Perto de 20 garimpeiros ilegais morrem soterrados a procura de ouro em Namaita

Nampula (IKWELI) – Cerca de 20 garimpeiros, na sua maioria jovens, perderam a vida na madrugada da última terça-feira (13) devido a fúria das águas do rio Meluli, nas comunidades de Natchetche e Nacuaho, no posto administrativo de Namaita, distrito de Rapale na província de Nampula, norte de Moçambique, por onde desde Setembro do ano em curso se dedicavam a extracção de ouro, um dos metais mais valiosos no mundo.

O Ikweli na sua edição electrónica número 535, publicado a 21 de Setembro do ano em curso, advertiu sobre a alegada descoberta do ouro no leito do rio Meluli e que, por conta disso, arrastava muitas pessoas, maior incidência para a camada jovem, que apontavam o local como o único para apagar as magoas provocadas pela pobreza acelerada pelo elevado índice de desemprego. Até ao dia do incidente, estima-se que mais de 400 garimpeiros ilegais estivessem fixados no referido minério, provenientes, maioritariamente, do distrito de Mogovolas.

No entanto, a madrugada da última terça-feira (13) viria a trágica para aquele grupo de jovens e para a história das comunidades de Natchetche e Nacuaho em Namaita, porque segundo apuramos, a fúria da corrente de água que inundou o rio Meluli arrastou um número indeterminado daqueles garimpeiros, sendo que cerca de 20 pessoas perderam a vida.

Segundo fontes no local do incidente, tudo começou quando parte dos garimpeiros decidiu dormir nas grutas localizadas sobre o leito do rio, como forma de evitar molhas provocadas pelo chuvisco que se fazia sentir durante a noite do dia anterior ao incidente. Na verdade, segundo as nossas fontes, localmente não chovia com grande intensidade pelo que as vitimas não encontraram motivo de desconfiança em recorrer aquele refúgio, dado que o leito do rio Meluli estava seco na altura. Aliás, segundo recordam, nunca antes teria chovido daquela forma em pleno mês de Outubro.

Em conformidade com os nossos interlocutores, a água que atingiu os níveis jamais vistos no rio Meluli, veio das regiões circunvizinhas onde, segundo fontes oficiais, em cinco horas a chuva caiu em 117 mm (117 milímetros).

Segundo Joaquim Eduardo, garimpeiro sobrevivente, “isto aconteceu porque não víamos onde dormir, porque a colômbia [designação dos abrigos dos garimpeiros ilegais] não está coberta, então quando começou a chover e como era noite, nós decidimos entrar nas cavernas para não apanharmos molha. Dali esquecemos e dormimos até por volta das zero horas, quando começou o aparecimento da água, e na altura estávamos com muito sono. Então, o tempo que acordamos ficamos sem norte, é dali que outros foram arrastados e mortos, e outros contraíram ferimentos graves”.

No posto administrativo de Namaita, concretamente nos povoados de Nacuaho e Natchetche, onde corre o rio Meluli, é dominado por montanhas, fazendo com que o seu leito seja dominado, inclusive, por pedras de diferentes dimensões e formatos. Aliás, aponta-se as principais razões que ditou na morte daqueles cidadãos, o excesso de pedras ao longo do rio.

Até ao meio dia desta quarta-feira (14) as autoridades governamentais, tanto do nível distrital assim como provincial, ainda não tinham o número harmonizado das vítimas daquele incidente, sendo que uma parte fala de 13 mortos e a outra parte de 16. Entretanto, nossas fontes que integram as equipas de resgate estimam em 20 o número de vítimas mortais, e prevê-se que ainda existam mais corpos por baixo das águas correntes daquele rio.

Joaquim Mário, líder comunitário no povoado de Nacuaho, disse lamentar o sucedido. A nossa reportagem recorda que antes do incidente terá alertado ao governo local sobre a existência daquele grupo, mas que nada foi intervencionado. “Tentei sensibilizar o grupo, mas não nos entendíamos, por isso canalizei o caso nas instâncias superiores do nosso posto, e lá haviam dito que viriam ter o encontro nesta quarta – feira (14) só que antes disso aconteceu este incidente”, disse Joaquim Mário, para quem “as pessoas foram arrastadas pela água, então de novo comuniquei sobre este acontecimento, e até neste momento estamos a recuperar corpos de pessoas sem vida ao longo deste rio”.

“É muito triste o que aconteceu. Em princípio as buscas não terminam por aqui, os líderes comunitários junto com as estruturas locais vão continuar, porque como sabem é um rio grande e com água corrente, portanto, temos esta situação que, infelizmente, aconteceu depois de vários apelos que nós tínhamos feito, porque esta situação vem, sensivelmente, há um mês. Infelizmente, a primeira sensibilização não foi acatada, tivemos a segunda e a terceira vez viemos desactivar aquilo que era o acampamento deles”, disse Adelino Afonso Manuel, director dos Serviços Distritais das actividades económicas de Rapale, acrescentando que depois da referida desactivação do acampamento inicial “mudaram-se do local e nós íamos monitorizando a situação só que, o que não sabíamos era de que foram mais a montante do rio e foram-se esconder atrás da montanha e continuaram a fazer o trabalho às escondidas ”.

Situação complexa para todos

Adelino Afonso Manuel, director dos Serviços Distritais das Actividades Económicas de Rapale, confirmou a ocorrência do ouro ao longo do leito do rio Meluli. “Sim, confirmamos, o que não confirmamos são as quantidades, mas confirmamos a ocorrência de ouro ao longo do leito do rio Meluli, e isso cabe a Direcção Provincial dos Recursos Minerais e Energia, encontrar alguém que possa fazer prospecção para tentar determinar quais são as quantidades do ouro existente e, em passo disso, pode-se passar aos passos subsequentes, talvez licenciar-se alguém ou não. Nesse momento é prematuro dizer o que vai acontecer”.

Por seu turno, Adelto Augusto Cumbana, inspector chefe na Direcção Provincial dos Recursos Minerais e Energia (DPRME) de Nampula, também, confirmou a existência do minério de ouro no rio Meluli, em Namaita, mas olhando as condições existentes no local, influenciado com o incidente adiantou a possibilidade de se encerrar a referida mina.

“A ocorrência de ouro está mais que provada. As pessoas iam fazendo este trabalho porque iam captando algum ouro, e veja que depois de abandonar o primeiro local onde desactivamos, eles foram subindo o rio e iam fazendo a mineração”, disse a fonte, para quem “o que tem acontecido noutros locais nós avaliamos as condições da área para, exactamente, aconselharmos as comunidades a se legalizarem para poderem fazer uma actividade legal, e neste tipo de actividade não existem condições, porque, primeiro é no leito do rio, para além dos danos ambientais que são causados pelo rio, não há segurança para o próprio garimpeiro, uma situação dessas já prevíamos, e é por isso que quando sabemos disso nem demos passos para falar sobre a possibilidade de legalizar a actividade e, a única coisa que dissemos é que nunca devia ser feita aquela actividade ao longo do rio, não temos condições para legalizar essa actividade, vamos lutando com eles para que sempre que nos apercebemos que estão a fazer, termos que desactivar”.

De referir que, relacionado a essa proibição, a equipa de inspectores na DPRME de Nampula ateou fogo as cabanas dos garimpeiros, vulgo Colômbia, que tinham sido construídas nas margens do rio Meluli na zona de Nacuaho.

Outra nota não menos importante é que, apesar do incidente, nesta quarta-feira um número significativo de garimpeiros encontravam-se no local a fazer o garimpo. Quando questionamos sobre os porquês de continuarem com aquela actividade, mesmo sabendo que parte de corpos dos seus colegas não tinham sido localizados, eles disseram que “não temos como não continuarmos com este trabalho porque aqui onde estamos não temos dinheiro para garantir o nosso regresso. Assim estamos a tentar conseguir o ouro e vendermos depois voltarmos a casa”. Outros, inclusive, interpretam o incidente, como tratando-se de um acontecimento milagroso que visa o pagamento dos espíritos para autorizarem a pratica normal daquela actividade. (Constantino Henriques)

 

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