Entre furos e chuva miúda: Renasce a esperança de abastecimento regular de água em Nampula

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Nampula (IKWELI) – As chuvas que se fizeram sentir nas últimas 48h nos distritos de Ribáuè, Malema, Lalaua e Eráti contribuíram para o incremento dos níveis de armazenamento na barragem de Nampula, construída sobre o rio Monapo, e que serve de principal fonte de abastecimento de água a autarquia mais importante do norte de Moçambique.

Na manhã desta segunda-feira, através da imprensa, o Fundo do Investimento e Património de Abastecimento de Água (FIPAG) informou que a situação tende a melhorar neste mesmo período.

Dentre várias soluções adoptadas para minimizar a crise, o FIPAG gaba-se e exibe furos nos bairros de Muatala e Muahivire, este último na zona de Namiteca, como alternativas a principal fonte, bem como a melhoria das modalidades de fornecimento, que incluem a montagem de fontanários moveis nos bairros da autarquia.

Na unidade comunal Pedreira, no bairro de Natikiri, o respectivo líder comunitário, Rodrigues Alfredo, conta que a montagem do fontanário móvel está a ajudar a população.

“A água passou a ser gratuita e a população está a tirar constantemente”, disse Alfredo, referindo-se ao impacto daquela unidade de abastecimento de água montada na sua circunscrição.

No pico da crise, segundo esta fonte, “davam água uma semana sim, uma semana não”, mas agora “estamos a receber, constantemente, das 6h as 18h e quando acaba ligamos para FIPAG e nos traz água”.

Por seu turno, Ilídio Khosa, quadro do FIPAG central e que veio a Nampula para apoiar a equipa local a encontrar soluções refere que “reajustamos a nossa operação e conseguimos operacionalizar as bombas de emergência, e por via disso conseguimos reajustar a nossa operação da rede de distribuição. Neste momento, estamos a dar água por seccionamento e por centro distribuidor”.

Conhecedor da região, Khossa já foi director da área operacional de Nampula e mais tarde primeiro director regional norte do FIPAG, por isso sabe dos problemas da região como deve ser.

Ilídio Khossa, Director dos Serviços Centrais de Operações do FIPAG

Das soluções imediatas incluídas pelo FIPAG na sua leva de procura de soluções para o fornecimento de água aos moradores do maior centro urbano do norte de Moçambique, há avanços significativos e, segundo Ilídio Khossa, “estas acções, tanto o reajuste, assim como algumas tomas que foram construídas e os fontanários móveis que estão sendo abastecidos, conseguiram, ao todo, regularizar os serviços de abastecimento de água aos níveis anteriores que eram críticos. Neste momento, estamos a captar entre 18 à 20 mil metros cúbicos por dia. Isto permite que, pelo menos, quase todos os dias, nas últimas 48h, satisfazer as necessidades da nossa população”.

“Entendemos que as medidas que estamos a tomar ainda não são suficientes para declararmos que a situação está extinta, mas do cenário que tínhamos hoje permite-nos afirmar que estamos no melhor momento. Também, isto tem a ver com grande contribuição da população, a organização que se teve nos bairros onde temos fontanários moveis e a população definiu os horários de funcionamento”, reconhece o nosso interlocutor, por isso “o FIPAG vai continuar a desenvolver acções duradoiras que permitem que situações como estas no futuro não sejam tão graves quanto hoje. Com isso continuaremos a trabalhar em Namiteca e noutras fontes seguras”.

Mesmo com os seis furos, a fonte reconhece que a capacidade instalada é insuficiente para “resolver a falta de água. A principal fonte, até agora, segura e sustentável é essa da barragem de Nampula”.

Para a resolução definitiva do problema de abastecimento de água a cidade de Nampula, Khossa avança que é uma “acção combinada”, e que a “fonte de Nampula já está esgotada há muito tempo. Quando esta fonte está em pleno armazenamento e não há recarga a montante, se nós mantivermos os níveis de captação só dá para funcionar 3 meses. Se essa água chegou até este momento tivemos de fazer reajustes e restrições para que ela pode-se prolongar mais 150 dias para além do período normal de operação”.

“O sector está a mobilizar investimentos para construir mais barragens, como é o caso de Meluli e por aí fora. São soluções que poderão levar, por aí, mais de cinco anos. Não são soluções imediatas”, referiu o director dos Serviços Centrais de Operações no FIPAG central.

Barragem apenas está a 30%

De acordo com o director da Administração Regional de Águas – Norte (ARA – Norte), Carlitos Omar, actualmente, e com as chuvas que se fizeram no corrente mês de Janeiro, a barragem passou de 22% para perto de 30% na sua capacidade de armazenagem.

Carlitos Omar – Director da ARA Norte

“Em relação a barragem de Nampula devo dizer que continua a apresentar níveis baixos. Como sabem, em Dezembro foi o mês que a barragem atingiu o nível mais crítico, 22%, como resultado de precipitações muito baixas. Ao nível da bacia de Monapo tivemos uma precipitação em volta de 43% que é uma precipitação muito baixa para este período”, disse a fonte, concluindo que “em Janeiro tivemos uma precipitação de 53%, e isto fez com que a albufeira começasse a recuperar paulatinamente. Não de uma forma satisfatória, mas já recuperamos e saímos dos 22% e agora estamos aos 30%. Isso encoraja-nos”.

As previsões meteorológicas

Alberto Colarinho é o delegado do Instituto Nacional de Meteorologia (INAM), e na colectiva de imprensa conjunta realizada na manhã desta segunda-feira (11), na barragem de Nampula, disse que “em termos de previsão, como todos sabemos, estamos na época chuvosa e que a previsão sazonal preconiza para este período, de Janeiro até Março, ocorrência de chuvas normal para chuvas acima do normal, principalmente para os distritos do interior da província de Nampula”.

Neste momento, prosseguiu esta fonte entendida em matérias meteorológicas, que “em termos de horizonte de chuvas para esta época que vai até Março, nós ainda esperamos que ocorram normais. Obviamente que para o Dezembro (2020) tivemos deficit de precipitação em relação aquilo que é o normal da província de Nampula. Nos primeiros dias do mês de Janeiro tivemos cerca de 25 milímetros, que é muito abaixo daquilo que nós podemos ter. Só para poderem comparar, neste mesmo período em 2019, nos primeiros 10 dias de Janeiro ocorreu precipitação de cerca de 150 milímetros, que é muito acima daquilo que estamos a presenciar”.

Alberto Colarinho, Delegado do INAM Nampula

Colarinho encontra uma explicação óbvia para a ausência de precipitação no momento apropriado, e assegura que “há influencia de mudanças climáticas sobre a nossa província, e elas vão se reflectindo com irregularidade de chuvas”.

Ainda no meio dessa crise, a fonte reconhece que “temos situações a melhorar nos distritos de Ribáuè, Malema, Lalaua Eráti, que são distritos acima do rio Monapo, que é aquele que é o epicentro de abastecimento de água na cidade de Nampula”, e que “estamos à espera da ocorrência de chuvas esporádicas, portanto, moderadas em alguns distritos, incluindo a cidade de Nampula. Vão ocorrendo precipitações com alguma naturalidade, mas que ainda são insuficientes para aquilo que pode ser a necessidade hídrica para a cidade, tanto para a província”.

“Nos próximos 7 dias esperamos a ocorrência de algumas precipitações, incluindo trovadas no parâmetro de 0 a 20 milímetros”, prevê o INAM. (Aunício da Silva)

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