Crise de água rejuvenesce o velho problema da desonestidade em Nampula

  • Um recipiente de 20 litros chega a custar até 20,00Mt (vinte meticais).

Nampula (IKWELI) – A crise de água para o consumo humano na cidade de Nampula, no norte do país, está a abrir espaço para a prática de actos desonestos, por parte de quem detêm ainda de alguma quantidade do precioso líquido.

Um recipiente que, outrora, custava 2,00mt (dois meticais) está, em muitos locais, a ser vendido ao preço que varia de 10,00mt (dez meticais) a 15,00Mt (quinze meticais), dependendo da demanda.

A estrutura organizacional das famílias está desfeitas. Muito tempo as pessoas andam atrás de água, uma situação que fustiga a todos, incluindo altos dirigentes do estado, sobretudo directores provinciais.

“As dificuldades que enfrentamos nessa luta são enormes. É normal, actualmente, acordar às 02:00h da madrugada a procura de água e regressar à casa pelas 16:00 horas. Mesmo assim, conseguimos a água, mas com muita dificuldade e em quantidade reduzida. Muitas vezes conseguimos água do poço, suja e que usamos para lavar roupa, cozinhar e tomar banho”, disse ao Ikweli a senhora Giselda Alfredo, residente do bairro Mutauanha.

Num outro desenvolvimento, Giselda queixa-se da especulação de preços. “Aqui a situação de preços é muito triste. Para água do poço, nós compramos a 7,00Mt (sete meticais) ou 10,00Mt (dez meticais) por cada 20 litros, e para a da torneira pagamos por 20,00Mt (vinte meticais), mas há outros que vendem a 15,00Mt (quinze meticais) ou mesmo 10,00Mt (dez meticais), o que nos conforta”.

Uma outra moradora de Mutauanha entrevistada pelo Ikweli é a senhora Estefânia António, a qual sabe que “há muita procura de água ultimamente, o que faz com que em algumas casas haja enchente de pessoas, crianças, homens e mulheres que sempre madrugam [acordam pela madrugada] para ter água. Antes eu vendia a 3,00Mt (três meticais) cada balde de 20 litros”.

Já no bairro de Murrapaniua, a procura, também, é maior e os preços são similares ao de Mutauanha. Celita Invasse, residente na zona do Waresta vê a situação com muita preocupação e não tem esperança em uma solução imediata. “Esta situação está a piorar com estes valores”, disse, para depois questionar “como é que os que não têm dinheiro vão sobreviver?”, e responde-se que “estamos a pedir a estes donos dos poços e torneiras para que não se aproveitem do caso, pelo menos pensem que todos precisamos de água e não temos as mesmas condições”.

Os residentes do mais populoso bairro do país, Namicopo, são obrigados a caminharem até a Estacão de Bombagem Número 2 (EB2) do Fundo do Investimento e Património de Abastecimento de Água (FIPAG), a fim de conseguir algumas gotas do precioso líquido. E a distância entre ambos pontos é superior há dez quilómetros.

Zinha Amade anota que “não temos como, porque lá pelo menos a pessoa consegue água, apesar de sairmos de manhã e voltar a tarde, é a situação que temos, não há escolha. Os poços que confiávamos já estão secos, até o rio Namicopo onde fazíamos algumas covas para tirar água já não sai nada. A única solução disso tudo é rezarmos para chover muito e termos essa água, porque se não chover nem lá onde vamos buscar não vai existir e até a essa altura não sei onde vamos parar”. (Alfredo Célia e Esmeraldo Boquisse)

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