Nascer em Mocímboa da Praia é motivo para ser perseguido pelas FDS

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nascer em Mocímboa da Praia para ser violentando por militares

Nangade (IKWELI) – Ter nascido e estar a viver em um dos cinco distritos assolados pelos ataques terroristas, na província de Cabo Delgado, é um duplo martírio. Se por um lado, a população sofre nas mãos dos terroristas, por outro lado, também, é seviciada pelos membros das Forcas de Defesa e Segurança (FDS).

Uma investigação levada a cabo pelo Ikweli, nos últimos seis meses, no distrito de Mocímboa da Praia constatou que, desde Outubro de 2017, altura que começaram os ataques, a população local foi sempre encarada com desconfiança por parte das FDS, alegadamente, por estar a colaborar e proteger os integrantes do grupo terrorista.

É nestas desconfianças que residentes locais são agredidos e violentados brutalmente, sem dó e nem piedade, tal como aconteceu no dia 24 de Agosto com um jovem (Nota do Editor, omitimos o nome para salvaguarda da sua integridade e de modo a não sofrer possiveis represálias): na vila-sede do distrito de Nangade, o qual é natural de Mocímboa da Praia.

A vítima contou ao nosso correspondente em Mocímboa da Praia, que membros das FDS interpelaram-no, e sem direito a defesa, julgaram-no como colaborador dos terroristas, tendo-o sentenciado a torturas físicas.

“Eles (as FDS) quando pegam os nativos batem e arrancam os seus bens, sobretudo o dinheiro”, disse um residente de Mocímboa da Praia entrevistado pelo nosso correspondente.

Um outro morador de Mocímboa da Praia disse ao Ikweli que “desde que começou esse assunto [ataques terroristas] sempre vivemos com medo, tanto dos próprios terroristas, assim como dos militares moçambicanos”, prosseguindo que “desde que chegaram as tropas estrangeiras as coisas tinham melhorado, mas os nossos militares encontram espaço para sair e ir perseguir a população, bater nas pessoas e arrancar os seus bens”.

Na vila sede do distrito de Mocímboa da Praia, o nosso correspondente constatou que muitos comerciantes, sobretudo os de origem asiática (paquistaneses e indianos), tem sido vítimas de roubos protagonizados por membros das FDS que retiram os produtos por eles vendidos.

“Normalmente, quando eles roubam dos indianos vendem os produtos à população a preços mais baixos. Por exemplo, é normal venderem 15 quilogramas de arroz entre 300,00Mt (trezentos meticais) a 500,00Mt (quinhentos meticais) e motorizadas de marca lifo costumam a vender até 2.500,00Mt (dois mil e quinhentos meticais)

De 36 anos de idade, a senhora Mariamo Salimo não escapou da fúria dos militares moçambicanos, e segundo conta, “até hoje tenho dores no braço e na cintura, por causa da agressão que sofri com os nossos militares”.

“Os militares vieram na minha casa e disseram que queriam fazer revista. Eu não lhes proibi. Entraram e não encontraram nada, depois de revirar tudo”, disse a senhora Mariamo, afirmando que para alem dela, o irmão, de 50 anos de idade, Changama Muinde, também, não escapou da violência militar.

Nas aldeias de Miteda e Matambalale, os residentes locais denunciam casos de violação sexual de mulheres, cujos autores são militares moçambicanos que estavam acampados na região.

“O que acontecia é que quando os militares encontravam uma mulher perseguiam-na e a violavam sexualmente”, disse uma vítima, cuja identidade omitimos por razoes segurança. A mesma vítima conta, ainda, que “para além de violar as mulheres da minha aldeia, eles roubavam os produtos que encontravam com os nossos homens”.

No dia 24 de Agosto passado, um jovem de 17 anos de idade foi severamente espancado pelas FDS de Moçambique, sob alegacão de ser terrorista, e contraiu ferimentos graves. Esta vítima diz que não lhe foi dada a oportunidade de provar a sua inocência, apenas foi sentenciado para um tratamento brutal.

Não são somente as Forcas de Defesa de Moçambique que estão a torturar as populações locais, como também as tanzanianas.

Nosso correspondente no distrito de Nangade relata que “quase todos os dias moçambicanos e tanzanianos civis que tentam atravessar o rio Rovuma são espancados”.

É ainda em Nangade onde um jovem de 30 anos de idade encontra-se desaparecido. Segundo relatos locais, o jovem teria sido interpelado pelas FDS de Moçambique quando ia para a sua machamba, e lá para cá não se sabe do seu paradeiro.

Originário de Mocímboa da Praia, o jovem desaparecido residia na aldeia Mitope, mas devido aos ataques severos teve de se refugiar em Nangade. (IKWELI)

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