Nampula (IKWELI) – O presidente do partido Renamo, Ossufo Momade, insta ao governo de Nampula a prover meios e condições por forma a salvaguardar a vida dos cidadãos das comunidades que registam bolsas de fome.
A escassez de alimentos no maior círculo eleitoral regista-se, sobremaneira, nos distritos de Monapo, Murrupula e Muecate, onde há registo de óbitos em consequência.
Esta situação está relacionada com a queda irregular da chuva na campanha agrícola de 2020/2021, uma vez que as culturas que a população lançou à terra não tiveram o seu desenvolvimento o que precipitou a escassez de alimentos. Por exemplo, desde Junho de 2020 algumas zonas do distrito de Monapo, como é o caso da localidade de Itoculo, mostravam os sinais de fome, embora as autoridades governamentais locais não assumissem tal possibilidade [vê edição 511].
A situação viria a tornar-se grave este ano devido, também, a fraca precipitação pluviométrica, o que condicionou a produção. Aliás, é no ano em curso que as autoridades governamentais do distrito de Monapo admitiram o difícil cenário que parte da população daquele ponto está mergulhada, sobretudo as de baixa renda, chegando inclusive a recorrerem o capim para a sua sobrevivência, mesmo que o governo ao nível provincial continue a desmentir da situação [ver edições 628 e 653].
Face a essa situação, o general Ossufo Momade, presidente da Renamo, segunda maior força política moçambicana, disse esta quarta-feira (24), no término da sua visita à província de Nampula, que o governo deve agir no sentido de garantir o sossego das famílias afectadas.
“Nós sabemos que a nossa sociedade está a passar maus bocados, o próprio salário não chega para nada, nem o seu salário”, começou por reagir a situação da insegurança alimentar em Nampula, para depois acrescentar que “nós gostaríamos que a nossa população tivesse a melhoria da sua dieta, a dieta alimentar e já falamos isso no passado que gostaríamos de ver o moçambicano com a sua mesa com o pequeno-almoço, almoço e o jantar, mas hoje isso não acontece porque a vida é cara. Mas é da responsabilidade do estado, é da responsabilidade do governo salvaguardar essas condições para que o cidadão possa ter o pequeno-almoço, almoço e o jantar”.
Relacionado com a insegurança alimentar, Ossufo Momade insta, também, ao governo, a proporcionar melhores condições de vida as pessoas vítimas de terrorismo em Cabo Delgado, que se viram obrigadas a se deslocar em outras províncias do país.
“Sendo moçambicano, a situação que a nossa população está a viver em Cabo Delgado é lamentável, porque muitos cidadãos abandonaram seus bens, alguns estão aqui na província de Nampula, em Meconta, outros estão na Zambézia, em Sofala e outra parte está lá em Cabo Delgado. Para dizer que nós gostaríamos que o governo do dia pudesse trabalhar para melhorar a vida desses nossos concidadãos, não só esperar que a comunidade internacional traga alguma coisa, é o papel, é a responsabilidade do governo para que faça alguma coisa para melhorar as condições daqueles nossos concidadãos, ter comida, ter o lugar onde vão pôr as costelas, muito mais nesta época de chuva, o governo tem a obrigação em dar o tecto para que eles possam estar bem na vida e criar condições também para que voltem para as suas zonas de origem”.
Monitorar os desmobilizados pelo processo DDR
Em conformidade com Ossufo Momade, uma das motivações para a sua vinda a província de Nampula, era para fazer a monitoria dos seus homens após serem desmobilizados através do processo de Desmobilização, Desmilitarização e Reintegração (DDR), porque “temos que fazer o acompanhamento daqueles que são os desmobilizados porque é muito importante em vermos a situação deles, como é que estão a encarar a vida civil, como é que são recebidos na sociedade e, encontramos os nossos irmãos muito satisfeitos com a vida que estão a levar neste momento, a vida civil, estão na comunidade com os seus familiares e aquilo que foi o compromisso que o mundo, a sociedade prometeu está sendo materializado”, referiu o político.
“Também, aproveitamos visitar a unidade de Namaita onde trocamos impressões com os nossos guerrilheiros, combatentes e eles estão satisfeitos e estão aguardando com muita expectativa com a sua desmobilização no processo de DDR, e nós pensamos que esse processo vai dar continuidade e é irreversível na medida em que o nosso compromisso com este país, com esse povo, é a paz e reconciliação nacional, por isso estamos aqui”, anotou.
Desde que iniciou o processo DDR, de acordo com Ossufo Momade, foram desmobilizados um universo de 1345 elementos. “O processo está a decorrer em Manica, pode ultrapassar este número e já recebemos um número de 33 elementos que estavam na junta militar e isso é bom para nós porque sempre deixamos apelo para que esses irmãos que estão no mato não sob controle nosso, para que pudessem abraçar este processo, estamos satisfeitos porque eles já estão a regressar e a nossa obrigação é desmobilizá-los para que voltem à vida civil”.
Questionado sobre os possíveis prazos fixos para o término do DDR, Ossufo Momade precisou que “nós, em Junho do ano passado reiniciamos o processo com muitas dificuldades, através da covid-19, nós podíamos desmobilizar num dia 100 a 200, mas neste momento estamos a usar pequenos números, por isso o processo vai levar muito tempo. Enquanto cumprimos com as medidas sanitárias é porque vamos desmobilizar em pequenos grupos, 20 a 30 para que possamos avançar”, disse continuando que “no início estava tudo parado, naquela altura que alguns diziam que o DDR não tinha pernas para andar e nós fizemos o trabalho através da comunidade internacional, o governo do dia para que pudéssemos fazer este trabalho em pequenos grupos e essa nossa proposta foi aceite, por isso estamos a trabalhar e, aqui não é necessariamente o prazo, mas que cumpramos com aquilo que é o nosso propósito”, finalizou. (Constantino Henriques)