Mulheres em Nampula exigem clareza nas políticas desportivas governativas

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Nampula (IKWELI) – As mulheres desportistas na província de Nampula, no norte de Moçambique, consideram que as políticas do governo moçambicano ainda não se fazem sentir grandemente no desporto nacional, em particular no feminino, o que contribui para que muitas atletas abandonem, prematuramente, as práticas desportivas.

Para as desportistas em Nampula, muitas meninas viram o seu sonho de actuar em grandes palcos desportivos, nacionais e mundiais, interrompido precocemente e correram para a vida marital, por conta dos erros grosseiros e sistemáticos presentes na gestão do desporto no país que não permitem o acompanhamento das atletas com talento, previamente descoberto.

“O que acontece é que o talento é descoberto nas classes iniciais, mas basta essa rapariga ir para o ensino superior acaba se perdendo, porque algumas universidades no nosso país não movimentam o desporto”, observou Juliana Mochiguere, praticante de voleibol, acrescentando, também, que “a falta de formação e capacitação dos próprios treinadores para dar o acompanhamento das mulheres, porque o que temos notado aqui em Moçambique, em particular na província de Nampula é que logo a primeira gravidez a mulher deixa de praticar as actividades desportivas, porque pensa que a sua vida atlética termina por ali. Então, é necessário que os treinadores sejam capacitados para dar o devido acompanhamento as mulheres nas diferentes fases que atravessam na vida, ensinando a elas que a vida de uma atleta não termina só por conta de uma gravidez”.

“Se queremos envolver a mulher no desporto, temos que ter paciência e acompanhamento porque, ao contrário, a primeira gravidez a atleta desaparece”, reiterou Juliana Mochiguere, dando exemplo da Samira, uma das melhoras jogadoras de futebol feminino da actualidade, como a que merece um devido acompanhamento, neste momento, profetizando que “por essa falta de acompanhamento, daqui a pouco elas podem engravidar e estarem na lista de talentos nacionais perdidos”.

Para Sofia Josefa Mustafa, outra desportista, é necessário que as pessoas deixem a consciência egoísta que reina, sobretudo nos dirigentes desportivos nacionais, e que o desporto seja apoiado a partir da base, não o contrário. “Os problemas que enfermam o desporto no nosso país é a consciência egoísta dos nossos dirigentes, por isso essa consciência egoísta deve ser eliminado no desporto moçambicano”, disse a fonte, para quem “no nosso desporto não deve haver opressores nem oprimidos”.

Por seu turno, Cândida Chirindza, praticante de basquetebol, disse ter chegado o tempo de o governo actuar, activamente, com as comunidades moçambicanas para desactivar as questões sociais, culturais e antropológicas, com quem alguns pais e encarregados de educação se socorrem para impedir as meninas a envolverem-se, massivamente, na prática das actividades desportivas.

“Em Nampula é difícil fazer o desporto feminino, particularmente, os pais e encarregados de educação proíbem suas filhas a irem aos treinos, porque para eles, as meninas não acrescentam valor na família com a prática do desporto, eles exigem ganhos imediato”, disse Chirindza que, também, é treinadora de basquetebol.

Aliás, de acordo com as mulheres em Nampula, é necessário que nas comunidades sejam levados a cabo campanhas de sensibilização para que as comunidades ganhem a consciência desportiva, despertando a importância do desporto logo na tenra idade.

Essas constatações foram feitas durante um seminário sobre mulher e desportoque teve lugar nesta quinta-feira (12) na cidade de Nampula, promovido pelo Comité Olímpio de Moçambique.

O referido seminário, de acordo com Gabriel Nguenha, coordenador adjunto do Comité Olímpico (CO) de Moçambique, enquadra-se nos vários pilares que a agremiação tem para a participação da mulher no país, desde os níveis de acesso a prática do desporto até ao alto rendimento, bem como a participação da mulher no dirigismo, nos processos de tomada de decisão.

“Estamos cientes que os problemas são gerais, mas também temos os problemas particulares, no contexto local. Foi bom porque a interacção foi maior, e cada uma das participantes falou dos problemas que vivem no seu dia-a-dia e, parte desses problemas, poderemos encontrar algumas linhas para minimizar, para de facto termos um trabalho mais saudável, mais significante, com resultados desportivos que sejam motivadores, também para as próprias mulheres que participam nos processos de tomada de decisão, claro que não estamos a trazer soluções”, disse Gabriel Nguenha em exclusivo para o Ikweli.

“O que constamos é que as dificuldades existem, pelo que, essas dificuldades podem muito bem, parte delas, serem eliminadas, obviamente com a participação de todos. Não vai ser só o COque vai resolver todos os problemas, mas o mais importante é reconhecermos os problemas que temos localmente porque nos permitem, de forma clara, propor desafios contextualizados”, precisou a fonte. (Constantino Henriques)

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