessa história toda, há quem, porque tem dinheiro, atendido.

Para além de utentes mulheres, o Ikweli colheu sensibilidades de um cidadão que responde pelo nome de Buete. Este aponta que os agentes de serviços afectos naquela unidade sanitária pedem 20,00Mt (vinte meticais) ou 50,00Mt (cinquenta meticais) em troca de uma senha que é vendida a 1,00Mt (um metical), por isso outros utentes preferem ir ao centro de saúde de Namicopo.

Maria Sabonete, uma das representantes das autoridades comunitárias de Namiepe, em Namicopo, disse, quando contactada, que nas noites não há serviços no centro de saúde de Namiepe, as portas ficam fechadas. Ademais, a falta de medicamentos e não observação devida dos doentes é outro problema apresentado pela nossa entrevista, daí exige intervenção de quem de direito para aliviar o sofrimento da população.

Um dos discursos proferidos por algumas enfermeiras afectas naquele centro, segundo Maria Sabonete, é que “aquele que estiver cansado pode entrar aqui para a consulta”, daí as pessoas entendem que é necessário pagar para ser atendido e quem não procede por esta via fica abandonado a sua própria sorte.

O Ikweli contactou o director do centro de Saúde de Namiepe em torno do assunto, porém, este escusou-se a comentar, alegando tratar-se de acusações falsas e especulações e porque está disponível uma caixa de reclamações onde os utentes podem depositar as suas queixas. Ademais, o director pediu que a nossa equipa de reportagem o conduzisse à residência das denunciantes para apurar a veracidade. (Atija Chá)