Joanesburgo (IKWELI) – A Amnistia Internacional, uma organização internacional de defesa dos direitos humanos, exige que as autoridades moçambicanas esclareçam o ataque efectuado contra os escritórios dos jornais Canalmoz e Canal de Moçambique, na cidade de Maputo, capital do país, no dia 23 de Agosto.
Em comunicado enviado a nossa redação, a organização aponta que “os efeitos propagados desse ataque vão além da repressão à liberdade de expressão e imprensa. O ataque tem inúmeras implicações econômicas e sociais. Um provedor legítimo de serviços de informação, o Canal é um componente integrado do ecossistema socioeconômico local, fornecendo meios de subsistência para 15 pessoas e agregando valor socioeconômico a montante e a jusante de sua cadeia de suprimentos e de valor. Com seu trabalho, os funcionários e contratados do Canal atendem às necessidades básicas para si, seus familiares e a população, incluindo alimentação, água, energia, educação, moradia, saúde, transporte, informação, entre outros. Além disso, com o seu imposto de renda, os funcionários e contratados do Canal fazem parte dos fluxos de receita do governo. A queima do Canal é, portanto, uma ameaça multifacetada aos direitos humanos, incluindo o direito à liberdade de expressão, o direito à liberdade de imprensa, o direito à informação e o direito ao trabalho, sem falar da sabotagem da arrecadação de receitas do governo necessária para financiar os serviços público e projetos de desenvolvimento”.
Na mesma nota de imprensa, a Amnistia Internacional aponta ainda que este caso não se pode dissociar com o serviço de investigação jornalística que Canal tem promovido desde a sua fundação e expondo as podridões governamentais, sobretudo porque “oataque ocorreu quatro dias depois de o Canal ter publicado, em 19 de agosto, um artigo investigativo sobre o que o jornal alegou ser um processo de aquisição antiético envolvendo altos funcionários do Ministério de Recursos Minerais e Energia e as elites do partido no governo”.
“O Canal tem ampla circulação e historicamente publicou artigos investigativos críticos ao governo. Nos últimos meses, o Canal esteve sob enorme pressão governamental devido ao seu trabalho jornalístico. Após a publicação da história em 19 de agosto, indivíduos simpáticos ao governo lançaram uma campanha virulenta nas redes sociais pedindo a eliminação do Canal”, recorda a nota da organização.
Igualmente, o mesmo comunicado refresca as perseguições que o jornal tem sofrido, como “em 31 de dezembro de 2019, o diretor editorial do Canal, Matias Guente, escapou de uma tentativa de sequestro em que três homens armados não identificados tentaram forçá-lo a entrar em seu veículo no bairro do Alto Maé, em Maputo, atrás da base militar da Avenida 24 de Julho. Na briga, os homens agrediram e feriram Guente de tal forma que ele ficou hospitalizado por vários dias. Em 18 de junho de 2020, a Procuradoria da República, acusou Guente e Fernando Veloso (diretor executivo do Canal) de “violação do sigilo de Estado” e “conspiração contra o Estado”. Estas acusações estavam relacionadas com o artigo do Canal, publicado a 11 de março de 2020, expondo um alegado contrato secreto ilegal entre o Ministério da Defesa, o Ministério do Interior e empresas de gás natural no distrito de Palma, província de Cabo Delgado”. (Aunício da Silva)