Nampula (IKWELI) – A crise de água potável prevalece, apesar das chuvas que têm vindo a cair de forma esporádica, na cidade de Nampula, no norte de Moçambique, e o problema continua a dividir os cidadãos consumidores e o Fundo de Investimento e Património do Abastecimento de Água (FIPAG), empresa pública distribuidora de água, por esta, alegadamente, insistir a emitir facturas altas sem o consumo regular.
A cidade de Nampula, lembre-se, começou a ressentir-se da crise de água em finais de Outubro do ano passado, mas com o pico entre finais Dezembro e princípios de Janeiro corrente, por conta da falta de chuva, factor que continua a ser apontando, apesar da mudança do cenário nos últimos tempos, como sendo um dos principais constrangimentos que contribui para a redução das reservas na barragem de Monapo, a principal fonte de abastecimento daquele precioso líquido no maior e mais importante centro urbano do norte de Moçambique.
A nossa equipa de reportagem percorreu diferentes bairros e unidades residenciais da cidade, nomeadamente Mutauanha, Muatala, Piloto, Muthita, Ntotha e Murrapaniua, onde constatou que a situação prevalece, apesar de o FIPAG estar a fornecer ocasionalmente, diferentemente do período antes da agudização da crise.
Na unidade residencial do Piloto, pertencente ao bairro de Mutauanha, o Ikweli conversou com Catarina Lopes que diz ter esquecido as datas que já consumiu água potável, fornecido pelo FIPAG, pelo menos 8 horas por dia.
“Mesmo antes desta crise, nós tivemos muitas dificuldades. A crise iniciou em Dezembro, mas nós já estamos na crise desde Junho do ano passado. Eu apenas pago facturas sem consumo, já reportei este problema ao FIPAG, mas nunca resolvem. E mesmo com esta crise continuamos a receber e pagar factura”, disse a fonte, visivelmente desapontada.
Para a nossa entrevistada, a atitude dos gestores do FIPAG em Nampula não passa de uma autêntica burla e roubalheira aos seus consumidores, uma vez que esta nunca, sequer, se dignou em reajustar as facturas em função dos meses em que a empresa não forneceu aquele precioso líquido aos seus clientes.
“Tenho uma factura de quase cinco mil meticais, contando com as dívidas acumuladas. Eu não encontro motivos para pagar sem consumir, penso que a empresa está a agir de má fé”, lamentou a nossa interlocutora.
Francisco Coelho, residente na unidade comunal Muthita, questiona: “os dirigentes do FIPAG já vieram ao pública anunciar que haverá alternativas para o abastecimento de água, através de furos, então o que é que está a acontecer para a contínua crise?”.
Para aliviar-se da crise da água potável, o Ikweli apurou que muitos cidadãos recorrem a água das chuvas e armazenam em recipientes, enquanto aguardam pelos serviços do FIPAG na canalização daquele líquido vital.
“Ainda há crise. O problema não está resolvido”
O Fundo de Investimento e Património do Abastecimento de Água (FIPAG), através do director dos Serviços Centrais de Operações, Ilídio Khossa, o então director regional norte e quem monitora toda operação do sistema em Nampula, sobretudo neste período de crise, disse em exclusivo ao nosso jornal que a situação da crise será apenas ultrapassada com a queda regular das chuvas e posterior “encaixe” suficiente da água na barragem de Nampula, construída sobre o rio Monapo.
“Ainda há crise. O problema não está resolvido”, referiu, para sustentar que “a situação da água poderá passar com chuva. Na barragem não tem muita e não está a encher água, apesar das chuvas dos últimos dias. No dia em que chover e a barragem ter água suficiente e não fornecermos aí o problema será nosso”, observou o responsável.
Ainda assim, o director dos Serviços Centrais de Operações do FIPAG considera que a situação actual de abastecimento daquele líquido indispensável ao ser humano não é critica, tal como no passado. “Já não se regista aquela procura como nas últimas semanas de Dezembro e primeira semana de Janeiro em curso, todo o mundo estava a reclamar, hoje minimizamos. Mas, a crise ainda não está resolvida. Temos alguns furos [em Namiteca e Muatala] que abastecem um pouco por toda cidade”, disse.
Sobre as alegadas cobranças de facturas sem o consumo regular, Ilídio Khossa disse que “é preciso analisar caso á caso. Em regras gerais, o nosso sistema de cobrança é pós-pago e faturamos, normalmente, no intervalo entre 20 até 30 dias depois do consumo, quero crer que as facturas que estarão a receber, eventualmente, são dos consumos de Novembro e Dezembro, portanto os consumos de Janeiro, eu acredito que poderão receber a partir de Fevereiro e tenho a certeza que os custos vão baixar. As pessoas só vão pagar aquilo que estiveram a consumir, se consumiram 25 ou 30 metros cúbicos/mês com certeza que vai ser menos, esta é uma questão que, infelizmente, não temos como mudar”, frisou.
Contudo, o nosso entrevistado fez saber que a empresa não abre espaço de compensação dos dias que consumidores não tiveram acesso e que o pagamento e/ou facturação será feito em função do consumo registado no contador. (Sitoi Lutxeque)