Nampula (IKWELI) – O Clube Ferroviário de Nampula decidiu, na última hora, em não participar no campeonato nacional de atletismo, prova que arranca hoje, sexta-feira, na cidade de Maputo por, alegadamente, falta de condições financeiras para suportar com as despesas inerentes às deslocações, alimentação, assim como alojamento dos atletas.
O campeonato nacional de Atletismo deste ano tem o pontapé de saída na manha desta sexta-feira (17) na capital moçambicana e, inicialmente, como o Ikweli noticiou na sua edição 775, a província de Nampula estaria representada na competição por oito atletas. Entretanto, este número não vai se concretizar porque o Ferroviário de Nampula, o campeão em título, e que iria participar com seis atletas, pautou pela não participação na prova.
A comunicação da desistência do Ferroviário de Nampula colheu de surpresa à equipa técnica e os próprios atletas que vinham trabalhando com afinco, com vista a sua participação na maior montra do atletismo moçambicano.
Para alguns atletas que falaram exclusivamente ao Ikweli, a posição da direcção do clube locomotivo é infeliz, acrescentando que a mesma decisão veio provar que a única aposta da colectividade é o futebol onze.
“Uma pessoa não contava, depois de tanto treino e na última da hora disseram que não haveria nada, dizem que o clube não tem condições”, lamentou um dos atletas que preferiu falar ao anonimato por temer represálias. Para o mesmo atleta, a justificação da direcção do clube, sobre a falta de condições, é desonesta, e acrescentou que a única modalidade valorizada pela direcção é o futebol.
“Dizem que o clube não tem condições, mas o futebol sempre está em pé, têm feito viagens de voo daqui à Maputo. Agora como é uma equipa de atletismo não é bem vista, nunca há dinheiro, eles alegam que não têm dinheiro, eles não valorizam o atletismo, eles não nos veem como se fossemos…”, referiu o atleta anónimo.
Joaquim Augusto, outro atleta que figurava na lista dos atletas que seguiriam viagem para o nacional de atletismo, também, lamenta o posicionamento da direcção do Clube Ferroviário de Nampula. “É verdade, pela posição da direcção senti-me mesmo desamparado. Eles não nos consideram, apenas levam as condições para o futebol, mesmo fazermos o nosso esforço a direcção não nos considera”, contou o atleta.
“Em Janeiro, também, fomos a Chimoio e trouxemos trofeu ao clube, mas eles não falaram algo até agora, por isso que quando isto acontece não há dúvidas que eles não nos consideram. Apesar disso, nós queríamos ir ao nacional para ver se traríamos mais trofeus ao clube, mas dizem que não tem condições nem de transporte, é uma vergonha para um clube grande como aquele”, precisou Joaquim Augusto.
A tristeza é, também, sentida no seio da equipa técnica chefiada por Ernestina Sagula. Ao Ikweli, Sagula disse não ter informação clara sobre as razões que ditaram o cancelamento da participação da equipa no nacional de atletismo.
“Não tenho nenhuma informação só os chefes é que sabem. Não tenho nenhuma informação sobre as razões desse cancelamento só os chefes do Ferroviário de Nampula é que sabem”, disse a treinadora, reiterando que “o sentimento é de tristeza porque os atletas já estavam a treinar para irem competir”.
A notícia, também, colheu de surpresa a direção da Associação Provincial de Atletismo de Nampula que esperava uma boa representatividade no campeonato nacional. “Nós já tínhamos feito a nossa parte como Associação e contávamos que o Ferroviário iria participar, mas na última hora é quando o Ferroviário disse que não tem fundos para custear a viagem dos atletas para o nacional, então não indo isso cabe ao próprio Clube Ferroviário”, disse Clemente João, vice-presidente para alta competição na Associação Provincial de Atletismo de Nampula.
“Ficamos apertados e desmoralizados porque já tínhamos em mente que, junto dos atletas que a Federação custeou para irem lá porque todos iriam representar a província de Nampula, então quando na última hora o Ferroviário diz que não vai participar por falta de condições financeira, automaticamente nós ficamos um pouco desmotivados”, referiu Clemente João.
Entretanto, José Maússe, secretário-geral do clube Ferroviário de Nampula, suavizou que as reais razões da não participação da sua agremiação na fase nacional tem a ver com questões técnicas. “Toda gente sabe que nesta situação pandémica tivemos limitações e, duma avaliação, chegamos a conclusão que não estávamos devidamente preparados para poder fazer representar de forma condigna o clube e defender o título e representar, também, de forma condigna a própria província”, disse, referindo-se que “limitações não é em termos financeiros, é em termos técnicos mesmo”.
“Nós respeitamos as outras questões porque parece que o problema é vocês devem ir, mas há outras coisas que devem ser analisadas. Não basta participar por participar, nós tínhamos um título para defender e a nossa ideia era, vamos quando estivermos preparados para defender de forma condigna, então houve avaliação nesse sentido”, precisou José Maússe, exclusivamente ao Ikweli. (Constantino Henriques)