Nampula (IKWELI) – Os vendedores de bebidas alcoólicas na cidade de Nampula, no norte do país, queixam-se da fraca aderência aos seus produtos no período referente ao corrente mês sagrado do ramadan.
As diferentes casas de venda destas bebidas desconhecem o habitual movimento desusado que, habitualmente, se regista nos restantes meses do ano, por isso a queixa agrava-se, desrespeitando o sacrifício porque os praticantes da religião islâmica passam no mesmo período.
Estas reclamações parecem absurdas, tanto que quando se olha pela situação de calamidade pública, devido a pandemia da covid-19, que o país passa, mas a verdade é que as contas estão a apertar para estes cidadãos.
“Quando chega o tempo de Ramadan as nossas vendas caem, porque vários clientes passam a jejuar”, disse o comerciante Genivaldo Baptista, prosseguindo que “isso não é só esse ano. Nos anos anteriores, também, temos tido esse baixo nível de vendas dos nossos produtos”.
Numa das ruas da cidade de Nampula, pensativo e encostado ao seu estabelecimento de venda de bebidas alcoólicas, conversamos com o jovem Calton Sousa, que entende que o facto de os muçulmanos não estarem a beber provoca constrangimentos nas suas receitas.
“Desde que iniciou o jejum, na religião muçulmana, na bebida registamos uma queda. Não estão a comprar as mesmas quantidades”, disse este nosso interlocutor, afirmando que “são mesmo poucas pessoas que vêm comprar. Como vês está vazio aqui”.
Há ainda comerciantes que defendem que a redução da cliente se deve, maioritariamente, pelo facto de o mundo estar a passar por uma das pandemias mais mortíferas do século XXI, a covid-19. Célio Pedro é apologista deste entendimento, ainda acreditando na contribuição negativa do Ramadan.
“As pessoas compravam a bebida no horário estabelecido”, disse Pedro, assegurando que “passar daqui as 12 horas tinha enchentes, porque fechamos as 13 horas, mas quando o mês do Ramadan iniciou, até então que estamos no final, estamos as moscas. Há um e outro cliente que vem comprar, mas não é uma venda significante”.
Não são apenas os vendedores de bebidas de fabrico industrial que se queixam da situação, os caseiros também. A cabanga [bebida tradicional confeccionada com base no farelo e açúcar] já não tem saída, porque os potenciais clientes, alegadamente, estão a jejuar.
“Esse é o meu único negócio”, refere o senhor Ainda José, vendedor de cabanga num dos bairros da cidade de Nampula, acrescentando que “aproveito comer, comprar sabão e energia, tudo aqui mesmo, e esses dias que estão a jejuar não compram minha cabanga fica aqui por muitos dias”.
Os consumidores que não pararam em observância ao sagrado mês de Ramadan, sentem-se isolados e reconhecem que a companhia reduziu significativamente.
“Consumo bebidas alcoólicas sim, mas esse mês não estou a consumir porque estou a jejuar. É um mês sagrado, e nós estamos mesmo focados nisso”, disse Omar Taibo
“Não sou muçulmana e consumo bebidas alcoólicas. Para mim, um dos motivos que fazem os locais de venda de bebidas alcoólicas estarem vazios é porque tem uma parte [consumidores] que está a jejuar, e outros que não jejuam, como eu, estão a beber. Tem pessoas em casas que jejuam, então devem respeitar esse momento e evitar consumir bebidas alcoólicas perto de onde tem alguém que está em sacrifico”, disse a consumidora Sandra Manhique. (Elisabeth José)