David Charti, um guarda-redes que faz a diferença

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David Charit diz que foi despedido injustamente do ferroviario de Nampula

Nampula (IKWELI) – Com 37 anos de idade, David Charti é um jogador de futebol onze que faz a diferença pelos clubes onde passa, mas o seu reconhecimento não é dos melhores e nem da proporção das contribuições que tem prestado.

O Ikweli tem estado a acompanhar o percurso deste jogador na posição guarda-redes, tanto dentro, assim como fora do país.

Há quatro épocas que Charti não milita no principal campeonato de futebol do país, o Moçambola, mas já aventurou pelas terras do Nyerere, onde militou no Ndimbua Sugar de Duara, e actualmente faz parte das apostas do Asante Clube de Nampula, a nova promessa do futebol nacional que entra para a divisão de honra da zona norte na próxima época.

O Moçambola não é novidade para o jovem atleta, entendendo que já defendeu as balizas do Ferroviário de Nampula e do Desportivo de Nacala.

Na presente época futebolística, defendendo as cores do Asante, Charti apenas sofreu 4 golos, o que lhe valeu a consagração de guarda-redes menos batido.

Natural de Nangade, um dos distritos que tem sido alvo das investidas de insurgências militares na província de Cabo Delgado, David Charti é uma miscelânea de culturas, pelo facto de ser filho de mãe moçambicana e pai tanzaniano, o que valeu a passagem da maior parte da sua infância naquelas terras vizinhas de iniciação a moçambicanidade.

Foi mesmo na Tanzânia que Charti começou a brincar com a bola e a desenvolver a sua paixão pelo futebol onze, sendo que fruto disso militou, por duas épocas, numa das melhores equipas do país.

De Duara, Charti foi “aliciado” para as terras moçambicanas, através da Associação Desportiva de Pemba e aqui as suas exibições chamaram a atenção dos melhores clubes do país, e foi o Ferroviário de Nampula que conseguiu segura-lo.

Em 2009, o Ferroviário de Nampula desceu de divisão e viu-se obrigado a disputar a poule de apuramento da região norte para que no ano de 2011 volta-se a fina flor do futebol nacional, e com isso a máquina devia estar afinada e o nome de David Charti veio a tona.

Com garras e unhas David defendeu a baliza dos axinenes de Nampula, ao que lhes valeu o regresso ao campeonato nacional de futebol da primeira divisão.

“Cheguei no Ferroviário de Nampula naquele tempo em que éramos treinados por Zainadine Mulungo. Comecei a treinar sem se quer ter a autorização do mister Macoca, que era o treinador dos guarda-redes. Eu era titular e fiz quase todos jogos até a grande final que tivemos em Quelimane, com o Ferroviário de Nacala, onde vencemos por 3-1 e apuramos para o Moçambola. Foi um ano em que mesmo eu estando doente tinha que vacinar para jogar. Eu fiz muito para o Ferroviário de Nampula”, recorda-se o guarda-redes.

Ora, após qualificar a equipa para o Moçambola, David conta que as suas expectativas foram defraudadas, porque em várias jornadas assistiu os jogos no banco de suplentes, e outras vezes fora da convocatória por opção do mister Mussá Ósman que acabara de assumir o comando técnico dos locomotivas.

Apesar disso, o nosso interlocutor recorda que nunca desanimou pelo que ia desenvolvendo, intensivamente, os trabalhos de treinamento como terceiro guarda-redes.

“As vezes, eu não viajava e outras não. Quando a equipa fosse a Beira, eu ficava em Nampula. Eu ficava chateado, mesmo assim continuei a trabalhar porque eu conhecia as minhas qualidades no futebol, para além de que tinha mais um ano de contrato com o clube Ferroviário de Nampula, não tinha como sair”, disse o nosso entrevistado, para depois acrescentar que “as coisas começaram a não andar bem para a equipa e houve mudanças, inclusive a equipa técnica chefiada por Ósman e veio o treinador Alex Alves. Daí comecei a mostrar minhas qualidades e passei a jogar quase todos os jogos e a equipa melhorou a classificação, depois veio um outro bom  guarda-redes, o brasileiro Caio, com quem tive boas relações. Ele ganhou a titularidade quando fiquei lesionado, não fiquei chateado porque ele, também, era mesmo bom”.

Despedimento Injusto

Depois de várias épocas como titular na baliza dos axinenes de Nampula, mesmo na era do técnico português Rogério Gonçalves, David contou ao Ikweli que em 2014 chegou-lhe a notícia da sua desligação com o Ferroviário de Nampula, casa onde tinha muita paixão.

A precipitada desvinculação do David ao Ferroviário de Nampula, segundo ele mesmo, deveu-se a uma derrota sofrida diante do Chingale de Tete, por uma bola sem resposta.

“No meio da época, eu tinha problemas de saúde. Sempre saia frúnculos no meu corpo. Naquele tempo o nosso massagista, o senhor Eusébio sabia da minha situação e ele tranquilizou-me que ia tratar da situação. Então, alguns jogos não estavam no meu nível porque jogava encomodado. Tivemos um jogo com o Chingale, se a memória não me traí, nessa partida eu não queria jogar e informei ao nosso massagista que eu não devia jogar, mas ele disse que não havia como não jogar e que iria exprimir o frúnculo e alinhar na partida”, conta Charti, para depois prosseguir que “não tinha como. Ele deu-me penso e entrei na baliza e quase no fim, o Zé do Chingale, grande jogador, rematou fora da área e a bola passou lá no ângulo. Viajei para lá, mas a bola entrou para o golo e perdemos o jogo. Fui para casa, mas com muita agitação dos adeptos porque não sabiam o que estava se passar comigo. No dia seguinte veio alguém da direcção a me dizer que não devia mais chegar ao campo, eu fiquei indignado, mas não havia como”.

Novos horizontes

Na época seguinte, a sorte veio bater a porta do jogador para representar o Desportivo de Nacala. Na cidade portuária, o jogador actuou apenas duas temporadas porque o terceiro ano acabou se despedindo do clube uma vez que apresentava-se com constantes problemas no ombro devido a uma lesão que teria contraído num dos jogos.

“Em Nacala é difícil trabalhar quando não está a cem por cento, e eu não estava a treinar num bom nível. Então, o público começou a gritar dizendo que David já estava acabado e muita história.   Na pré-época me senti que não estava bem, e porque estava em Nacala, onde as exigências dos adeptos são maiores, achei que devia sair, e um dia fui ter com o presidente Munir manifestando a minha intenção de sair e ele disse que não era problema. Dali pendurei as botas”, conta o guarda-redes.

Começar do pouco e chegar longe

Com tudo aparentemente perdido, David decidiu recomeçar a sua carreira, através de uma oportunidade concedida pelo Asante Clube de Nampula, uma formação que sagrou-se campeã do campeonato provincial de Futebol, Nampulense 2019.

Em 2020, Charti vai representar a província, com o seu clube, na 2ª Divisão Zona norte, e um bom resultado pode ditar o seu regresso ao Moçambola.

No campeonato provincial, da 3ª divisão, Charti correu em 90% das partidas e teve um bom desempenho, o que encoraja a direcção do clube a mantê-lo.

Mercê da sua boa actuação, nada melhor que um guarda-redes menos batido fosse o título a lhe valer.

“Provincial para mim, neste momento, penso que não representa o meu nível. A minha qualidade é mesmo para jogar no Moçambola e eu sinto isso. O que falta, neste momento, é oportunidade porque vejo que quando o jogador fica mais velho fica mais melhor na baliza, estamos a ver o Bufon na Juventus da Itália. Quando fui chamado pelo Laly, presidente do Asante Sport Clube de Nampula, o plano era de identificar os jovens talentos, mas estou a ver que os putos não estão a corresponder. Há falta de seriedade nos jovens daqui em Nampula”, gaba-se Charti. (Constantino Henriques)

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