Nampula (IKWELI) – O Gabinete de Atendimento Integrado as Vítimas de Violência (GAIVV) em Nampula, no norte do país, afirma que a violação sexual de mulheres e raparigas com perturbações mentais tem sido recorrentes nos últimos tempos, o que preocupa a instituição.
De acordo com o psicólogo Armando Cumbe, afecto ao GAIVV, “muita das vezes as vítimas têm sido mulheres desacompanhadas e solteiras. O agressor não tem sido alguém que vem de longe, é uma pessoa conhecida e antes desenha como é que vai consumar o acto. Ele [o agressor] sabe quem você é, aonde vive e com quem vive”.
“Quando se trata de crianças, é preciso avançar que são algumas delas que têm perturbações mentais, grupo mais vulnerável”, apontou a nossa fonte, prosseguindo que “o agressor sabe que essa é uma deficiente e não tem forças para recusar um acto sexual ele acaba abusando-a”.
Para esta fonte, “é mais fácil abusar alguém que não goza do seu juízo crítico, ou mesmo não tem uma capacidade mental de reagir a um fenómeno de violência, e outros aproveitam-se desse tipo de pessoa”.
Cumbe não fala de números, mas está ciente que desde o ano em que foi instalada a instituição, vários casos foram atendidos, com a elevado preocupação de algumas vítimas terem contraído o HIV e outras doenças de transmissão sexual, incluindo gravidezes.
Em termos cumulativos, em 2020 aquele gabinete registou 525 casos de violência, dentre a física e sexual, contra os 577 registados no ano anterior, 2019.
“As mães, entre outros encarregados de educação, ao notarem uma certa de mudança comportamental, entre outras características, no seio das crianças, elas acabam suspeitando que as crianças foram violadas e encaminham-nas ao nosso gabinete onde, depois de um trabalho técnico por nós feito, apuramos que não houve violação ou seja, penetração no órgão vaginal”, explicou a fonte sobre os casos de suspeita e tentativa de violação sexual.
Este psicólogo observa que nos últimos tempos as pessoas estão a tomar em consideração sobre as consequências da violência em todas as suas formas, isto na medida em que quando há suspeitas e tentativas de violação se preocupam e encaminham os casos às autoridades competentes e ao gabinete para se fazer o trabalho clínico. Ademais, “a violência vem desde os tempos, o que acontecia é que as pessoas não estavam informadas, pelo facto de as vítimas não conhecerem os seus direitos, não procuravam apoio em nenhum lugar e resolviam os problemas no meio familiar. Igualmente, os casos de violação não só eram resolvidos ao nível das autoridades comunitárias, também não eram reportados às autoridades de saúde e policiais. Nos últimos dias as pessoas ganharam mais consciência para combater estes casos”.
Contudo, para garantir a continuidade da vida, por partes das vítimas, segundo Cumbe, a instituição onde trabalha providencia apoio psicossocial e emocional, por forma a corrigir os traumas decorrentes.
“As nossas vítimas, em particular as adolescentes, chegam na unidade sanitária fora do período elegível da profilaxia, uma vez que a violação ocorreu há mais de 120 horas e, consequência disso, são aquelas adolescentes que nos aparecem com gravidez, dependendo do período de gestão, daí que optamos pelo aborto seguro em coordenação com os pais, isto porque é mais um serviço que podemos oferecer em casos dessa situação”, concluiu o Dr. Armando Cumbe. (Esmeraldo Boquisse)