Nampula (IKWELI) – Os moradores da comunidade de Namuatho B e a direcção da Escola Primária Completa local estão de costas voltadas, em resultado da disputa de um espaço de terra que cada parte reivindica titularidade.
O conflito remota de 2019, e em causa está o quarteirão três, sendo que a antiga directora da EPC de Namuatho B lidera a expulsão da população do espaço em referencia. No local, alguns moradores ergueram as suas casas e ocupam a terra de boa-fé.
Segundo apurou o Ikweli os moradores estão desesperados, e dizem que nunca foram esclarecidos que o espaço pertence a escola.
Ângelo Alaneque é pai e residente em Namuatho B há mais de 25 anos. Ele conta que, antes da instalação da escola, a zona era habitada e pertencente à missão católica que por motivos religiosos movimentou pessoas para residirem no espaço e, consequentemente, muitos foram baptizados e de seguida casados pela igreja e construíram as suas famílias naquela região.
“Quando os nossos pais e avós perderam a vida, nós, os filhos já crescidos, ficamos a viver nas terras dos nossos antepassados, fizemos as nossas famílias até esta altura em que estamos a ser forçados a abandonar o local sem nenhuma indemnização por parte de quem nos manda embora”, contou Alaneque.
A fonte deu a conhecer ainda que nesta senda, a antiga directora da escola forçou os moradores a abandonarem os espaços, tendo prometido atribuir uma porção de terra de cerca de 10 a 15 metros de dimensão para estes erguerem as suas habitações na zona próxima do rio que se localiza naquela região. No entanto, a proposta foi recusada devido a tamanha redução do espaço atribuído e por se tratar de uma área localizada nas margens de um rio.
“Nós estamos a ser enxotados com a directora da escola junto com o seu presidente da escola. Ela disse que temos de sair no espaço escolar para ocuparmos um outro espaço, perto do rio, onde ela demarcou 10/15 para os abrangidos. Porém, nós recusamos porque somos muitos e as dimensões que nos seriam atribuídas são muito reduzidas, até porque é próximo do rio”, e mais, “temos conhecimento de que chegou um cidadão chinês que pretende comprar o espaço em conflito. O suposto comprador contactou com a directora e fizeram o acordo, e para o efeito tinham de encontrar uma forma de nos retirar sem nenhuma compensação, daí que a alegação foi de que o terreno pertence a escola de Namuatho B”, acrescentou Tomás Salvador, outro morador entrevistado pela nossa reportagem.
No meio das alegações que apontam a direcção da escola, os moradores que se dizem vítimas garantem que não vão facilitar o processo, até que haja intervenção de quem de direito para solucionar o problema. Em suma, “como moradores desta zona desde há muito tempo não aceitaremos isso. Não queremos sair daqui sem nenhuma coisa que pode nos moralizar. O que queremos é a intervenção do município de Nampula, fazer a demarcação e a respectiva atribuição aos nativos”, rematou.
Outra informação avançada pelos residentes é que nunca foram auscultados sobre o facto até à data em que começaram as ameaças em Novembro de 2019, por parte da referida directora da escola. Ademais, a mesma directora acusa os moradores de a ameaçar de morte caso ela (a directora) insista na retirada daquela população que não aceita abandonar sem remuneração.
“O que nos preocupa é que não há esclarecimento sobre o que se pretende com este espaço onde estamos a ser retirados. E mais, nós sabemos que o presidente da escola construiu uma casa de raiz no mesmo espaço da escola, mas quem deve sair somos nós, isso é mau”, lamentou Daúto Alberto, outro lesado que acrescenta que em resultado desse caso um dos moradores foi vítima pela acção policial o que culminou com a detenção de um munícipe.
“Por causa desse assunto de terreno foi movimentado um contingente da polícia liderado pelo comandante distrital de Nampula e o chefe do posto policial da FAINA para aquele local. O que aconteceu é que recebemos uma convocatória pelo presidente da escola de que tínhamos de participar uma reunião, entretanto, quando lá chegamos deparamo-nos com uma Mahindra cheio de agentes da polícia, o que nos preocupou, uma vez que não houve agressão. Por causa disso, duas pessoas ficaram detidas no posto policial da FAINA”, denunciaram os moradores da unidade comunal de Namuatho B, bairro de Mutauanha, arredores da cidade de Nampula.
Uma informação não menos importante é que, quando nos dirigimos a direcção da EPC de Namuatho B para ouvir a contraparte, tomamos conhecimento de que a referida directora que tentou desalojar aquelas famílias foi substituída por um novo director. Entretanto, este novo director disse não ter informações claras sobre o assunto, daí viu-se na impossibilidade de reagir em torno do conflito. (Esmeraldo Boquisse)