Deslocados da guerra de Cabo Delgado provocam pressão no atendimento hospitalar em Nampula

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Nampula (IKWELI) – Enfermeiros do distrito de Nampula, no norte do país, defendem o aumento do efectivo daqueles profissionais de saúde para garantir um atendimento de qualidade e humanizado aos cidadãos, cuja demanda tem vindo a aumentar com a chegada de deslocados da guerra de Cabo Delgado.

O distrito de Nampula, recorde-se, é um dos principais pontos da província que acolhe muitas famílias deslocadas devidos aos ataques terroristas na vizinha província de Cabo Delgado, facto que concorreu na alteração precoce do seu quadro demográfico. É por essa razão que os enfermeiros, nesta parcela moçambicana, exigem às autoridades governamentais a dar maior atenção a este ponto, sobretudo no provimento de mais profissionais de saúde para se adequar com a actual realidade.

Estima-se que ao nível do distrito de Nampula, existem mais de novecentos e trinta mil (930000) habitantes, sem incluir os deslocados, os quais são assistidos por quatrocentos e quarenta e sete (447) enfermeiros, distribuídos pelas 24 unidades sanitárias existentes, o que faz com que 2000 cidadãos estejam a depender de um enfermeiro.

O número ideal, olhando pela demanda da nossa população, nós podíamos falar mais de 1000 enfermeiros no distrito. Nós temos os nossos compatriotas que estão a vir de Cabo de Delgado, e temos, exactamente, que tentar nos arranjar, ver se podemos acolher os nossos irmãos que vem de Cabo Delgado, e prestarmos cuidados de qualidade e humanizados”, disse Belmiro Pedro, representante da Associação Nacional dos Enfermeiros de Moçambique (ANEMO), em Nampula, por ocasião do dia internacional dos enfermeiros que se assinalou nesta quarta-feira (12).

A mesma posição foi comungada por Froi Borges Froi, Médico chefe da cidade de Nampula, para quem “nós sabemos muito bem que a enfermagem é uma profissão mãe, é uma profissão que está em contacto directo, está mais tempo com o doente, está a fazer uma ligação com outros grupos de trabalho na área de saúde, então precisamos de aumentar a nossa equipa para melhorarmos a posterior o tratamento, o cuidado que todo nosso paciente merece nas nossas unidades sanitárias”.

“Apesar do número dos enfermeiros que o distrito de Nampula possui (447), parecer suficiente, para o melhor atendimento devemos aumentar esse número porque, se formos a aumentar, nós estamos a diminuir o tempo de espera no atendimento do doente”, reiterou Froi Borges.

Outra velha preocupação dos enfermeiros, no distrito de Nampula, tem a ver com a morosidade nos actos administrativos, como a mudança de carreira, promoções e progressões, a necessidade de se rever o próprio quadro de remuneração daqueles profissionais, bem como a insuficiência de material de trabalho com destaque para material cirúrgico.

“Segundo aqueles que são os actos administrativos, pensamos nós que de dois em dois anos deviam acontecer os actos administrativos, progressões e promoções. Neste momento temos alguns colegas enfermeiros que não se beneficiam exactamente dessas progressões e promoções, isso verifica-se. Nessas 24 unidades sanitárias há desafios e nós temos que ir atrás disso, temos que colaborar, comunicar com as autoridades governamentais, os parceiros de cooperação e aqueles que são os decisores políticos”, referiu Belmiro Pedro.

“Nós sabemos que trabalhamos muito e, aquilo que é a remuneração não vai ao encontro daquilo que é o nosso trabalho. Nos fazerem elevar, nós como pessoal da saúde. O que peco é que o nosso governo junto do nosso ministério é que percebam que nós trabalhamos e merecemos muito mais, é por aí”, precisou a enfermeira Sónia João.

Para Luciana Vicente, outra enfermeira “nós, neste momento, estamos a enfrentar muita falta de material cirúrgico. Não é culpa das unidades sanitárias, deveu-se a pandemia, uma vez que somos um país pobre e que dependemos dos apoios de outros países, mas estamos a trabalhar”.

Para este ano, o dia internacional dos enfermeiros é celebrado sob o lema “Enfermeiros: uma voz para liderar, uma visão para o futuro dos cuidados de saúde”.

“Com este lema pretende-se transmitir que o enfermeiro é comunicativo, defensor dos direitos Humanos, que deve interagir com as lideranças governamental, comunitária, decisores políticos e investidores, para a superação dos desafios do desenvolvimento do milénio, na melhoria das condições de trabalho, condições salariais, e fornecer evidencias necessárias para convencer os outros de que a saúde é um direito consagrado pela Constituição da República de Moçambique, que só assim caminharemos para melhor transformação dos sistemas de saúde e cuidados de saúde, que significa não apenas a disponibilidade de serviços de saúde, mas um estado completo de saúde físico e mental que permite a uma pessoa levar uma vida social e economicamente produtiva”, enfatizou Belmiro Pedro, representante da ANEMO, em Nampula.

Refira-se que ao nível da província de Nampula, as cerimónias centrais do dia Internacional do Enfermeiro, tiveram lugar no distrito de Mogovolas. (Constantino Henriques)

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