Nampula (IKWELI) – A depressão tropical Ana que se fez sentir na cidade e província de Nampula veio agravar o estado social das famílias vítimas do terrorismo que se encontram acomodadas nesta parcela moçambicana.
Da ronda que o Ikweli fez, em alguns pontos da cidade e província de Nampula, após a depressão, deparou-se com um cenário de destruição de centenas de residências daquelas famílias, maioritariamente construídas na base do material não convencional.
A zona de Nahene, localizada no posto administrativo municipal de Namicopo, na cidade de Nampula, é exemplo dos pontos que o Ikweli visitou, onde maioritariamente é habitada pelas famílias deslocadas do distrito de Mocímboa da Praia. No local, foi possível observar o desespero das famílias que acabavam de perder, também, o que sobrava para se alimentarem.
Uma das famílias que perdeu a sua residência é composta por cinco membros, todas mulheres, e é chefiada por Fátima Kombo Atibo e Alsa Pira, e as restantes são meninas. As referidas chefes de famílias são viúvas. A dona Fátima, por exemplo, conta que o seu marido foi vítima dos terroristas, a passo que o parceiro da Alsa morreu no ano passado vítima de doença, em Nampula.
“Estamos mal, a nossa casa caiu por causa daquelas chuvas, nossos maridos morreram, e estamos sem comida para nos alimentarmos”, disseram as nossas entrevistadas, pedindo apoio às pessoas de boa-fé. “Estamos a pedir comida, também nos ajudarem na reconstrução da nossa casa”, disseram as nossas fontes.
Até o tempo que a equipa do Ikweli escalou Nahene, por volta das 15 horas da última quinta-feira (27 de Janeiro), nenhuma equipa, tanto governamental ou de outra organização, havia se feito presente naquela zona residencial, sinal inequívoco de que, as residências ali destruídas podem não ter constado nas estatísticas das autoridades governamentais de Nampula.
Aliassa Abdala é outro deslocado na zona de Nahene que viu seu esforço traduzido a nada pela fúria do ciclone Ana. O nosso entrevistado disse ser pedreiro, mas a sua profissão não tem tido mercado pelo facto de ser desconhecido. Aliás, para garantir o sustento da sua família, Aliassa tinha uma padaria na sua nova residência, mas que, também, foi destruída pelos ventos fortes.
“Não sei o que se passa”, começou por lamentar a fonte. “De domingo até hoje estamos a sofrer com essas crianças, e ninguém do governo passou aqui. Não sei o que se passa. Nós somos deslocados e muita gente nesta zona é de Mocímboa da Praia. Não temos comida”, frisou, recordando que “a última vez que recebemos a comida foi o mês de Agosto. De lá até hoje não recebemos apoio vindo do governo, então estamos a sofrer aqui, temos tentado fazer biscatos, mas não tem sido fácil”.
“Estou a pedir ao governo para nos ajudar. Eu sou pedreiro, tenho outro colega, então pelo menos emprestar-nos dinheiro para fazermos alguma coisa. Nesses cinco meses, eu tinha forno aqui, mas partiu-se por causa da chuva, pelo menos apanhava pouco dinheiro”, disse o chefe de uma família composta por sete pessoas.
Para além de Nahene, a depressão afectou, grandemente, os deslocados espalhados um pouco por toda a província de Nampula. No distrito de Rapale, também, ao Ikweli lhe foi partilhada a informação de destruição de pelo menos dez (10) casas, afectando igual número de famílias.
Portanto, trata-se de inúmeras famílias vivendo em circunstâncias lamentáveis, e todas elas clamam pelo apoio para suprirem com as suas necessidades básicas para sobrevivência. Aliás, apesar de o Primeiro-Ministro, Carlos Agostinho do Rosário, considerar ser demasiado longo o tempo em que os deslocados vivem pedindo apoios, que nunca aparecem, é que os mesmos, sobretudo os que vivem dentro e nas periferias da cidade de Nampula, não dispõem de áreas para a prática de agricultura, por exemplo, assim como a insuficiência de recursos financeiros para desenvolverem actividades comerciais. (Constantino Henriques)