Nampula (IKWELI) – Os desmobilizados, tanto da luta da libertação do país bem como os da democracia, filiados a Associação Moçambicana dos Desmobilizados de Guerra (AMODEG), na província de Nampula, mostram-se preocupados com os recorrentes ataques terroristas nos distritos do norte de Cabo Delgado, e manifestam a prontidão em reforçar às Forças de Defesa e Segurança (FDS), caso o governo avalize.
Desde Outubro de 2017, os distritos nortenhos da província de Cabo Delgado têm sido alvo de ataques de grupos terroristas, cuja pretensão é pouco clara, situação que já causou milhares de mortos e pouco mais de 600 mil deslocados internos. A província de Nampula é uma das que mais recebe os deslocados, estando actualmente com perto de 70 mil, espalhados em diferentes distritos da mais populosa província moçambicana.
Os desmobilizados de guerra na província de Nampula dizem desconhecer o real problema das mortes e deslocações de cidadãos de Cabo Delgado, por conta dos ataques e saques dos terroristas, e exigem explicações. Enquanto aguardam o esclarecimento das motivações, os antigos guerrilheiros, apesar de alguns com o físico debilitado, afirmam estarem em prontidão combativa para ajudar às Forças de Defesa e Segurança a eliminar os terroristas.
A disponibilidade dos antigos guerrilheiros no combate ao terrorismo foi manifestada, em exclusivo ao Ikweli, pelo delegado provincial da Associação Moçambicana dos Desmobilizados de Guerra, Eugénio de Fátima, que garante que a decisão é consensual no seio dos desmobilizados.
“Havendo o interesse da parte do governo, a AMODEG como uma associação poderá mobilizar os seus membros para ingressar nas Forças de Defesa e Segurança para apoiar os nossos jovens que estão a combater em Cabo Delgado”, disse.
Para Estêvão de Fátima, o apoio é extensivo ao teatro operacional centro, protagonizado pela autoproclamada Junta Militar da Renamo, desencadeada por Mariano Nyongo, dissidente do principal partido da oposição em Moçambique.
Na verdade, a AMODEG quer que seja o próprio governo da Frelimo, chefiado por Filipe Nyusi, a solicitar os antigos guerrilheiros. “Nós não podemos ir lá só como voluntários, o nosso papel como patriotas já cumprimos [nas guerras passadas], e agora esperamos que o governo nos solicite o apoio. Nós lá vamos sem fardamentos e nem armas, então tem de ser o próprio governo a preparar tudo isso e solicitar aos combatentes e dar armas e fardamentos”, afirmou.
O grupo dos desmobilizados, segundo Eugénio de Fátima, já lançou um repto aos associados a nível de todos os distritos, que mostraram o interesse em participar, activamente, no teatro operacional norte, e inclusive diz ter endereçado uma carta ao Secretário de Estado da província de Nampula com vista a apoia-los financeiramente para um seminário, de nível provincial, que visa incutir estratégias aos desmobilizados, face o combate ao terrorismo, bem como a desincentiva-los a aderência aos grupos dos insurgentes.
“Nós pedimos, ao Secretário do Estado [da província de Nampula], um fundo que é para realizarmos um seminário dentro deste ano, se for possível o mais tardar em Abril, onde queremos incutir os nossos representantes distritais no sentido de estes não aderirem aos grupos terroristas, pois a guerra que realizam não tem objectivos claros e está a semear luto na população”, disse. (Sitoi Lutxeque)