Nacala (IKWELI) – O tráfico de drogas, tendo como principal ponto de entrada o porto de Nacala, na província de Nampula, está a tornar-se cada vez mais forte e com o envolvimento de novos actores. Já tínhamos reportado em Março deste ano sobre os contornos de uma larga apreensão.
Uma investigação levada a cabo pelo Ikweli, naquele porto, apurou que devido as dificuldades para o manuseamento de drogas proibidas na República de Moçambique, os responsáveis da rede tiveram de alargar a base dos actores envolvidos nos processos.
Com efeito, e para evitar situações de interceção e captura pelas autoridades policiais, a rede decidiu por envolver funcionários dos sectores responsáveis pela fiscalização.
O trânsito de drogas no porto de Nacala não é algo novo, e é tido como sendo um ponto estratégico na África Austral para o baldeamento para o efeito antes do seu envio, via terrestre, para a Africa do Sul e depois deste pais para mercados europeus e asiáticos.
Quem, também, passou a fazer parte da rede são os condutores de camiões que, para o porto de Nacala, vão fazer o levantamento de mercadoria diversa para distribuir pelo país e para outros países da região.
Houve tempos em que as drogas eram logo apreendidas antes de entrar para o mercado nacional. Nessa época, os técnicos das Alfândegas não faziam parte do circuito de movimentação. Aliás, os técnicos que controlavam as câmeras de vigilância, também, não faziam parte dos esquemas, por isso as denúncias eram frequentes.
Entretanto, de um tempo a esta parte o cenário mudou. É que as operações deste calibre são do conhecimento de todos os funcionários, tanto é que quando uma equipa de inspecção decide fazer uma visita ao local, ocorre uma comunicação no sentido de se travar as operações ilícitas.
Os serviços de scanner estão a cargo da empresa Kudumba Investiments, Limitada. Trata-se de um negócio adjudicado pelo Governo, com o apadrinhamento de altas figuras do Estado para viabilizar a entrada de drogas.
O Ikweli apurou que houve tempos em que alguns funcionários dessa firma que não compactuavam com essas práticas faziam denúncias anónimas. A rede de tráfico apercebendo-se da situação acabou alterando a forma de actuação.
Nos dias que correm o circuito tornou-se mais secreto. Informações em nosso poder referem que a entrada da droga pelo Porto de Nacala é feita de diferentes formas. Há traficantes que preferem descarregar o produto a partir da praia do Fernão Veloso, antes mesmo do navio atracar no Cais do Porto, recorrendo-se a pequenas embarcações, na sua maioria de fabrico tradicional.
Vezes há em que, mesmo chegando no Porto, a operação de retirada da mercadoria ilícita é feita antes de os contentores serem descarregados do navio. A carga é colocada nos pequenos barcos para seguir outros destinos.

O nosso repórter apurou, ainda, que outros contentores contendo as drogas passam pelo Porto de Nacala, mas criam-se mecanismos de evitar a passagem pelo scanner. Quando isso acontece há o envolvimento da direcção do Porto de Nacala, que dá ordens aos conferentes para não questionar a proveniência e o destino da carga.
As nossas fontes, que pediram anonimato por temerem represálias por parte dos superiores hierárquicos, disseram que essas operações acontecem a meia-noite para evitar qualquer tipo de fuga de informação.
Os conferentes recebem ordens acompanhadas de ameaças sob risco de perder o emprego, caso alguém tente frustrar a movimentação de mercadorias ilícitas. “Quando a mercadoria é ilícita surgem ordens para não exigir documentos, não fazer anotações do contentor e muito menos obrigar a passar pelo scanner. A partir desse momento começamos a desconfiar o tipo de carga”, disse o nosso entrevistado.
Olhando para os investimentos que estão a acontecer no Porto de Nacala, do ponto de vista de obras de reabilitação e a melhoria dos níveis de segurança, o nosso jornal ficou a saber que não há espaço para essas manobras sem o envolvimento directo de gente graúda.
Dizem que os profissionais das Alfândegas estão, directamente, ligados ao movimento de drogas. O director do Porto de Nacala, Neimo Induna é apontado como sendo que a pessoa que dá as caras para dirigir as operações secretas. Contudo, a nossas fontes afirmam que ele só está a ser usado por figuras que não podem aparecer.
O director do Porto de Nacala é apontado como a pessoa que liderou a contratação de novos funcionários, dentre eles amigos e familiares, através dos quais instalou uma equipa de supervisão para controlar os movimentos estranhos. É esse grupo que tem a responsabilidade de comunicar ao “chefe” sobre qualquer trabalhador que tenta promover a fuga de informação referente as operações secretas.
Nos últimos tempos, os membros da referida rede de traficantes adoptaram uma medida para despistar a atenção de quem quer que seja a pessoa curiosa. É que os documentos que acompanham os contentores já não apresentam detalhes do tipo de mercadoria em trânsito.
O portfólio que apresenta o Programa de operação de contentores, emitido pela direcção dos Caminhos de Ferro de Moçambique, órgão que gere o Porto de Nacala, omite o tipo de mercadoria, limitando-se a referenciar “Carga diversa” e o nome do cliente, ou seja, o proprietário da mercadoria.
Trata-se de um pormenor que é observado em todos os contentores que entram naquelas infra-estruturas portuárias.
Os nossos informantes revelaram que as drogas que são apreendidas e anunciadas na imprensa os seus proprietários recusam-se a “colaborar” com todos os intervenientes no esquema de movimentação. Ate ao fecho da nossa edição, todas as tentativas de ouvir a versão do diretor do porto foram infrutíferas. Mas prometemos continuar a envidar esforços de o oferecer o direito que o assiste: o do contraditório. (IKWELI)