Moçambique tem apenas um único aparelho para rastrear cancro da mama no norte do país

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Nampula (IKWELI) – Os profissionais de saúde afectos ao Hospital Central de Nampula (HCN), maior unidade sanitária da região norte de Moçambique, mostram-se preocupados com a capacidade instalada naquela unidade hospitalar para fazer face ao diagnóstico do cancro da mama, um dos tipos que mais afecta as mulheres.

Actualmente o HCN possui, apenas, um único mamógrafo, aparelho que permite identificar os tumores presentes nas mamas, mesmo em fase inicial, para atender todos os pacientes ao nível da região norte do país.

Numa altura em que se recomenda o rastreio com vista à descoberta precoce do cancro, e tendo em conta o elevado número da população residente nesta parcela, os responsáveis do HCN, dizem ser necessário o aumento da capacidade instalada para o diagnóstico daquela enfermidade.

Aliás, de acordo com peritos na matéria de oncologia, a descoberta precoce do cancro da mama ou de qualquer outro tipo aumenta as possibilidades de cura e sobrevivência do paciente.

“Nos países desenvolvidos, com um bom sistema de saúde, é por obrigação que as mulheres façam a mamografia, porque nem sempre é possível apalpar as lesões da mama, mas a mamografia é um exame que nos permite avaliar o programa de rastreio do cancro da mama”, refere Dércio Fernandes, cirurgião – geral afecto no HCN.

“Quando digo que há necessidades de melhorarmos, é no sentido de que há maior parte dos doentes, ou seja, nós somos mais de 30 milhões de habitantes em todo Moçambique, é muito difícil dizer que dos habitantes que estão na zona norte todos vão depender de um único aparelho de mamografia. Naturalmente, se houvesse capacidade de melhorarmos esses aparelhos seria o ideal, porque, por exemplo, os doentes que estão no Niassa, em Cabo Delgado, dependem desse aparelho que está no HCN”, frisou Dércio Fernandes.

A fonte fez essa observação por ocasião da celebração do dia mundial contra o cancro, um mal que continua a constituir uma ameaça à saúde pública no mundo e em Moçambique, de maneira em particular. Aliás, em conformidade com a fonte, de Janeiro a esta parte, mais de 750 pacientes diagnosticados padecem de qualquer tipo de cancro.

“No nosso país o cancro continua a ser um problema de saúde pública, de uma forma geral. Ao nível da região norte, o HCN é que responde maior parte dos casos de cancro das províncias de Nampula, Cabo Delgado, Niassa e alguns casos da província da Zambézia. Nós temos um cumulativo de mais de 6000 casos de doentes de cancro (dados referentes aos últimos seis anos) dos quais, novos casos diagnosticados no ano passado são cerca de 800, mais de 3500 doentes em tratamento de quimioterapia dos quais, este ano fizemos aproximadamente cerca de 200 sessões de quimioterapia”, continuou a fonte.

Mesmo assim, os profissionais de saúde no HCN apelam à população, especialmente as mulheres, a dirigirem-se à unidade sanitária para o respectivo diagnóstico, sempre que descobrirem qualquer alteração no organismo, uma vez que pode tratar-se de cancro.

“Infelizmente o cancro constitui um tabu, ou seja, aqueles cancros como do colo de útero, da mama que, se formos a avaliar, são partes íntimas, então, devido às nossas situações culturais na zona norte, dificilmente as mulheres vão à unidade sanitária, isso faz com que haja atraso na chegada, haja atraso de diagnóstico. No segundo aspecto, é que muitos dos maridos não deixam que essa mulher se dirija à unidade sanitária, então, esses são alguns atrasos que influenciam bastante no diagnóstico, pelo que há necessidade da nossa população ter conhecimento, familiarizar-se, há necessidade de nós termos conhecimento de que o cancro existe”, exorta Dércio Fernandes.

A mesma exortação foi secundada por algumas pacientes em tratamento de quimioterapia no HCN. Clementina Fernando, de 42 anos de idade, é uma das pacientes, para se dirigir à unidade sanitária ela conta que descobriu um pequeno nódulo (uma lesão sólida) na sua mama, mas que depois foi-se desenvolvendo. “Foi em Setembro no primeiro rastreio, em Pemba, em que foi detectado o câncer (cancro de mama), me transferiram de Pemba para aqui e assim estou com a quimioterapia. Para dizer que o cancro do câncer existe, já estou na terceira fase em que vou fazer a cirurgia”, referiu, para depois aconselhar “a todas as mulheres para fazerem o rastreio e que, quem sentir o nódulo correr logo para a unidade sanitária mais próxima e daí será encaminhada ao especialista”.

Ilda da Conceição, outra paciente de 34 anos de idade, internada naquela unidade hospitalar, conta que “eu estou aqui no HCN porque tinha problema de hemorragia desde Janeiro de 2020, não parava aquela hemorragia com coágulo, fiquei de baixa dois meses dali me disseram que devia começar com a quimioterapia, comecei a fazer desde Setembro e assim estou bem, graças a Deus”, salientou. (Constantino Henriques)

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