Por: Wilson Profirio Nicaquela
Nós temos um defeito característico, basta chegar duas ou mais vezes à escola esquecemos falar a nossa língua nativa, é normal, pois o desuso (?) da Língua 1 torna-a obsoleta.
Não quero falar de língua eu, sim. Estou falando da riqueza, quando gente tem dinheiro, destruímos as nossas origens, deixamos de comer mandioca cozida, não comemos doce de amendoim, não sentamos na esteira, não andamos a pé nem de bicicleta.
Gente quando tem dinheiro, deixa de conversar com os amigos de infância ou os mais próximos e procuramos aparentar o que na verdade não somos.
Quando temos dinheiro, não importa o valor moral que nossa família representa ao viver lá no “beco” e preferimos trazê-la para a urbe, pois já não temos tempo de ir visitá-la naquelas florestas que o nosso dinheiro e “civismo” repulsa.
Tiramos as nossas mães do continente para a zona insular, pois já não há mais espaço de desviar a roda em direcção ao sul ou norte da estrada, que nos leva a capital onde a nossa classe se faz sentir.
Não estou querendo falar da vida singular de ninguém, lamento do dinheiro que os filhos nativos da Ilha dispõem e com ele compram inúmeras casas de Macuthi para destruir e erguer uma casa de alvenaria.
Sumiram, somem e vão sumir as casa de Macuthi que davam a verdadeira alma nativa à Ilha de Moçambique.
Embora tenha originado das políticas segregacionistas, o Macuthi dava outra beleza natural e diferente da cidade de pedra e cal.
As casa de Macuthi estão acabando na zona insular, há quem evoque escassez do material de construção e da palha, mas pelo que testemunhei, indica haver “bons civilizados”, que compram os esconderijos dos “mais selvagens” e transformam em cidade do século XXII.
Em outras ocasiões os filhos da Ilha com muito dinheiro, regressam a casa que os viu nascer carregados de caixas enormes de cervejas que são desfeitas pelas tradicionais praias de Nankharamo (praia que tem leão) em alusão às esculturas de leões que estão atrás do Club náutico da Ilha de Moçambique. Ou, no areal…
Uns preferem regressar para promover música electrónica, cujo som acorda aos espíritos dos antepassados, que no seu regresso levam consigo mortalmente, pelo menos um nativo que o encontram consumindo drogas, características daquele ambiente.
Outros filhos voltam temporariamente a Ilha, para exibir a sua máquina (viatura de alta cilindrada) recém adquirida ou atribuída no local de trabalho e mostram, que já não são os mesmos a partir dos ralis em volta do grande monumento antes da fortaleza.
Os dias festivos, a Ilha deixa de ser o que deveria ser, mais do que beleza, ela ganha sujidade e poluição sonora. Como manter a Ilha enquanto património que é, como uma cidade ecológica e culturalmente sustentável? Eis a questão.
Quando se tem dinheiro… É complicado dar a volta de volta àquela Cidade de Macuthi na Ilha de Moçambique.
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Bem, a imagen a baixo demonstra a destruição que as casa de Macuthi estão passando na Ilha de Moçambique.