Nampula (IKWELI) – Mais de 80 por cento de cidadãos deslocados de guerra de Cabo Delgado acolhidos no Centro de acomodação do posto administrativo de Corrane, distrito de Meconta, província de Nampula, não possui documento de identificação, nomeadamente, Bilhete de Identidade, Cédula Pessoal, Cartão de Eleitor, entre outros.
Naquele centro, estão acolhidas mais de 2000 (duas mil) pessoas, dentre crianças, adultos, mulheres e jovens que, poupando as suas vidas, abandonaram as suas aldeias natais.
“Ao nível da província de Nampula apresentamos dados indicativos, nunca é possível ter dados exactos salvo os distritos onde o número de deslocados é bastante menor, mas os que apresentam acima de mil pessoas tem sido difícil. Entretanto, uma das questões relevantes, de facto, é a falta da documentação. A partir de um breve levantamento no centro de acolhimento em Corrane, temos indicação que cerca de 80 por cento de deslocados não tem documento de identificação oficial, isto porque perderam durante a fuga nas suas zonas de origem ou mesmo por outros motivos”, contou-nos Alberto Armando, delegado provincial do Instituto Nacional de Gestão de Desastres (INGD), em Nampula.
Em exclusivo ao Ikweli, o delegado do Instituto Nacional de Gestão de Desastres referiu que esta percentagem de deslocados sem documentos resulta de um breve levantamento feito ao nível do centro de acolhimento, o que significa que maior parte de deslocados que passam as mesmas circunstâncias ainda não foi apurada. Entretanto, de acordo com a fonte, a percentagem pode ser generalizada, embora sem bases suficientes do levantamento de todo o universo de pessoas deslocadas acolhidas nesta província.
Como forma de regularizar a actual situação destas pessoas que precisam de documentos de identificação, o entrevistado garantiu que o governo e os seus parceiros estão a envidar esforços, de maneiras que estes tenham os documentos em dia.
A título de exemplo, de acordo com as suas dissertações, recentemente esteve presente na província de Nampula, uma equipa da Direcção Nacional de Registo e Notariado e um dos parceiros de cooperação que pretendem apoiar neste sentido.
E porque várias são as organizações que trabalham de forma directa com os deslocados e facilitam as formações técnico-profissionais na tentativa de reintegrá-los socialmente, o delegado Alberto Armando informou que as vítimas têm acesso a estas oportunidades através de uma declaração que se atribui pelas estruturas competentes, isto quando eles chegam nas zonas de acolhimento.
“Não se trata de um documento oficial, mas pelo menos permite-nos fazer a gestão quando eles estão no centro de acolhimento e nas famílias acolhedoras existentes em diferentes regiões da província. No posto administrativo de Corrane, por exemplo, os que estavam a frequentar a 10ª e 12ª classes foram enquadrados ao sistema de ensino para serem examinados, isto aconteceu um pouco por todo o lado, não temos as estatísticas exactas dos outros pontos, mas tem havido essas facilidades. Há pouco tempo ainda, no processo de recenseamento militar, há brigadas que foram trabalhar no posto administrativo de Corrane e Namialo na perspectiva que estes tenham oportunidades de vagas, entre outras onde um dos requisitos é o recenseamento militar.” Sublinhou.
De acordo com dados avançados pelo delegado provincial do Instituto Nacional de Gestão de Desastres, Alberto Armando, a província de Nampula conta actualmente com mais 60.000 (sessenta mil) pessoas deslocadas de guerra de Cabo Delgado, distribuídas em 20 distritos da província, excepto os distritos de Lalaua, Moma e Larde. Aliás, “nesses distritos até pode ser que existem vítimas dos ataques, mas não nos foram apresentados oficialmente”. (Esmeraldo Boquisse)