Nampula (IKWELI) – O Secretário de Estado na província de Nampula, Mety Gondola, cancelou a entrega de kits de trabalho na Ilha de Moçambique, por suspeita de uma selecção duvidosa dos beneficiários.
Esta actividade insere-se no programa “Meu Kit, meu emprego”, uma iniciativa da Secretaria do Estado da Juventude e Emprego, e na Ilha de Moçambique a entrega dos kits devia ter acontecido na última sexta-feira (4).
Das gravidades detectadas por Gondola para não alocar os kits aos seleccionados, está o facto de até funcionários e agentes do Estado terem sido beneficiados, bem como membros de uma mesma família, o que fere os propósitos da iniciativa.
“Nós estamos no distrito da Ilha de Moçambique, vínhamos no processo da monitoria das actividades na componente da juventude. Temos uma série de trabalhos que estão a ser levados a cabo ao nível do distrito, dentre esses, tínhamos programado a entrega de kits que permitam aos nossos jovens trabalho e com ele gerar os seus rendimentos que lhes possam ajudar a mudar de vida e melhorar a condição de vida das suas famílias”, disse Gondola, prosseguindo que “a meio deste processo, quando fazíamos a última verificação, constatou-se inúmeras irregularidades que no nosso entender são graves. Não são irregularidades sanáveis de forma ligeira, são questões que mexem com a nossa forma de ser e abordar a responsabilidade que carregamos ao implementarmos programas desta natureza”.
Em entrevista, Mety Gondola destacou que nas listas dos beneficiários existem pessoas integrantes da mesma família, duas ou três a beneficiarem dos kits, o que é inaceitável. O facto é que naquele distrito existem pessoas que necessitam de oportunidades, daí que concentrar o apoio numa única família significa, de acordo com a fonte, criar distorções do objectivo deste projecto.
“Verificamos nas listas o facto de haver concentração das mesmas zonas onde se fez o apuramento. O distrito é vasto e é preciso criar equilíbrio. Ao apurar-se verificamos de igual forma que há funcionários públicos a receber, isso é inaceitável, não pode ser. Com este programa nós estamos a procura de criar oportunidades de emprego para os jovens que não têm, aqueles que farão o uso destes recursos para gerar sua renda. Os próprios termos de referência já fazem menção de que o funcionário público não é elegível, então não podemos estar num cenário em que concentramos os recursos e as oportunidades num pequeno grupo de pessoas. Se já tem o seu trabalho, concentre-se, trabalhe”, prosseguiu.
O programa “Meu kit, meu emprego”, ao nível provincial é gerido pelo Serviço Provincial da Justiça e Emprego, o qual é dirigido por Cachimo Raul, que é natural da Ilha de Moçambique.
Haverá responsabilização
Verificadas as constatações que tornam o processo uma falcatrua, no distrito da Ilha de Moçambique, o Secretário de Estado na província de Nampula garante que serão responsabilizados disciplinarmente os que forem provado o seu envolvimento no acto do registo e apuramento dos beneficiários.
“O que definimos é que não vamos tapar o sol com a peneira. Viemos aqui, não procuramos explicações extras que não são. Viemos dizer qual é a realidade do problema. Tivemos de abordar os próprios jovens para darem explicação sobre o que está a acontecer e pedimos desculpas por termos esta situação, mas fazer-lhes acreditar que nós como moçambicanos temos de continuar a fazer as coisas correctamente e este programa deve significar o compromisso que o governo tem de aplicar os recursos que são disponibilizados”, referiu Gondola, para quem já instruiu ao administrador daquele distrito para lavrar-se processos disciplinares aos funcionários envolvidos no processo.
Informações partilhadas pelo dirigente à Imprensa é que se vai criar uma comissão de trabalho, separada do distrito, com vista a apurar minuciosamente como foi a gestão do processo e, seguidamente, tomar-se medidas severas. “Nós cancelamos a entrega de kits, o que viemos aqui fazer é dar explicação aos jovens para não haver especulações, não quisemos fabricar justificações, dizer que estamos a cancelar por sobreposição de agenda, não é isso. É por termos verificado que há falcatruas, é por termos verificado que o processo não foi correctamente feito, há má-fé na afectação neste caso. Isto não tem outro nome, é corrupção, distorcer aquilo que é o nosso objectivo”, rematou Gondola, apelidando os protagonistas dessa fraude de maldosos, ou então pessoas sem bom coração. (Esmeraldo Boquisse)