Nampula (IKWELI) – O dia 8 de Março de 2012 marcou, negativamente, no contexto de paz e segurança aos moradores da cidade de Nampula, em particular os da Rua dos Sem Medo, em resultado do ataque protagonizado por unidades especiais da Polícia da República de Moçambique (PRM) a delegação da cidade do partido Renamo, sob alegação de estar a albergar homens residuais da perdiz, devidamente, armados.
A operação de estudos e reconhecimento para o ataque levou meses a ser desenhado. Meses antes do ataque, a rua dos Sem Medo registava movimentos desusados de agentes das Forças de Defesa e Segurança, incluindo altas patentes da PRM que se aproveitavam de bares e barracas para vigiar os movimentos dos homens da Renamo.
Neste período, o malogrado líder da perdiz, Afonso Dhlakama, vivia na cidade de Nampula, bem na rua das Flores, que se encontra com a rua dos Sem Medo próximo ao prédio Carvalheira.
8 de Março é o Dia Internacional da Mulher, mas para as de Nampula a data, em 2012, não mereceu festejos pelo medo de ouvirem estrondos de armas pesadas e disparos pela cidade, tanto que as mulheres residentes na rua dos Sem Medo, com terrenos e/ou obras em zonas de expansão, viram-se obrigadas a mudar de residência.
Depois disso, houve entendimentos militares entre o governo da Frelimo e a Renamo, mas nunca se tinha chegado ao estágio de se devolver o edifício, tanto que anos depois do ataque o mesmo ficou sob vigilância da PRM, e depois viria a ficar, praticamente, abandonado.
A devolução da infra-estrutura, acontece dias depois de o actual presidente da Renamo, Ossufo Momade, ter-se reunido com o Chefe do Estado moçambicano, Filipe Nyusi.
O governo confiou ao Secretário de Estado na província de Nampula, Mety Gondola, a devolução do edifício, e do lado da Renamo foi destacada a deputada e delegada política provincial, a irreverente Abiba Aba, para a recepção.
“Esta casa foi objecto de vários assuntos que preocupavam a nossa sociedade e o Estado moçambicano. Esta casa, num contexto atípico, na necessidade de salvaguardar a ordem e segurança públicas foi tomada dentro de um contexto em que todos nós, de uma ou outra forma tivemos oportunidade de acompanhar”, disse Mety Gondola, para depois afirmar que a sede foi tomada num momento anormal, e porque o “Estado moçambicano prima pela protecção dos direitos e da propriedade privada, mas estando em risco a questão da ordem e segurança”.
Com este passo marcado na arena política em Moçambique, o representante do Chefe do Estado em Nampula acredita ser momento de consolidação da democracia e da paz no país, razão pela qual exorta ao uso do imóvel já entregue para fins elencados no processo do diálogo mantido entre o Governo e a RENAMO.
Por isso, “do entendimento do Estado moçambicano e da RENAMO as condições que levaram à tomada deste imóvel estão ultrapassadas. O contexto que levou a decisão tomada está alterado. Hoje sentimos que somos mais irmãos, o processo de consolidação da paz está a ganhar bom espaço e como tal, há um ambiente criado para que normalize o funcionamento do nosso país. Procedemos à entrega do imóvel acreditando que estão criadas as condições para que o partido RENAMO possa beneficiar daquilo que é da sua pertença dentro do respeito da lei e da Constituição da República”, concluiu.
A festa da Renamo
Os momentos vividos pelos simpatizantes e membros do partido RENAMO, após as declarações de entrega do imóvel, foram de autêntica celebração da independência do partido no maior círculo eleitoral do país, Nampula.
Orientados pela delegada política provincial, Abiba Aba, os membros içaram a bandeira do partido, ocasião acompanhada pela entoação do hino daquela que é a maior organização política da oposição em Moçambique.
Aliás, na chegada da comitiva do Secretário do Estado, a RENAMO esteve dividida em três grupos, dos quais um estava num lugar isolado no recinto da delegação preparando as canções para marcar o momento. Foi nesta ocasião que a delegada Abiba Aba sublinhou que o imóvel fez falta ao partido, por isso as razões das festividades. Igualmente, o mesmo servirá para o funcionamento da delegação da cidade.
“Recorde-se que esta delegação tinha sido apoderada a 08 de Março de 2012. E foi através do consenso ao mais alto nível que hoje recebemos esta delegação. Queremos agradecer este gesto do governo por ter pensado em nos entregar a nossa casa, porque fazia-nos falta. Foi triste para nós”, disse a delegada, para quem “queremos agradecer o esforço que Sua Excelência, presidente do partido RENAMO, Ossufo Momade, pela sábia estratégia de governação com o Presidente da República, para que esta delegação hoje fosse entregue ao legítimo dono, o partido RENAMO”. (Esmeraldo Boquisse)