Nampula (IKWELI) – A cidade de Nampula, maior centro urbano do norte de Moçambique, viveu uma segunda-feira bastante agitada, em consequência da paralisação do serviço de transporte semi-colectivo de pessoas e bens, cujos operadores reivindicam o aumento do preço actualmente praticado em resposta ao aumento dos preços de combustíveis no país.
Nem todos os operadores aderiram a greve, mas os que não o fizeram voluntariamente foram forçados a fazê-lo, pois não podiam carregar sequer um único passageiro.
Na rota Muahivire/Waresta, por exemplo, passando pelas Avenidas do Trabalho e Paulo Samuel Kankhomba, era visível um aglomerado de pessoas que percorria a cidade a pé em consequência da paralisação do “chapa-100”.
Em vários pontos da cidade, o Ikweli observou cidadãos parados a pensar no que fazer para chegar aos seus postos de trabalho. Os que podiam encontravam no serviço de táxi de mota como a solução, ainda que os seus operadores, também, tenham agravado o preço em resultado do aumento do preço dos combustíveis.
“Estamos cansados de sermos sempre sacrificados. Regista-se o aumento do preço de gasolina, mas nós continuamos na mesma. O preço de chapa permanece, enquanto os prejuízos que somamos são enormes. Ultimamente virou hábito, ganharmos pouco ou então nada ao exercer essa actividade de transporte de pessoas e bens nesta cidade”, desabafou Emanuel Victor, automobilista em greve.
A posição de Emanuel foi secundada por Lourindo da Costa, outro transportador, que justifica a manifestação com base no aumento dos preços de combustíveis e o silêncio das autoridades governamentais quanto a situação dos transportadores que em Novembro do ano passado, através das associações que tutelam a área, submeteram a proposta da tarifa de preços, mas que não foi apreciada, tampouco aprovada.
Por seu turno, os chapeiros que operam na rota Muhala Expansão/Waresta via Matadouro, disseram que a paralisação das suas actividades é pelo facto de não conseguirem ganhos.
“Paramos de carregar os passageiros porque não estamos a produzir boa receita, com esse preço actual de combustível”, disseram alguns transportadores da rota Muhala Expansão/Waresta, para os quais “antes era normal aquele preço 68,00MT, agora com esse preço de 80,00MT por litro, depois nos cobrarmos dez meticais (10,00MT) por passageiro, não cobre”.
A exigência dos transportadores é “ou ASTRA aumenta o preçário dos chapas de dez meticais (10,00mt) para quinze meticais (15,00mt), ou o governo deve reduzir o valor do combustível”.
O desespero dos utentes
“Estamos aqui parados desde às 06 horas, mas infelizmente não aparecem chapas que estejam a carregar passageiros”, disse lamentando Felismina Castro, uma das passageiras que se encontrava numa das paragens de chapa.
“Até os operadores de táxi-mota já agravaram os preços. Para chegar no centro da cidade, eu pagava trinta meticais (30,00Mt), mas hoje estão a aplicar 50,00Mt, esse valor é muito elevado”, disse Estela Augusto, residente na zona do campo dos Macondes.
Os utentes da rota Waresta/Polígono, entendem que a reivindicação dos transportadores é legítima, apesar da mesma impactar negativamente na vida socioeconómica dos munícipes, no geral.
“Eu acordei por volta das 6 horas e, quando cheguei na estrada, não vi nenhum chapa a circular. Quando perguntei as pessoas sobre o que estava a acontecer, disseram-me que havia paralisação de chapas, não havia chapa”, disse um munícipe que se identificou por José.
Ao Ikweli, José disse ser morador de Mutava Rex, um dos bairros limítrofes da cidade de Nampula, e trabalha no distrito de Rapale. Com a paralisação dos transportes de passageiros, a fonte viu-se obrigada a percorrer uma longa distância, a pé, para o Mercado do Waresta onde iria tomar o transporte para o destino.
“Estou a andar a pé de lá até aqui, já estou uma hora e meia a andar. Saí da Rex e pretendo apanhar outro chapa para Rapale”, disse a fonte, para quem “acho que os transportadores têm razão. A gasolina subiu, chapas inter-distritais e provinciais também subiram, então acho que eles podiam subir, só que não temos como”.
Para Luciano Sualehe, outro munícipe, com a subida de combustíveis era de esperar o agravamento dos preços do “chapa-100”, mas não nos moldes em que os transportadores de Nampula estão a exigir.
“Eles têm razão porque o combustível, também, subiu. O pedido que faço é que não seja esse preço que querem porque é demais. Podia ser 15,00MT (quinze meticais), se fosse a esse valor, seria normal”, precisou o nosso interlocutor.
“Essa paralisação está a trazer grandes bagunças, por isso a cidade hoje está cheia. As pessoas iam a Waresta e aproveitavam os mesmos transportes para irem a Memória, mas agora ninguém consegue ir nenhum sítio longe, tem que andar a pé, por isso que a cidade está assim um pouco agitada. É uma paralisação que nos deixa triste”, considera Sónia Maria Roque.
“Eles até podem ter razão, mas o justo não era de subir de 10,00Mt logo para 20,00Mt. Se o combustível subiu de 71,00mt para 80,00mt, pelo menos eles podiam subir para 15,00Mt, isso seria justo, mas agora sinceramente, os munícipes não terão como. Estamos preocupados mesmo”, continuou a fonte, que pede para que o governo intervenha.
A situação da administração pública
A administração pública, assim como as empresas privadas, também, ressentiram-se da paralisação dos “chapa-100” na cidade de Nampula, e em consequência várias instituições abriram acima do horário normal, porque os seus colaboradores chegaram tarde.
‘A situação de subida de combustível é preocupante e complicada, penso que, por enquanto, não temos outra alternativa se não aceitar e sacrificarmos para chegarmos aos nossos locais de trabalho”, refere Tarcísio Lumbela, funcionário de uma universidade na cidade de Nampula.
Lumbela acredita que “esta situação afecta em vários aspectos. O aumento de custo de combustíveis, também, vai afectar o aumento de custo de vida em diversas perspectivas, transporte, alimentação, entre outros, e vamos estar sempre prejudicados com este aumento”.
José Peganhas, funcionário do Serviço Distrital da Saúde, Mulher e Acção Social de Nampula, considera que “viver com esta situação não está a ajudar a população, assim como nós funcionários”, acrescentando que “estou a largar do trabalho e vou a pé até ao bairro de Muhala-Expansão por aumento de combustível e os transportadores em toda cidade estão paralisados”.
“A cidade está muito agitada, assim como estás a ver, por causa da paralisação dos transportes em consequência da subida dos preços dos combustíveis, as pessoas carregam os sacos na cabeça e isso nos faz voltar ao passado”, continuou a fonte.
Para Nunes Dias, trabalhador por conta própria, a subida de combustível está a trazer impactos negativos nos diversos sectores.
ASTRA culpa Vahanle
Em torno do assunto que mexe com a população de Nampula, em particular a da cidade capital, a Associação dos Transportadores Rodoviários de Nampula (ASTRA), afirma ser uma manifestação ilegal por parte dos protagonistas, mas atira culpa as autoridades autárquicas que nada fazem em relação a proposta da nova tarifa de transportes público de passageiros no raio municipal submetida pela agremiação.
“Esta paralisação é praticamente ilegal, do ponto de vista da ASTRA”, reagiu Luís Vasconcelos, presidente da Associação dos Transportadores Rodoviários de Nampula, esclarecendo que “não é uma greve que está a ser protagonizada pelos proprietários das viaturas, os verdadeiros transportadores, mas é uma greve promovida pelos motoristas”.
Vasconcelos prossegue referindo que a ASTRA submeteu ao Conselho Municipal da cidade de Nampula, no dia 9 de Novembro de 2021, um documento de pedido de reajuste de tarifas dos anteriores 10,00Mt para 15,00Mt, mas que nunca tiveram resposta. Ademais, em jeito de pressão, no passado dia 19 do mês de Janeiro de 2022 a agremiação submeteu novamente o documento ao Conselho Municipal com o conhecimento da Assembleia, e de lá para cá a intenção redundou ao fracasso, apenas resume-se no silêncio das autoridades autárquicas.
O Ikweli soube que a ASTRA foi antes alertada sobre a manifestação dos automobilistas, através de uma ligação telefónica efectuada por um grupo de transportadores na passada sexta-feira dia 18 do mês corrente, caso essa não entrasse em negociação da tarifa com as autoridades competentes, tendo em conta que os preços dos combustíveis que são exorbitantes, a actividade já não produz lucro. Todavia, a resposta da ASTRA limitou-se em dizer que era da responsabilidade do Conselho Municipal dar o veredicto no assunto junto da Assembleia Municipal.
Contudo, “da sexta-feira para segunda-feira dizer que vai aumentar tarifa, não iria acontecer isso, tanto que não aconteceu e, por causa disso, os motoristas decidiram paralisar as suas actividades. A ASTRA está ciente que não é esta via negociável que o Conselho Municipal vai aprovar a nova tarifa”, mas também “esperamos que a qualquer momento o município se pronuncie e nos chame para analisar o documento que entrou em Novembro de 2021. O próprio Conselho Municipal está a ser muito lento ao tratar documentos dessa natureza, tudo recai para o Conselho Municipal que ao pedido da agremiação não tem levado com bons olhos, parece leve o assunto, mas hoje temos esta paralisação”, acusou Vasconcelos ao afirmar que a ASTRA nada tem a fazer neste momento, senão esperar o despacho da edilidade. (Constantino Henriques, Esmeraldo Boquisse, Hermínio Raja e Nelsa Momade)