Nampula (IKWELI) – Passadas 24 horas após o encerramento das urnas e o início do processo de contagem dos votos, no âmbito das eleições gerais e para as assembleias provinciais ontem realizadas, o rescaldo que se faz no maior círculo eleitoral do país, Nampula, não é dos melhores.
Há registo de mortes e de detidos justa e injustamente, dependendo do ângulo dos interesses na análise do contexto e da situação, incluindo suspeitas de enchimento de urnas a favor de determinado candidato e partido. Disso há relato de cidadãos detidos na posse de boletins pré-votados na cidade de Nampula, Ilha de Moçambique e Angoche.
A Sala da Paz, uma plataforma conjunta de observação eleitoral, convocou a imprensa na manhã desta quarta-feira (16) para informar que os seus observadores registaram pelo menos duas mortes, vítimas de baleamento protagonizado por agentes da Polícia da República de Moçambique (PRM). As tragédias foram registadas nos concelhos autárquicos de Nacala-Porto e Angoche, sendo que no primeiro caso, o acto foi registado na Escola Secundária São Vicente.
A PRM, através do seu porta-voz no comando provincial de Nampula, Zacarias Nacute, confirmou estas ocorrências, incluindo a detenção de 22 indivíduos indiciados de perturbação da ordem pública e da prática de ilícitos eleitorais.
Esta fonte policial nega o baleamento mortal registado em Nacala-Porto, mas confirmou o caso de Angoche, ainda que haja evidências sobre o caso ocorrido no mais importante entreposto comercial do norte do país.
“Ao nível do distrito de Nacala-Porto não tivemos dados de mortes, tivemos sim cinco detidos em conexão com a perturbação da ordem pública que se verificou durante a contagem de votos, mas não existiram vítimas humanas. Tivemos um registo [de morte] em Angoche onde um indivíduo, no processo ainda de votação, tentou arrancar uma arma de fogo a um agente da polícia e sem sucesso acabou sendo alvejado, uma vez que os outros membros da Polícia tiveram que intervir para garantir que este instrumento não se mantivesse em mãos alheias”, precisou Nacute, para quem, “num cômputo geral, o processo de votação decorreu sem sobressaltos”. Na óptica da polícia, tudo correu bem na votação de 15 de Outubro.
Nacute refutou-se a comentar os vários assuntos ocorridos durante o dia de ontem, incluindo os casos em que as vítimas foram agentes policiais. Por exemplo, o baleamento entre colegas em Angoche e o auto-baleamento registado na Escola Primária de Muegane, nos arredores da cidade de Nampula. Em Muegane, um agente policial que tentava dispersar eleitores baleou-se sozinho, dando-se três tiros no pé.
A Sala da Paz insiste que houve duas mortes e que as eleições não decorreram num ambiente de cordialidade e muito menos pacífico, bastante reparar o exibicionismo policial que ditou a retirada dos seus quartéis parte significante dos seus meios circulantes, incluindo blindados e carros de assalto/combate militar.
“Morte existiu [em Nacala-Porto], sim, mas a ser verdade a maneira como ouvimos, achamos que é muito triste num país democrático como o nosso, onde a polícia nós achávamos que seria a nossa segurança, por pagarmos e treinarmos com os nossos impostos para nos proteger, é ela que depois vira-se contra nós”, disse António Mutoua, presidente da Sala da Paz em Nampula.
Segundo Mutoua, “estas foram as piores eleições que eu assisti aqui em Moçambique. De liberdade não tem nada e muito menos de justiça. Então, vamos esperar o resultado [definitivo] para falarmos da transparência. Mas, nós como moçambicanos, deixa-nos a desejar. O epicentro dessa confusão em Moçambique é a Comissão Nacional de Eleições e do STAE”. (Sitoi Lutxeque)