O impacto desastroso da covid-19 no negócio desenvolvido por mulheres em Nampula

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  • Com o negócio da venda de comida confeccionada, a senhora Júlia Raul tem a sua fonte de rendimento completamente afectada.

Nampula (IKWELI) – O impacto da covid-19 na economia das famílias em Nampula, a qual é suportada por trocas comerciais informais, está atingindo níveis desastrosos, pois as fontes de rendimento estão cada vez mais prejudicadas.

Nesta edição, o Ikweli traz a história da senhora Júlia Raul, cuja principal fonte de rendimento é a venda de comida confeccionada nas imediações da central eléctrica no bairro de Mutauanha, na cidade de Nampula.

Desde sempre a nossa entrevistada dedicou-se a este negócio, por forma a manter o sustento da sua família.

Os principais clientes da dona Júlia são trabalhadores do sector informal e/ou de lojas, mas com a pandemia da covid-19, alguns empregadores viram-se obrigados a despedir alguns trabalhadores, o que fez com que a receita da nossa fonte reduzisse drasticamente.

A sua simplicidade no atendimento aos seus clientes, para além da qualidade dos serviços prestados, são apontados como razões suficientes que movem as pessoas, de diversos estratos sociais, a apostarem pela sua cozinha.

“Aqui tenho tido muitos clientes que são, na sua maioria, trabalhadores das grandes empresas da nossa cidade. Tenho visto aqui alguns trabalhadores das empresas de telefonia móvel, alguns dizem que vem das finanças, outros da empresa Electricidade de Moçambique, trabalhadores dos armazéns, transportadores, trabalhadores por conta própria e muitos outros que não consigo identificar. Graças a Deus, desde que comecei a cozinhar, esses clientes nunca reclamaram pela qualidade da comida, eles mostram sinais de que se sentem bem quando comem aqui”, conta a dona Júlia, exclusivamente ao Ikweli.

Com 52 anos de idade, a dona Júlia conta que passou a dedicar a sua vida ao empreendedorismo desde os 32 anos, período que coincide com a separação do seu esposo, por diversas razões. Hoje, e com apenas aquele negócio, ela orgulha-se de ter conseguido organizar a sua vida e, acima de tudo, ter ajudado seus quatro filhos a frequentar e concluírem o ensino médio.

“Estou há 20 anos com este negócio, mas antes fazia e vendia cabanga e espeto. Depois passei a vender cerveja até chegar o tempo de vender comida. Dali, comecei a conseguir algum valor que, aos poucos ia acumulando até agora que cozinho nas panelas grandes, naqueles tempos cozinhava apenas cinco quilogramas e em panelas pequenas”, recordou a fonte, para quem “com este trabalho consegui fazer muita coisa na minha vida, através deste trabalho eu tenho ajudado meus filhos e netos a estudar, alguns já fizeram a 12ª classe, outros já estão a trabalhar”.

Entretanto, com a eclosão da covid-19, a dona Júlia conta que o seu negócio não escapou com os impactos negativos trazidos por esta doença planetária.  Segundo disse, desde o ano passado os lucros tiveram uma queda drástica, motivado em parte pela redução dos clientes, assim como a subida de preço dos principais produtos que dão corpo aquele tipo de negócio.

“Ultimamente, este tipo de trabalho não tem lucro, isso porque as coisas aumentaram, para além de que quando preparamos a comida não acaba visto que o número das pessoas que vem comprar baixou muito”, referiu, acrescentando que “estamos a gastar muito e sem retorno, não sai lucro. Por exemplo você pode levar até dez mil meticais (10,000.00MT) para fazer compra, mas não consegue ter alguma recompensa, o que estamos a fazer apenas é para girar com o nosso dinheiro uma vez que sentar em casa, sem fazer alguma coisa, a situação iria piorar.  Só estamos a aguentar”.

“Desde o ano passado é que começamos a sentir esse problema, quando começou a se falar deste coronavírus, até agora nada está a mudar. Os preços dos produtos que usamos quase todos subiram, o frango, por exemplo, passou a custar entre setecentos a oitocentos meticais (700 – 800.00MT), arroz, nós já tínhamos acostumado comprar a oitocentos meticais (800.00MT), mas agora está acima de mil e quinhentos e oitenta meticais (1580.00MT), um saco de 25 quilogramas. Não há nada que não aumentou, um saco de 25 quilogramas de farinha celeste agora estamos a comprar mais de mil meticais (1000.00MT), cinco litros de óleo comprávamos a seiscentos meticais (600.00MT) agora estamos a comprar a setecentos meticais (700.00MT), então isso não sai”, disse, lamentando que “quando tentamos baixar a quantidade da comida ou aumentar o preço nossos clientes reclamam muito, então nós acabamos não sabendo o que fazer e porque já habituamos, continuamos assim mesmo, só para manter o nosso valor”.

Com a queda do negócio, a fonte disse que as metas que tinha para este ano, que passavam por custear a formação dos seus filhos e netos (dois para o curso de saúde e uma neta para o curso de professorado), estão comprometidas. “Eu estava mesmo confiante que iria ajudar os meus filhos até onde puder. Antes de eu morrer, gostaria que eles tivessem emprego para ficarem a se recordar de mim, mas as coisas estão cada vez mais complicadas”.

Mas, mesmo assim, os conselhos às outras mulheres não faltam. “Aconselho minhas amigas, outras mulheres para que não possamos depender apenas de homens, nós também temos que fazer alguma coisa, mesmo que seja para ir no Waresta comprar e revender tomate, amendoim, ou qualquer coisa para ajudar a família”, precisou a nossa interlocutora.  (Constantino Henriques)

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