Valorização do metical pode trazer problemas para o sector agrário

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  • Considera o ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural, Celso Correia.

Monapo (IKWELI) – O ministro moçambicano da Agricultura e Desenvolvimento Rural, Celso Correia, considera que a valorização da moeda nacional (Metical), poderá trazer impactos negativos no sector que dirige que nos últimos tempos a aposta é a produção em escala com vista a incrementar os volumes de exportação.

A moeda Nacional, o metical, tem se destacado nas últimas semanas em apreciação face as outras moedas do mercado cambial, com principal destaque para o dólar norte-americano.

Em conformidade com o Boletim de Câmbio do Banco de Moçambique, Boletim número 069/04/21, da última terça-feira (13), o metical teve uma apreciação positiva face ao dólar norte-americano, na ordem de 25% em relação aos primeiros dois meses do ano em curso em que, ao passar dos anteriores cerca de setenta e cinco meticais (75.00MT) para cinquenta e seis meticais (56.00MT) a cada unidade da moeda dos EUA.

Apesar da valorização do metical ser benéfica, por um lado para o sector de importação, por outro lado e, nas mesmas proporções, a medida afecta negativamente o sector de produção e exportação, como exemplos das empresas que operam no ramo da agricultura. Aliás, em conformidade com Celso Correia, ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural, se actual situação prevalecer, o sector que dirige poderá registar perdas enormes.

“Em primeiro lugar, o ministério da Agricultura defendeu que a estabilidade cambial é essencial para todos que produzem, não só para os que exportam, então, se há uma desvalorização súbita da moeda (dólar), naturalmente desestabiliza todo sector produtivo porque nós iniciamos a campanha com uma perspectiva cambial, e neste momento temos outra”, começou por observar Correia.

Segundo acrescentou o ministro, os insumos usados na presente safra agrícola foram adquiridos com o câmbio de 70,00Mt (setenta meticais) por unidade de dólar, fazendo com que os lucros, também, fossem calculados na base do mesmo câmbio. Aliás, feitas as contas com a actual situação cambial, o sector de agricultura poderá registar uma quebra na ordem de 20%, isto é, um volume de exportação que antes poderia valer dois milhões de dólares (USD 2,000,000.00), por exemplo, a mesma passa a valer um milhão e seiscentos mil dólares (USD1,600,000,00), no câmbio actual.

“No primeiro momento, a valorização do metical valoriza para quem é importador, e nós queremos montar um sector produtivo que exporta”, salientou o ministro, para quem “naturalmente, uma moeda moçambicana forte é sempre boa, mas tem que ser forte com fundamentos e não com medidas administrativas. Não estou a pôr em causa o trabalho que se faz porque o Banco de Moçambique tem autonomia total e saberá quais são os fundamentos, mas nós estamos há uma semana da colheita e, naturalmente, os impactos poderão se sentir”.

Celso Correia teceu estas considerações na última terça-feira (13) no distrito de Monapo, momento após ter feito a entrega de 10 tractores aos Pequenos Produtores e Comerciantes Emergentes, no âmbito do projecto SUSTENTA.

A fonte, deu como exemplo e um dos impactos, a possível redução do preço de compra do algodão na presente campanha agrária, de 28,00Mt (vinte e oito meticais) para 24,00Mt (vinte e quatro meticais) para cada quilograma, o que de certa forma poderá impactar negativamente nos produtores do sector familiar que aguardavam com expectativa a próxima campanha de comercialização.

“Todos os cálculos davam para um preço do algodão ao camponês, por exemplo, cerca de 28,00Mt meticais (por cada quilograma) e, por causa da forma de desvalorização subita (do dólar) de uma semana, já estamos com problemas e teremos que, novamente, ver o tema de subsídios, mas para nós não é fundamental, nós queremos uma moeda forte, mas acima de tudo estável, e compreendemos a situação que o país atravessa, é positivo para alguns e para os outros terão que se adaptar a essa realidade”, continuou a fonte.

Segundo sustentou Celso Correia, “o que não deixa de ser verdade é que nós iremos fazer essa perspectiva sobre a nossa política monetária, sobre a nossa política fiscal, saber se de facto ela está a responder sobre aquilo que são os objectivos nacionais, de promover a agricultura. Para quem está no sector da agricultura, de facto há muito para fazer, há muito que ajustar porque, de facto, temos certeza que a gente tem atracção de investimento efectivo do sector da agricultura”.

Ainda no distrito de Monapo, Celso Correia visitou a empresa Jacarandá Monapo, vocacionada na produção e exportação de banana, na qual indicou como uma das que poderá ser afectada pelos impactos da depreciação do dólar norte-americano. “Naturalmente, a empresa perde porque tinha uma perspectiva de exportar com preço de referência em dólar, se os custos de produção foram definidas com uma taxa de câmbio, então, quem vai exportar a partida perde significativamente, em termo de rendimento e não só, para quem produziu também, volto a dizer que é muito importante a estabilidade cambial porque nós estamos a competir num mercado global, se aparece um produto de importação mais forte do que o nosso produto, nós teremos dificuldades”, disse.

“Mas queria dizer que todas as nossas perspectivas, e esta é uma mensagem muito importante para os produtores, temos que vencer todas as batalhas e as adversidades, porque nós vivemos num mundo globalizado, vivemos num mundo de mercado e, essas são regras mas sempre que podermos tomar medidas que possam proteger a produção nacional assim devemos fazer, portanto, teremos que aguardar para perceber quais os fundamentos desta valorização do metical, sabemos que o dólar a nível internacional está desvalorizado e teremos que saber como é que vamos gerir nos próximos meses na certeza de que a produção em escala que foi assumida para esta campanha poderá também ajudar a suprir as possíveis adversidades”, finalizou o Ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural. (Costantino Henriques)

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