Monapo (IKWELI) – A queda irregular da chuva que se regista na presente campanha agrícola um pouco por toda a província de Nampula, no norte de Moçambique, afectando assim o processo de germinação e frutificação das culturas, veio agravar o cenário de insegurança alimentar que se assiste desde o segundo semestre do ano passado no distrito de Monapo.
O Ikweli, na sua edição 511, publicado a 17 de Agosto de 2020, reportou sobre os sinais de bolsas de fome em algumas comunidades de Monapo, destacadamente no regulado de Nakotto, localidade de Naculue, no posto administrativo de Netia, mas na altura, as autoridades governamentais locais teriam desdramatizado a situação.
Entretanto, nos dias que correm, e com a queda irregular das chuvas que não possibilitou a sementeira saudável durante a primeira época da presente campanha agrícola, a insegurança alimentar naquele distrito acentuou-se e, finalmente, as autoridades governamentais locais confirmam a situação delicada com que vivem os populares.
Em Monapo, segundo apuramos, só tem acesso aos alimentos as pessoas com capacidades financeiras, sendo que as famílias com baixo poder vêm a sua situação nutricional comprometida. Aliás, neste momento, o farelo continua sendo a base de alimentação da população, produto cujo preço aumenta a cada dia que passa, chegando a custar cerca de 500,00Mt (quinhentos meticais) o saco de 50 quilograma.
“A população tem dificuldade para aquisição dos produtos, porque a primeira época não foi das melhores e há dificuldades nalgumas famílias, mas a circulação de produtos existe, só há fraco poder de compra”, admite Rafa Pereira, chefe do posto Administrativo de Netia, distrito de Monapo, que antes negara a existência de escassez de alimento na circunscrição que dirige.
“Há problemas aqui, a chuva não está a cair de forma regular, está uma situação crítica”, prosseguiu a fonte, para quem “as culturas já estão a secar. Estamos numa situação que não sabemos como fazer. Já estamos a ficar desencorajados em relação a esta campanha, para todo posto administrativo há irregularidade de chuva e as culturas estão com stress, toda primeira época ficou comprometida. Assim estamos aguardando a segunda época”.
Armando Braimo, director dos Serviços Distritais das Actividades Económicas (SDAE) de Monapo, também, confirmou o desespero dos populares daquela parcela moçambicana. “O que está a acontecer agora, de forma geral para as populações que tem rendimento, com poder de compra, conseguem ir comprar”, disse, acrescentando que, “se as chuvas fossem boas agora estaríamos a falar de uma situação melhorada, teríamos muito feijões, folha de mandioca, amendoim, pepinos e abóboras. Estaríamos a começar a ver esses produtos, então praticamente a situação não está boa, estamos a falar de insegurança alimentar”.
Segundo acrescentou Armando Braimo, falando exclusivamente ao Ikweli, “o que está a acontecer é que nos meses de Outubro e Novembro, a situação foi catastrófica, foi uma situação muito difícil, praticamente não choveu, porque chovia em intervalo de 20 dias e as sementeiras eram perdidas. Já aconteceram cerca de três sementeiras e, consequentemente, muita semente perdeu-se, então, neste Janeiro é que está havendo queda de chuva, mas também não satisfaz”.
Em conformidade com o nosso interlocutor, “os próprios tanques piscícolas estão com problemas de água, se continuar assim a produção de hortícolas estará comprometida. De um modo geral as chuvas estão sendo um problema de Aquiles e que já comprometeu a campanha pelo menos da primeira época, temos esperança nesta segunda época, também não é boa esperança, estamos a falar de feijões, gergelim, até hoje o aspecto está sendo positivo, mas para assunto de milho é grave. Houve muita perda de estacas de mandioca porque as temperaturas eram muito elevadas e as estacas eram plantadas, mas não chovia e com aumento da temperatura as estacas não germinaram e secaram, então a situação não é boa”, sublinhou a fonte.
Com três postos administrativos, o distrito de Monapo é o segundo mais populoso da província de Nampula com cerca de 394.000 (trezentos e noventa e quatro mil) habitantes, com uma superfície de 3.564 quilómetros quadrados, de acordo com o Instituto Nacional de Estatísticas (INE). (Constantino Henriques)