Dificuldades em distinguir civis de terroristas periga vida de nativos nas áreas de conflito em Cabo Delgado

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Pemba (IKWELI) – As Forças de Defesa e Segurança (FDS) de Moçambique, que actuam no Teatro Operativo Norte (TON), mostram-se com enormes dificuldades na distinguição de civis com membros das aldeias locais, dos terroristas, facto que pode estar a concorrer para a violação dos direitos humanos.

Desde a eclosão do conflito armado, em 2017, que fustiga os distritos de Palma, Mocímboa da Praia, Muedumbe, Macomia, Nangade e Quissanga há relatos de que populações civis tenham sido vítimas de maus tratos por parte dos membros das FDS, e que em alguns casos resultaram em mortes.

Em Julho do corrente ano, a Televisão de Moçambique (TVM) publicou uma reportagem apresentando um grupo de pessoas, alegadamente que eram terroristas capturados pelas FDS, mas uma investigação levada a cabo pelo Ikweli desde então, concluiu que as pessoas são populares civis, cuja maioria é natural e residente na aldeia Monjane, no distrito de Palma.

Na conversa com as fontes, depois de verem/assistirem os vídeos exibidos pela televisão pública, disseram que aquelas nunca foram as matas e várias vezes fugiram juntos de incursões terroristas de Monjane a outros locais desde Março até antes da sua captura.

Uma das fontes, natural de Monjane distrito de Palma, que está na cidade de Pemba há mais de 30 dias, conseguiu identificar no referido grupo pessoas que diz conhecer, nomeadamente Ali Madula, Chafim Mogo, Amir, Jadu, Matanga, Momade Madamo, e outras citadas pela rapariga e disse que não são elementos terroristas.

Diz mais que nenhum deles tem noção de pegar ou manipular arma, fora das actividades pesqueiras ou pequenos negócios que eles faziam, presumido que talvez foram pegues, porque Monjane está próximo de Patacua, onde tem a uma das posições das forças de defesa e segurança, numa altura em que as forças de defesa e segurança, suspeitam quaisquer pessoas, tal como afirmou o porta voz das FDS que na caça aos terroristas no terreno todas pessoas são acusadas independentemente do sexo.

“Foi nestes moldes de não condução de investigações exaustivas por parte das forças de defesa e segurança, que muitas pessoas capturadas no distrito de Palma depois do ataque de 24 de março, não regressaram ao convívio familiar, tal como aconteceu com o tio do Momade J, que foi capturado pelas FDS quando regressava de Palma sede, onde fora ver alimentos para família que estava em Quitunda, mas por não ter apresentado o seu documento de identificação que perdeu nas correrias”, disse a nossa fonte.

A mesma fonte prossegue que quando “ele [o tio] foi capturado, ele não tinha documentos, os outros foram deixados, esperaram um pouco a frente, mas não veio e quando chegaram em Quitunda, esperaram ainda mais, mas não apareceu até hoje, explicou Momade J, que lamenta a forma de actuação das autoridades no teatro operacional norte”.

A military convoy of South Africa National Defence Forces (SANDF) patrols in Pemba on August 5, 2021. – The Southern African Development Community (SADC) bloc is rallying behind neighbouring Mozambique, sending troops to battle jihadists wreaking havoc in the gas-rich north and posing a threat to other countries. Regional giant South Africa announced on July 28 it would deploy 1500 to fight the terrorist insurgency that has left more than 3,000 people dead and halted Africa’s biggest private investment yet. (Photo by Alfredo Zuniga / AFP)

Por outro lado, as nossas fontes acreditam que a senhora que foi usada para identificar in loco os presumíveis terroristas, que não passavam de bodes expiatórios, terá sido manietada pelas FDS. Para justificarem as suas barbaridades contra civis indefesos.

Alguns dos integrantes do grupo, ora apresentada na televisão pública nacional, terão, dias mais tarde, liberados pelas FDS, mas outras não tiveram a mesma sorte, e as nossas fontes garantem que foram mortas.

O assassinato destes civis foi sob pretexto de serem insurgentes, mas nossas fontes nas fileiras da FDS garantem que não houve trabalho aturado para, realmente, apurar sem “aquelas pessoas eram mesmo terroristas ou não”.

“Há muitos inocentes mortos sob acusação de serem insurgentes, em critérios pouco claros sobre a acusação”, afirmam nossas fontes, explicando que um dos critérios é o facto de “algum elemento das FDS saber que você tem algum valor monetário”.

Ainda em relação a mulher que se dedica a identificação de presumíveis terroristas, nossas fontes classificam-na como “mulher dos militares”, para dar a entender que “ela namorou com militares, sendo que supostamente já a usaram várias vezes para relações sexuais, depois de divorciar-se”.

Anica Sumail é natural de Monjane, “o pai é um pequeno comerciante e estava em Pemba quando aquilo aconteceu, porque vinha aqui comprar mercadoria, mas não conseguiu passar devido ao mau tempo e voltaram em Matemo”.

Disseram mais que aquela camiseta que vestiu é da equipa futebolística Bafana-Bafana de Monjane, na qual outros suspeitos de serem insurgentes apresentados pelas FDS jogavam. (IKWELI)

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